Dia das crianças: quando a criança ganha muito presente, fica mimada?
O Dia das Crianças é uma data instaurada oficialmente no Brasil em 1924. Pouco mais de dois meses depois, chega o Natal. Em comum, nessas duas celebrações os adultos têm como costume presentear as crianças. Na teoria, o costume é inofensivo. Mas há casos em que as crianças estão ganhando tanto presente (mesmo contra a vontade dos pais) que param até de valorizar os objetos. Será que tal prática pode ser uma pedra no sapato no processo educacional e contribuir para gerar filhos e filhas mimados?
Não há uma resposta exata para a pergunta. A forma como os pais encaram e conduzem a situação é que fará dela positiva ou negativa. "Em um país com tantos extremos como o Brasil, feliz a família que tem como problema a abundância e não a falta", ressalta a neuropsicóloga e mestre em psicologia do desenvolvimento Deborah Moss.
Segundo a profissional, é difícil impedir que um avô ou tia, por exemplo, presenteie a criança, porque é comum que a família queira mimar quando tem condições. "Agradar demais só será um problema se os adultos, em especial os pais, deixarem que seja assim".
Uma das estratégias está numa espécie de desapego compensatório. Por exemplo: caso seu filho ganhe um brinquedo novo, sente ao lado dele e juntos escolham um outro brinquedo antigo, em bom estado, que ele já quase não brinca, e levem para doação. Abrir espaço para o novo é necessário para que a criança consiga perceber o que tem e não apenas acumule coisas.
"É como uma plataforma de streaming — você tem tanta opção, que às vezes não consegue escolher o que assistir. O mesmo vale para uma criança que tem muitos bens materiais — ela nem saberá o que fazer com aquilo. E ao incentivar a doação, você mostra para ela o quanto ela é privilegiada de ter tanto e que na outra ponta, há muitos outros seres humanos em situação diferente e precisando de ajuda", diz.
Dependência material
Um dos possíveis medos de pais de crianças que ganham muitos presentes contra o desejo deles, está em ter um filho que se torne interesseiro. Alguém que, ao crescer, sempre esperará algo dos outros. Só que isso não vai acontecer se a relação entre quem presenteia e o menor for bem estabelecida. "A criança está em formação e aprendendo a estabelecer conexões com o outro. Um adulto não pode esperar uma cumplicidade real entre eles se não é afetuoso e compensa isso materialmente. A criança, às vezes, só quer carinho", comenta a neuropsicóloga.
Repense suas ideias
Há outra questão: lidar com a frustração de pais que não podem dar o que o filho quer constantemente. Aí cabe uma reflexão: o que me incomoda é o medo de meu filho não aprender a valorizar o que tem ou é porque eu não posso dar aquilo? Qual limite esse familiar está rompendo quando chega com presentes? "Porque essa pode ser uma chance de, caso você não tenha condições financeiras naquele momento, de contar com ajuda, direcionando os presentes que já sabe que ele ganhará para o que ele realmente precisa", sugere Déborah.
E se ainda restar medo de a criança não saber dar valor a tudo que tem, Moss tem mais uma dica: "seu filho ganhou muitos presentes, mas ali não estava o que ele realmente queria? Em vez de deixar ele abrir tudo para colocar de canto depois, proponha de levar os presentes à loja e trocar pelo que ele quer. Assim ele vai ver, por exemplo, que para comprar um brinquedo de R$ 100, é preciso dar em troca os outros dez presentes"
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