O parceiro desvaloriza tudo que é seu? Como contornar a inveja na relação
Embora seja uma emoção universal, a inveja é incômoda. Todo mundo experimenta seu sabor amargo vem em quando, mas nem sempre consegue admitir. E invejar o par, embora pareça algo meio absurdo à primeira vista, é mais comum do que se possa imaginar.
"A inveja vem da admiração, e o amor também envolve a admiração. Por isso, há tanta dificuldade em lidar com esse sentimento numa relação", comenta Rejane Sbrissa, psicóloga clínica de São Paulo (SP).
Minando a relação
Nenhum relacionamento está imune à inveja. "Mas aqueles com paixão, admiração mútua genuína, confiança e diálogo são mais saudáveis, pois dificilmente têm algum tipo de competição para minar a harmonia", fala a psicóloga Livia Marques, do Rio de Janeiro (RJ).
A inveja pode acometer casais em que um é bem diferente do outro. Por exemplo: a mulher é extrovertida e o parceiro, tímido, ou um teve acesso a uma formação cultural maior do que o outro.
"Apesar do afeto, a pessoa invejosa deseja algo que o outro tem e que ela não tem, pode ser um determinado jeito de ser, a ousadia, o carisma", diz Joselene L. Alvim, psicóloga clínica de Presidente Prudente (SP) e especialista em Neuropsicologia pelo setor de Neurologia do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Conforme a experiência de Rejane em consultório, a inveja é, apesar disso, mais recorrente entre os parceiros parecidos, quando "a comparação fica muito óbvia, então as diferenças acabam ressaltando".
Ela foi promovida no trabalho, recebeu elogio...
Seja qual for o tipo de personalidade e temperamento dos envolvidos, fato é que determinados acontecimentos na vida do par podem gerar inveja até em quem nunca a sentiu antes.
Exemplos: um aumento ou uma promoção no trabalho, algum elogio recebido, a oportunidade de fazer uma viagem.
"Em um determinado momento na trajetória do casal as coisas podem se modificar, e é preciso sair da zona de conforto que as pessoas criam em todas as relações. Uma mudança de comportamento e/ou de visão perante a vida também pode gerar inveja. Não raro acontecem separações em casais em que um dos dois começa a fazer um trabalho de psicoterapia, de autoconhecimento", observa Rejane.
"Se algo que o outro deseja muito e ainda não conseguiu é conquistado pelo par, pode surgir a inveja. E ela, num grau extremo, leva a diminuir o valor do merecimento do parceiro", completa Ellen Moraes Senra, psicóloga especialista em terapia cognitivo-comportamental, do Rio de Janeiro (RJ).
É importante frisar que a inveja costuma dar as caras em períodos de baixa autoestima e, consequentemente, de desvalorização pessoal. "Só que dificilmente quem sente a inveja a percebe como tal. Seu discurso tende a ser convincente e ele passa a ser visto, muitas vezes, como vítima. Uma pessoa com baixa autoestima não tem confiança em si. Portanto, tem dificuldades de reconhecer o próprio potencial para atingir seus objetivos. Daí é mais fácil atribuir a 'sorte' ao outro. Ou sabotar, destruir aquilo que o outro conseguiu", pontua Joselene.
Consequências tóxicas
A sabotagem do que o outro está vivendo, mesmo que de maneira inconsciente, é a consequência tóxica da inveja numa relação amorosa. Ela pode aparecer na forma de reclamações e chantagens emocionais e, em longo prazo, conduzir ao rompimento. "Não é à toa, pois impede que o outro realize algo ou caminhe. E isso, infelizmente, pode prejudicar o relacionamento. O não saber lidar com a conquista do outro é algo que precisa ser revisto no comportamento e nas perspectivas", fala Livia.
Admitir sentir inveja é o primeiro passo para não "descontar" a frustração no parceiro, mas não dá para parar por aí. Na opinião de Ellen, depois de reconhecer e elaborar o que está sentindo é essencial abrir o jogo com o par e, juntos, tentarem entender o que gerou a inveja e qual o papel que cada um tem nisso.
"Há parceiros que costumam alimentar a inveja do outro, desvalorizando suas qualidades, ao mesmo tempo em que procuram mostrar que são melhores. É uma forma de se sobressair e um jeito disfuncional de elevar a própria autoestima", reforça Joselene.
Uma das questões mais relevantes a serem debatidas pelo casal é como a inveja vem sendo expressada.
"Ela pode ser um possível resquício de raiva ou tristeza, uma decepção com si mesmo. Por conta disso, a pessoa pode projetar na outra o fato de nunca ter conseguido algo. Nessas circunstâncias, o parceiro precisa ter empatia pelo processo que a outra pessoa vivencia dentro de si e ajudá-la a galgar além", afirma Ellen.
Investir no autoconhecimento é um passo imprescindível para reconhecer limites e potencialidades. O próximo estágio é entender que cada um tem capacidades diferentes e que isso incide nas conquistas. "Aprender com aquilo que admira no par é uma maneira produtiva de melhorar a autoestima e encontrar possibilidades para promover um avanço pessoal", diz Rejane.
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