"Ouvi que tráfico está no sangue", diz empresária com confecção em presídio
"Já ouvimos de uma mulher que o tráfico estava no sangue dela, que era uma realidade em toda a família", lembra a empresária Dani Queiroga. Ela e a sócia Marcela Mafra trocaram carreiras tradicionais para, em 2017, trabalhar para reinserir à sociedade quem nasceu em realidades violentas. Assim nasceu a Libertees, marca de roupas produzidas por mulheres presas em uma penitenciária feminina de Belo Horizonte. No próximo dia 20, as criações vão ser apresentadas em uma feira de moda em Minas Gerais.
O Libertees ensina costura e oferece um salário às mulheres presas. Desse valor, parte vai para uma poupança, uma segunda parte vai para a trabalhadora e uma terceira quantia é destinada ao Estado. A cada três dias de trabalho, um dia a menos na prisão. Ao sair do sistema prisional, a mulher tem uma profissão e algum dinheiro guardado. O maquinário fica dentro do Complexo Penitenciário Estevão Pinto.
À mulher que acreditava ser destinada à criminalidade, a iniciativa ofereceu um segundo olhar sobre a própria vida. "Nós mostramos que ela era mais do que uma herança de família. Resultado: ela se tornou uma excelente costureira", conta Dani. Hoje, são oito funcionárias e quatro em treinamento. Cerca de 70 já passaram pela empresa.
A iniciativa foi possível graças à mescla de empreendedorismo social com uma política para dar mais humanidade às encarceradas. Entre 2000 e 2016, o país registrou um aumento de 455% no número de mulheres atrás das grades. Segundo relatório do Ministério da Justiça, 3 a cada 5 mulheres presas respondiam por crimes relacionados ao tráfico de drogas em 2016. São mais de 40 mil mulheres no cárcere que poderiam se dedicar uma profissão.
"É importante lembrar que no Brasil não existe a pena de prisão perpétua nem a pena de morte. Sendo assim, todos os indivíduos vão retornar para a sociedade e é dever do Estado, expresso em lei, criar oportunidades para ressocialização dessa população", explica a superintendente de Humanização do Atendimento da Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais.
Havia certo receio em levar esse pensamento adiante, claro. Marcela era bancária, e Daniela, psicopedagoga, quando começaram a projetar uma empresa dentro de um presídio. "Sempre acreditamos na marca, mas tínhamos medo de como seria a recepção. Nossa sociedade tem polos opostos de pensamento: os que acreditam que é possível mudar uma pessoa e os que não acreditam", diz.
Da escola que funciona na penitenciária surgiram os desenhos feitos pelas detentas para criar as peças. Ainda hoje, é delas também a parte criativa da marca.
Quando criada, a recepção foi positiva e a Libertees promoveu um desfile dentro do complexo penitenciário. Uma das costureiras formadas dentro da prisão é hoje funcionária fixa da marca. "Eu acredito e nós vimos que é possível trazer uma mulher de volta à sociedade", diz Dani.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.