Tem que trabalhar e cuidar do filho? Coworking para pais pode ser a solução
Desde que a especialista em marketing Dani Junco resolveu, há três anos, criar a aceleradora de negócios de mulheres que vivenciaram a maternidade B2Mamy, ela percebeu duas coisas. A primeira: mães que têm seus próprios negócios são solitárias. A segunda: "Por causa dessa solidão e dos sentimentos que a acompanhavam, como tristeza e até depressão, ao saírem de nossos programas e começarem a empreender sozinhas, o faturamento delas caía até 40%", diz Dani.
Ficou claro para ela que ficar em casa cuidando dos filhos e tentando dedicar-se à própria empresa não funciona para grande parte das mulheres. "Notamos então que fazia sentido ter um local em que elas pudessem estar em contato com outras pessoas e trocar ideias e conhecimentos, mas no qual o filho fosse bem-vindo e a logística ajudasse."
A solução saiu do papel na semana passada e abre oficialmente para o público no dia 16 de setembro: a Casa B2Mamy. Instalado no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, o local virou realidade depois de um programa de financiamento coletivo, no qual Dani Junco arrecadou R$ 185 mil. É, na prática, um coworking para pais e filhos, embora a empresária ache que o termo reduz o que é o espaço.
"A ideia é que a casa funcione no contraturno escolar com atividades para as crianças e no qual as mães possam trabalhar com tranquilidade, trocar figurinhas com outras pessoas na mesma situação e fazer negócios entre si", ela explica. "Mas a Casa B2Mamy também vai abrigar empresas se encaixam com o que fazemos e que queiram ter um canal para se conectar com nossa rede de mães empreendedoras."
O mercado de mães com negócios próprios vem crescendo. Segundo um estudo da Fundação Getulio Vargas de 2017, 48% das mulheres não voltam para seus empregos após terem filhos. E dados do Instituto Rede Mulheres Empreendedoras mostram que foi após a maternidade que 75% das empreendedoras decidiram abrir suas empresas -na classe C, são 83%.
Além da demissão de seus empregos formais, isso acontece por outros motivos: mães que não querem colocar seus filhos pequenos em tempo integral na creche ou na escolinha ou os altos custos de manter uma rede de apoio. "A conta não fecha quando elas calculam quanto vão gastar com escola no contraturno ou com babá e o quanto elas ganham", diz a criadora da B2Mamy.
Separados, mas juntos
Quando, no fim de 2017, a pequena Éris fez quatro meses, os designers José Octavio Stevaux Galvão e Mariana Lopes de Almeida tinham uma certeza: não queriam que ela fosse para a creche tão pequena e ficasse tanto tempo longe deles.
O casal decidiu que um deles pediria demissão. Como Mariana estava num momento melhor da carreira, Octavio optou por cuidar da filha. Ao conversar com a chefe, ouviu dela que poderia trabalhar de casa. Adorou a ideia, mas surgiu outra questão: como fazer isso e, ao mesmo tempo, dar ao bebê atenção?
O Hugspot apareceu como solução. O espaço, que funciona num casarão também em Pinheiros, foi aberto em abril de 2018 pelas amigas Júlia Maturana e Daniela Del Nero. "Eu já trabalhava num coworking quando engravidei. E ficava pensando: 'Como vou fazer para voltar ao escritório com um bebê'?", conta Júlia.
Chamou Daniela, sócia dela em outro negócio, para investir num coworking para pais e filhos. O local tem três premissas. Uma é ser um coworking com toda a infraestrutura necessária em um ambiente corporativo, com estações de trabalho e sala de reunião, entre outras facilidades. Outra é poder oferecer às crianças cuidados, desenvolvimento psicomotor e relacionamento com outras crianças. E a terceira é respeitar qualquer que seja a forma de maternar das mães que frequentam o local. "Se ela gosta de fraldas de algodão ou de que seu filho coma com as mãos, vamos acolher."
Embora haja demanda para o negócio, é difícil sustentá-lo porque mães e pais ainda não compreendem o conceito. "Num mercado novo como esse, as pessoas demoram a entender o que somos", afirma Júlia. "Muitas mães saem de ambientes corporativos e nem sabem exatamente o que é um coworking. Tanto que nossa taxa de conversão é alta. Quando as pessoas vêm até aqui, elas querem virar clientes."
Foi assim com a empreendedora Gabriela Bavay, mãe de Clarissa, 2 anos, e fundadora da Metafeminino, uma rede para ajudar mulheres que têm desejos de realização de carreira, mas não conseguem deslanchá-la. Ela teve uma gravidez supercomplicada e deu à luz sua filha prematuramente. Trabalhava na área de recursos humanos em uma empresa varejista e decidiu não voltar, porque a pediatra recomendou que Clarissa não frequentasse a escolinha até 1 ano e meio.
Mas Gabriela queria trabalhar e montar seu negócio. Foi quando descobriu o Hugspot. "Eu estava modelando minha empresa e precisava de um local em que pudesse fazer isso, mas sabendo que minha filha estaria ao lado. Em casa, com ela, eu só seria mãe", diz a empreendedora, que está lá há pouco mais de um ano.
"Ficamos perto o tempo todo. Se, por exemplo, ela não quiser comer, eu estou aqui. E, se eu precisar sair para uma reunião, posso ir tranquilamente."
No Hugspot, há entradas separadas para pais e filhos, mas uma porta conecta a área infantil (que tem sala de atividades, sala de alimentação e área de alimentação) aos escritórios (são três salas, uma copa, uma sala de reuniões e um quintal com mesa e árvore, que as crianças também podem frequentar). Os planos para usar os escritórios e os serviços para os filhos variam de R$ 420, uma vez por semana meio período, a R$ 1.999 o mês, por cinco dias na semana em período integral. Eles só aceitam crianças até 4 anos.
Em São Paulo, outros coworkings para pais e filhos não conseguiram se sustentar a longo prazo, como a Casa de Viver, que encerrou suas atividades na Vila Mariana, em fevereiro deste ano. Mas, em alguns espaços de livre brincar para contraturno escolar, como a Casa Criançando, que funciona em Moema, pais têm uma sala com estações de trabalho que podem usar enquanto os pequenos se divertem.
A empresária Luciana Motta é proprietária da Casa do Brincar, um local com atividades lúdicas infantis que incluem, além de brincadeiras livres, aulas de musicalização, culinária e yoga. Ela percebeu a demanda de pais que queriam aproveitar os horários em que seus filhos estavam lá para trabalhar.
Tentou montar um coworking para eles em uma sala no segundo andar do imóvel de 400 metros quadrados que ocupa em Pinheiros, mas, como cobrava um preço simbólico para os pais, não conseguia pagar as despesas. "Fazia mais sentido usar a sala para poder receber mais crianças", diz Luciana. "Fiz então uma parceria com um coworking aqui ao lado, o Bucc, que cobra R$ 10 a hora para as mães e pais que deixam seus filhos na Casa do Brincar."
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