Mães e universitárias, elas foram proibidas de frequentar aulas com filhos
No início de outubro, a estudante da Universidade Federal do ABC Nathalia Gastaldo, 26, se queixou nas redes sociais de ter se sentido constrangida em sala de aula por comentários feitos por uma professora. O motivo, segundo a universitária: levar o filho de quatro anos para as aulas. A maior surpresa veio no dia seguinte quando Nathalia recebeu um email da docente que a proibia de frequentar as atividades da matéria sem justificativa.
"Fui assistir a uma aula na qual eu sou regularmente matriculada [da grade do Bacharelado em Ciências e Humanidades]. Cheguei com meu filho, Abel, no colo, dormindo. Ele dormiu a maior parte da aula. Durante esse tempo, a professora ficou me interrogando sobre eu não ter ninguém para cuidar da criança", diz Nathalia a Universa. "O Abel foi muito educado e bonzinho. Até ofereceu o que comia para ela, que foi hostil com ele. Gerou uma situação muito desconfortável."
A aluna fazia parte de um grupo para a apresentação de um seminário, que seria o método de avaliação da aula de Bases Epistemológicas da Ciência Moderna, instituído pela docente. Mas, no dia seguinte, Nathalia foi copiada no email que a excluía da atividade. "Ela tinha meu contato, poderia ter falado comigo de outra maneira, poderia ter me dado outra forma de avaliação", diz. Por ora, Nathalia continua cursando a matéria, mas com outro professor.
O fato aconteceu no dia 8 de outubro e gerou repercussão na universidade. Em nota, a UFABC afirma que "foi realizado o acolhimento da estudante, por meio das pró-reitorias de graduação e de assuntos comunitários e políticas afirmativas" e que "repudia qualquer ato que implique a exclusão de direitos e reafirma sua posição de sempre procurar manter um ambiente no qual todas as pessoas tenham reconhecimento e amparo, dentro e fora da sala de aula".
Por meio da assessoria de imprensa, a UFABC diz que discute melhorias para a permanência de pais e mães na universidade. Também destaca que o decreto presidencial 977, de 1993, impede a implantação de creches em universidades federais. "Para minimizar o impacto da ausência de políticas públicas nesse campo, a UFABC tem trabalhado para a adequação de um espaço de apoio que acolha filhos e filhas de estudantes e servidores."
Mensagens de ódio
Um caso similar aconteceu em setembro com uma aluna do curso de Ciências Ambientais da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, na unidade de Botafogo. Ana Guinodi, 25, assistia a uma aula com a filha de dois anos, quando se retirou para acalmar a criança que estava agitada. Ao retornar, foi informada por colegas que o professor decidiu que não poderia voltar à sala. "Fico surpresa que outro caso parecido com o meu tenha ocorrido em tão pouco tempo", diz a Universa.
Por conta da rotina puxada, a aluna precisava levar a filha às aulas vez ou outra. "Senti muito desprezo por parte dele", diz Ana, que largou a disciplina e se matriculou em outra. "Conciliar maternidade e faculdade, para mim, é a tarefa mais difícil de todas. Porém, não é impossível. Graças a Deus, tenho professores que me ajudam muito."
Ela diz que recebe mensagens de ódio nas redes sociais afirmando, por exemplo, que ela deveria ter pensado antes de parir e que a culpa do ocorrido é dela. "Ser mãe foi uma escolha minha, consciente e planejada. Só que nem tudo acontece como pensamos", afirma.
A advogada civilista Gislene Valenti explica que constranger as alunas diante dos colegas e não permitir que frequentem as aulas, prejudicando a formação delas, configura dano moral e que as universitárias podem processar tanto os docentes quanto as instituições de ensino.
"Não vou mover nenhuma ação contra a professora porque vai ser muito demorado e dolorido", diz Nathalia. A intenção dela é conseguir exposição para garantir a abertura de um espaço para crianças na universidade, uma demanda do Coletivo de Pais e Mães da instituição. A reforma da sala, que vai se chamar Espaço Marielle Franco e foi iniciada pelos alunos, está parada por falta de verbas.
Ato de repúdio
Alunos da UFABC realizaram, no último dia 17, um ato de repúdio no campus de Santo André para protestar contra o que aconteceu com Nathalia. A representante do Coletivo de Mães e Pais da universidade Allana Mattos dos Santos, 29, conta que tomou conhecimento da situação por meio das redes sociais e entrou em contato com a colega. "Temos a demanda de tornar a universidade mais acolhedora para a gente e para nossos filhos. Foi unânime que precisávamos nos manifestar de alguma forma. A gente precisava cobrar da instituição uma posição a respeito disso, não só da professora", diz.
Após a repercussão do caso, Nathalia se reuniu com a reitoria da universidade. Segundo ela, foi um encontro positivo. O caso está sendo avaliado pela Ouvidoria da UFABC que o apresentou à corregedoria da universidade.
Universa entrou em contato com a professora por email, mas não obteve retorno até a conclusão desta reportagem.
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