Quer ser uma mãe melhor? Experimente ser mais egoísta...
Fabíola Corrêa é jornalista e, por anos, trabalhou como editora de texto, sempre sonhando ser repórter de TV. A oportunidade bateu à porta quando as filhas, Maitê e Cecília, tinham 5 e 1 ano de idade, respectivamente. Mas havia um porém: os horários de trabalho na função não são nada convencionais, sem muita rotina.
Caso Fabíola aceitasse a vaga, tudo mudaria no dia a dia com as pequenas: ela amamentaria menos e deixaria de arrumar as filhas pela manhã, por exemplo. Mesmo assim, a mãe foi. Após um começo difícil, tudo se reacomodou com a nova rotina.
"Teve dia que precisei sair de casa às 4 da manhã, com as meninas ainda dormindo. Eu também ficava triste por não estar presente e fazer o cabelo da mais velha para o balé. Mas sabia que era o momento de me priorizar. Estou feliz com esse movimento. Carreira e maternidade puderam, enfim, caminhar juntas", afirma.
A verdade, como optou Fabíola, é que ser um pouco egoísta na maternidade não faz mal algum. Ao contrário, pode ser benéfico. "É essencial que a mulher tenha tempo para realizar seus desejos e cuidar de si mesmo, para poder estar fortalecida e exercer outros papéis", pontua Melina Blanco Amarins, psicóloga e psicopedagoga da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.
Segundo a especialista, a brasileira moderna, além da atribuição materna, tem outras prioridades, tanto como esposa, profissional e mulher. "Ela acaba tendo diversas cobranças, tanto internas quanto externas, para as múltiplas funções que precisa exercer. Desta forma, é importante que tenha o equilíbrio entre esses diversos papéis, disponibilizando tempo para todas as funções", avalia.
Neusa de Faria, psicopedagoga clínica especializada em família e comportamento, acredita que assumir o egoísmo "é uma forma de demarcar limites, de reconhecer-se uma pessoa que tem desejos e necessidades".
"É o momento da mãe se reabastecer para estar bem perante a criança. Quando a mulher se enche de prazer, ao construir espaços de realizações, ao investir em si, também se sente apta para cuidar", explica.
Durante as escapadas da mãe, a criança vai assimilar as antíteses da vida: o ir e o vir, a presença e a ausência, por exemplo. "É nesse espaço que a mulher volta a se reconhecer como sujeito e, em contrapartida, as crianças vivenciam seus próprios desejos e escolhas, frustram-se e aprendem a respeitar o tempo de si e do outro. O filho aprende a ser filho com a mãe e a mãe aprende a ser mãe com o filho", defende Neusa de Faria.
Como lidar com a culpa
Diz o ditado: nasce uma mãe, nasce a culpa, 24 horas por dia, 7 dias por semana: é culpa por encontrar as amigas, por ir ao trabalho, à academia, ao salão e, até, ao médico. Melina Blanco Amarins reconhece que tal sentimento permeia as relações maternas.
"A mãe apresenta uma cobrança interna para ser a perfeita, não permitindo que nada de mau aconteça com seu filho. Desta forma, em muitos momentos que a mãe se ausenta, ela se sente culpada pelo sofrimento do mesmo, visto que o bebê e as crianças sempre a solicitam. A maternidade é caracterizada por uma doação total, mas a mãe precisa, aos poucos, se permitir doar para outros aspectos para o seu bem-estar e o do filho", defende.
Para Michelli Freitas, diretora do Instituto de Educação e Análise do Comportamento (IEAC), é preciso sempre racionalizar o processo, ou seja, lembrar que as ações em prol dela mesma e da carreira vão se reverter para a família. "Os filhos vão desfrutar de uma mãe feliz, saudável, realizada profissionalmente. E terão orgulho dessa mãe que se cuida também. Então, quando racionalizamos, passamos a nos sentir mais aliviadas", acredita.
A importância dos sonhos pessoais
Quando as mães se dedicam 100% aos filhos, perdem o senso da individualidade e bem-estar. Além disso, acabam colocando todos seus desejos, expectativas e aspirações nos descendentes. "Cria-se um senso de dependência grande deles. Além da pressão em cima dos pequenos, outro grande problema se manifesta quando eles crescem. O que fazer? Como retomar a própria vida, os próprios sonhos? As mães acabam sentindo um vazio enorme. Lembrar disso ajuda a não deixar-se de lado", defende Michelli Freitas.
Rede de apoio é essencial
Contar com a parceria de pessoas ao redor nos cuidados com a criança é essencial. Nesse grupo, entram companheiro, avós, parentes próximos, amigos e até colaboradores remunerados. Fabíola Corrêa, por exemplo, só conseguiu aproveitar a oportunidade da nova função de repórter pela ajuda do marido e da avó. "Acho que uma mamãe feliz é uma mamãe melhor. Então, faço um exercício diário para não me esquecer de mim. A maternidade também é bastante injusta, mas me esforço para torná-la menos desigual. Se o pai pensa nele pra caramba, eu também tenho que ser capaz de pensar em mim", diz.
Trabalhando a autoestima
Afastar-se para cuidar de si não significa se esquecer ou abrir mão de responsabilidades ou do interesse em cuidar do outro. Quer dizer investir em si para estar presente e bem, com autoestima em ordem. Por isso, é preciso sentir prazer em estar consigo mesma. Como consequência, surge o prazer em cuidar do outro.
Importante lembrar que não existe certo e errado, como sinaliza Melina Blanco Amarins, sobretudo em relação à carreira. "Em muitos casos, se torna um dilema para a mulher, que fica dividida entre a doação total a seu bebê e seus desejos e crescimento profissional. O momento para fazer essa transição é uma escolha da mulher. Mas é importante que consiga retomar coisas que gosta, como sair com as amigas, fazer exercícios físicos, ir ao salão de beleza, entre outros", opina a psicóloga e psicopedagoga.
A régua do autoconhecimento é que vai mostrar quando se está no caminho certo, trazendo tranquilidade. O único cuidado recomendado é perceber excessos. "É quando a ausência começa a afetar a relação dela com os filhos e marido. Em muitos momentos, os filhos sinalizam para os pais o quanto sentem a ausência deles, seja em relação a afazeres pessoais ou no contexto de trabalho. As mães precisam ficar atentas a este equilíbrio para seu bem-estar", finaliza a especialista da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.
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