Cabelos brancos: como encarar a transição sem medo
"Vai te envelhecer", "Nossa, está com cara de desleixada" ou "Seu marido vai te deixar?". Os comentários foram ouvidos por mulheres entrevistadas por Universa que decidiram não esconder os fios brancos -e escancaram a cobrança por uma aparência sempre jovem.
"Já usei todas as cores de tinta. Para mim o branco era horrível, um símbolo de deterioração da mulher", conta a advogada Cláudia Medeiros, 45, de Belém, que usa tintura desde os 14 anos. Ouvia na escola comentários por conta dos fios brancos, que começaram a aparecer de maneira precoce.
No ano passado, depois de conhecer alguns perfis de mulheres grisalhas no Instagram, ela decidiu que não iria mais pintar os fios. Escutou de amigos e parentes comentários desestimulantes que, segundo ela, a fortaleceram: "Quanto mais ouvia mais encorajada eu ficava. Não ia me deixar levar por aquilo, peguei firme no meu propósito."
O caso da Cláudia chama atenção pela precocidade do nascimento dos fios brancos, mas para a maioria das mulheres (e homens), eles dão ao ar da graça mais tarde. "Costuma ocorrer a partir dos 35/40 anos, mas existem casos familiares em que surgem muito antes, chamado de canície precoce", diz o dermatologista e tricologista Erick Omar, da clínica AE Skin Center, de São Paulo.
O que causa o embranquecimento é a falta de melanina, pigmento responsável pela coloração, e é parte do processo natural de envelhecimento. A cabeleireira Simone Pires, 49, dona do salão A Naturalista em São Paulo, viu os fios começarem a embranquecer por volta dos 30, mas pintava de castanho com henna. Aos 40, tentou fazer a transição e desistiu. Agora, passa pelo processo pela segunda vez.
"Na primeira tentativa, não estava tão grisalho e não gostei do resultado. Desta vez, fui deixando de passar a tintura e amei, porque está prateado. Primeiro, os fios foram ficando degradê da raiz para a ponta. Quando estava com cinco dedos de raiz branca, cortei as pontas", conta a especialista em tratamentos naturais.
Para suas clientes que decidem fazer a transição, Simone recomenda cortes frequentes e uso de tinturas naturais, que saem mais rapidamente, para aquelas que não querem uma diferença tão grande de cor no comprimento.
"Quanto mais claro estiver, menor vai ser o contraste com a raiz branca, mas no caso dos mais escuros é possível fazer mechas para ficar degradê. Também é possível fazer um planejamento e usar tinturas vegetais que desbotam aos poucos", afirma.
Para que a transição seja mais leve, ela conversa com a cliente interessada para saber mais sobre a rotina diária e até o signo. "Temos uma relação emocional com o cabelo e é preciso se sentir livre com nossa imagem."
Na prática, uma transição sem drama
Além da questão da aceitação da imagem com os brancos e de ter em mente que será preciso superar comentários e olhares alheios, fazer a transição ainda tem um ingrediente a mais: conhecer os fios brancos. Sim, afinal, eles não são iguais aos originais de fábrica.
"Eles são mais ressecados, com menor elasticidade e sem brilho, pois a perda da coloração leva a um aumento de uma proteína específica, que os torna mais ressecados e sem elasticidade", explica o tricologista Erick Omar.
O cabelo branco vai nascer mais rebelde e com mais frizz, o que significa que será preciso colocar na rotina de beleza hidratações semanais e finalizadores, como creme para pentear e protetores térmicos, para deixá-los mais fáceis de modelar e protegê-los.
"Use xampus nutritivos que contenham óleos vegetais. Para fortalecer, a sugestão é usar máscaras com aminoácidos que ajudam a aumentar a densidade do fio", diz Marcela Buchaim, farmacêutica bioquímica, proprietária do Studio Tez Spa de Cabelo, em São Paulo. A especialista também recomenda o uso de xampus "silver", que evitam o aspecto amarelado.
Encontrar o produto ideal para seu cabelo branco será uma descoberta pessoal e só tem um jeito de fazer: testando os produtos até encontrar aquele com o qual você se identifica. Estes testes capilares têm sido feitos pela secretária-executiva Elizabete Castro Antunes, de 41 anos, de Barueri (SP).
Depois de dez anos fazendo progressiva e pintando, ela resolveu fazer a transição - em dobro. "Ainda estou me acostumando a cuidar os fios brancos e a controlar o frizz dos cacheados", fala. Bete resolveu parar de usar química depois de ver o movimento das grisalhas no Instagram e no Youtube e pensou: "Se elas conseguem, por que eu não?".
Quando o branco começou a aparecer mais, ela fez o que muitas mulheres fazem, que é procurar um cabeleireiro de confiança para cortar e, assim, diminuir a diferença entre raiz e comprimento. "Fui a um cabeleireiro especialista em cacheados para cortar a seco. Mas da última vez, eu mesma que cortei as pontas", conta Bete.
Manter um corte legal pode ajudar muito neste período, além de fazer o cabelo a ganhar força. Mulheres que já usaram os fios curtinhos podem optar por um corte radical para pular uma boa parte do processo, mas isso não serve para todas.
Segundo o cabeleireiro Evandro Angelo, do salão C Kamura, de São Paulo, durante a transição, é recomendado encarar a tesoura com mais frequência: "O ideal é cortar 1 cm por mês ou 1,5 cm a cada dois meses para ir limpando a cor", fala.
Além dos cuidados com corte e hidratação, o profissional acha importante uma mudança no olhar sobre a aparência. "O branco não deve ser visto como um cabelo que deixou de ser bonito. A cor branca é uma outra cor, tão bonita como um preto ou vermelho", diz Angelo.
A artista plástica Val Lehmann, 48 anos, de São Paulo, concorda. Ela, que está com um cabelo bicolor acredita que, apesar do processo duro, existe beleza nos fios brancos.
"Vejo mulheres lindas que já concluíram o processo, me dá vontade de chegar lá e vou resistir", fala. "Eu acordei. Não sou obrigada a pintar para agradar as pessoas, quero ter a liberdade de fazer o que bem entender com minha aparência."
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