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Família luta para trazer corpo de brasileira morta por namorado em Portugal

Corpo de Camila da Silva Medes, 30, foi encontrado dentro de mala em Arruda dos Vinhos, em Portugal - Arquivo Pessoal
Corpo de Camila da Silva Medes, 30, foi encontrado dentro de mala em Arruda dos Vinhos, em Portugal Imagem: Arquivo Pessoal

Natália Eiras

De Universa

08/10/2019 04h00

O pedreiro Werleis da Silva Marques, 36, está à frente de uma campanha para arrecadar dinheiro para trazer a irmã, Camila da Silva Mendes, de Arruda dos Vinhos, em Portugal, para ser enterrada em Ipatinga, no interior de Minas Gerais. O corpo da jovem, que tinha 30 anos, foi encontrado dentro de uma mala de viagem na última quarta-feira (2). De acordo com a polícia portuguesa, ela foi assassinada a facadas pelo namorado e primo de primeiro grau, Robson Mandela, 38, com quem estava se relacionando há cinco meses. "O que aconteceu com ela nem a pior pessoa do mundo merece", diz Werleis em entrevista por telefone. "Ela era tão amigável, uma pessoa extraordinária, e agora corre o risco de ser enterrada em um país onde não nasceu, como uma indigente, como se não tivesse família. É muita tristeza."

Werleis foi, na segunda-feira (7), até uma funerária em Ipatinga, onde descobriu que a família precisará desembolsar cerca de R$ 30 mil para fazer o traslado do corpo de Camila. Caso a família opte pelo sepultamento da jovem em Portugal, os custos serão de R$ 16 mil. "Mas gostaríamos que pelo menos minha mãe e um acompanhante para ela pudessem estar presentes no enterro de minha irmã", diz o pedreiro. "Essa é a nossa maior preocupação nesse momento, que a gente possa ter a oportunidade de dar um último adeus. Queremos enterrá-la como um ser humano."

"Não pudemos fazer nada"

Camila e Werleis cresceram muito próximos da casa de Robson, cujo pai é tio deles. O primo, no entanto, morava há 15 anos em Portugal, onde trabalhava com construção civil, e, por isso, eles não tinham muito contato. Há cinco meses, ele veio ao Brasil e ficou próximo de Camila. "Ela era muito meiga, falava com todo mundo, fazia amizade muito fácil", diz Werleis. O relacionamento de Camila e Robson surpreendeu a família toda. "Somos bem conservadores. A gente não aprovava o namoro porque ele era um homem que usava drogas, bebia muito", afirma o irmão. "Mas, quando ficamos sabendo, ela já estava com a passagem comprada e com planos de morar com ele na Europa. Não pudemos fazer nada."

No dia 15 de setembro, ela desembarcou em Portugal com Robson e logo encontrou um emprego como garçonete em um café. "Porém, ela descobriu que a realidade era outra. O padrão de vida de que ele tinha falado não era exatamente verdade, e eles começaram a passar necessidade", diz Werleis. O pedreiro afirma que Camila teria dito para a mãe que ela havia sido agredida por Robson. "Ela chegou a fazer um boletim de ocorrência contra ele, mas não levou para frente. Talvez por medo de ser deportada."

O motivo do assassinato ainda está sendo apurado, mas Werleis acredita que o primo cometeu o feminicídio por causa de dinheiro. Segundo conhecidos de Camila, Robson teria roubado dinheiro dela e a estava ameaçando. "Ele estava há alguns dias sem trabalho, e ela tinha economizado uma quantia para levar a filha de dez anos para morar com ela", afirma o irmão da vítima. Além disso, o primo teria muito ciúme de Camila. "Ela ainda mantinha contato com muita gente do Brasil e havia feito amigos. Ele bebia e brigava com ela por causa disso."

Robson Mandela foi preso na quinta-feira (3), pela Polícia Judiciária de Portugal. Segundo informações preliminares, o construtor teria matado Camila no quarto onde residiam, em Arruda dos Vinhos, com uma arma branca. Ele, então, teria enrolado a vítima em um lençol e colocado o corpo em uma mala, que foi abandonada a cerca de 300 metros de distância da casa dos dois. Robson teria planejado sair do país após ocultar o cadáver da namorada.

Universa entrou em contato com a assessoria de imprensa do Itamaraty, que disse, em nota, que, quando um cidadão brasileiro falece no exterior, "as embaixadas e consulados brasileiros procuram apoiar familiares com orientações gerais, expedição de documentos e também no contato com autoridades locais, especialmente para tentar facilitar trâmites". O órgão afirma, no entanto, que não há previsão legal que permita o pagamento de despesas hospitalares ou translado dos corpos pelo Governo Federal.

Sobre a prisão de Robson, Werleis diz que não está preocupado com o futuro do primo. "Temos uma morte e uma prisão dividindo a nossa família, mas a nossa prioridade agora é dar um enterro digno para minha irmã." Como o Governo não cobre os custos financeiros, a família decidiu fazer a campanha para arrecadação de dinheiro. "Nós somos pobres, estamos todos os dias tentando sobreviver. Não temos condições de arcar com as despesas, mas queremos nos despedir de Camila."