Topo

Não só vampiros: tem gente que só sente prazer no sexo se for mordido

Um mordidinha não dói? - iStock
Um mordidinha não dói? Imagem: iStock

Heloísa Noronha

Colaboração para Universa

29/10/2019 04h00

Mordiscadinhas carinhosas ou dentadas fazem parte do repertório de muita gente na hora do sexo, como forma de "provar" o outro e deixar as coisas mais intensas na cama.

"O morder pode sempre ter uma qualidade erótica, mesmo fora da atividade sexual, mas também pode trazer o significado de desejar 'incorporar' o outro, fazer parte dele, corporalmente. Isso implica num desejo de intimidade, compartilhando o mesmo espaço", diz o terapeuta sexual Oswaldo Martins Rodrigues Jr., diretor do Instituto Paulista de Sexualidade (Inpasex) e autor do livro "Parafilias - Das Perversões às Variações Sexuais" (Zagonodoni Editora). Não é à toa que os vampiros das lendas e da ficção mexem tanto com a nossa libido.

Para algumas pessoas, porém, as mordidas constituem o prato principal da transa. Elas não só tornam a experiência mais gostosa como são a peça-chave para a excitação. A odaxelagnia é, segundo especialistas, um tipo de parafilia, termo atribuído a padrões de comportamento sexual em que o prazer não está no ato em si, mas em atividades não praticadas pela maioria da população. Segundo Oswaldo, conforme a intensidade e a intenção das mordidas, a odaxelagnia pode fazer parte de comportamentos sadomasoquistas, fazendo parte da interação entre pessoas que buscam sentir ou fazer sentir dor.

"Mas existem casais que gostam da prática e não têm conexão alguma com o universo BDSM [sigla para Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo], procurando a intensidade das sensações sem a intenção da imposição", explica. "É a atitude mais dominadora e/ou submissa que faz a diferença", completa Arlete Girello Gavranic, terapeuta sexual e coordenadora do curso de pós-graduação em Educação e Terapia Sexual do Isexp (Instituto Brasileiro Interdisciplinar de Sexologia e Medicina Psicossomática).

Entre quem curte dar ou receber as mordidas para potencializar o tesão, a tendência é que a parafilia dê as caras em boa parte das transas, em maior ou menor frequência. Dor e prazer, muitas vezes, caminham de mãos dadas. Quando o casal sempre busca esse comportamento, temos uma parafilia. Quando o casal usa o comportamento ocasionalmente, o classificamos como comportamento parafílico. Assim, ser uma parafilia diz respeito à repetição desejada para que o prazer e satisfação sejam atingidos", argumenta Oswaldo.

Vale lembrar que nem sempre os dois parceiros vão estar na mesma vibe e é preciso respeitar os limites alheios. A dificuldade em acatar o desejo do outro, aliás, pode se transformar num problema quando a pessoa precisa exclusivamente da odaxelagnia para vivenciar o prazer e enfrenta problemas com a parceria. "Forçar uma situação ou insistir muito para o outro topar é sinal de desrespeito. Além do mais, se há uma necessidade incontrolável de morder ou receber mordidas a ponto de atrapalhar o sexo e outras áreas da vida, é preciso buscar tratamento com um terapeuta sexual", fala Carla Cecarello, psicóloga, sexóloga consultora do site C-Date e fundadora da ABS (Associação Brasileira de Sexualidade).

Quem pratica, seja recebendo ou dando mordidas, precisa tomar alguns cuidados. "Dentes não combinam com áreas íntimas", avisa Arlete. "Lábios, glande, freio do pênis, testículos e pequenos e grandes lábios vaginais são feitos de mucosa, tecido que rasga muito mais fácil com o serrilhado dos dentes do que a pele dos braços, das coxas e até mesmo do pescoço", afirma.

"A nossa boca é cheia de bactérias. Por isso, dependendo do machucado, pode haver risco de infecção", sinaliza Carla. Outro fator a se considerar é a exibição social das áreas do corpo que ficam expostas socialmente: difícil não chamara a atenção no escritório, por exemplo, com aquela marca arroxeada de caninos no pescoço ou no antebraço, né? "Quando os praticantes pretendem que a mordida seja mais intensa e produza mais do que uma marca roxa para os próximos dias, chegando a cortar pele, precisamos compreender que podem existir riscos de saúde, e que o casal necessita desenvolver cuidados para que diminuam problemas posteriores", alerta Oswaldo.

Importante saber que a odaxelagnia sempre tem conotação erótica. Aquele vontade louca que às vezes nós experimentamos de morder os pezinhos rechonchudos de um bebê, por exemplo, é pura e simplesmente um impulso de dificuldade em lidar com a fofura.