Após depressão, executiva cria ONG para ajudar a cuidar da saúde mental
Há cinco anos, a paulistana Isabel Marçal viveu os piores dias de sua vida. Com uma depressão profunda, ela perdeu 20 dos 62 quilos que pesava na época. Pensamentos suicidas a acompanhavam enquanto recebia ajuda da mãe para fazer coisas básicas como comer e tomar banho. Oito meses de cuidados intensivos, medicamentos fortes, muita terapia e uma viagem foram necessários para sair dessa.
Para tentar evitar que outras pessoas passem pelo que ela passou, Isabel criou, ao lado da amiga Milena Fanucchi, o Instituto Bem do Estar. "O propósito é desafiar as pessoas a mudarem seu relacionamento com a saúde mental, ajudando a prevenir doenças psicológicas e contribuindo para uma sociedade mais saudável", diz.
Segundo dados recentes da Organização Mundial da Saúde, 322 milhões de pessoas vivem com depressão no mundo -o equivalente a quase toda a população dos Estados Unidos. Além disso, cerca de 2,5 bilhões sofrem de ansiedade no planeta, ou uma em cada três pessoas. A cada 40 segundos, uma pessoa se suicida no mundo. São 800 mil pessoas por ano.
No Brasil, 18,6 milhões de pessoas sofrem de ansiedade e 11,5 milhões têm depressão.
Convivência com pessoas com distúrbios mudou perspectiva
Muitas vezes, a doença chega sem dar aviso. Foi assim com Isabel. Ela tinha uma carreira de executiva de sucesso no terceiro setor, quando, em 2013, passou por uma desilusão amorosa e começou a repensar o que estava fazendo no mundo.
"Era como se tudo tivesse ficado cinza", ela relembra. "Minha mãe teve que vir para minha casa cuidar de mim porque eu estava sem tomar banho, sem comer."
As pessoas se afastaram de Isabel porque não sabiam como lidar com a depressão em um grau tão avançado. Ela procurou psiquiatra, tomou antidepressivo, fez psicanálise e meditação, além de aulas de ioga dadas por uma das poucas amigas que se manteve ao seu lado.
Já melhor, resolveu viajar para Londres para estudar inglês e fazer trabalho voluntário. Lá, trabalhou em locais como uma instituição para pessoas com distúrbios como esquizofrenia. "Eles me ensinaram outra perspectiva da vida. Não estão muitas vezes na mesma realidade que nós e, por isso, veem as coisas com pureza, sem julgamento. O convívio com os pacientes mudou o meu olhar. O que era exatamente ser feliz?"
Essa pergunta começou a ser respondida quando, de volta ao Brasil, conheceu sua sócia, a comunicadora em multimeios Milena Fanucchi. Certo dia, Milena, que sofre de ansiedade crônica, deu para Isabel o livro "O Jeito Harvard de Ser Feliz", escrito por Shawn Achor, especialista em psicologia positiva.
"Ela me disse que eu tinha que ler aquilo, que era a prevenção da saúde da mente", diz Isabel. "Eu não acreditava naquela história de vamos pensar positivo, mas li. E me interessei muito. Tem uma coisa de desmistificar o que é felicidade. O que é? É o contrário da tristeza? Não, isso é alegria. A felicidade não é sentimento. Ela é uma habilidade, que precisa ser praticada diariamente."
Mapa da terapia gratuita
Isabel e Milena começaram a estudar tanto a psicologia positiva que, no meio do ano passado, acharam que tinham que fazer algo mais. Criaram então o Instituto Bem do Estar. O trabalho da ONG está dividido em três frentes: a conscientização das pessoas (com textos escritos por uma rede de 15 especialistas nas mais diversas áreas), o cuidado com a saúde da mente (com a criação de vivências para comunidades, escolas e empresas) e a mobilização (por meio da sugestão de mudanças em políticas públicas, que poderão ser implementadas depois de um abrangente estudo que o Bem do Estar está organizando sobre saúde da mente no Brasil).
No site do Bem do Estar —o bemdoestar.org— é possível encontrar, de forma gratuita, artigos que mostram, por exemplo, o que fazer quando se sentir ansioso, por que é tão difícil buscar ajuda quando se pensa em suicídio e como começar a fazer exercícios de meditação.
O site também mostra onde a pessoa pode procurar ajuda. A ONG mapeou a cidade de São Paulo toda para descobrir em que locais da rede privada é possível encontrar terapia gratuita. Além disso, traz uma relação com 2.341 locais públicos que trabalham com saúde mental. Segundo ela, por meio do site, o Bem do Estar impactou, até hoje, 10 mil pessoas.
Isabel, que já fez vivências-piloto de seu programa, baseado em debates e exercícios em grupo, está agora atrás de empresas que queiram trabalhar a saúde da mente de seus funcionários para elaborar planos de ação. E busca recursos no mercado para poder fazer o estudo que pretende servir como base para a elaboração de políticas públicas mais eficazes para promoção de saúde da mente.
"Quando uma pessoa passa por um problema da mente, não é só ela que é afetada, mas todo mundo em volta. Queremos desenvolver um retrato atual da saúde da mente com foco na população economicamente ativa. Anestesiamos nossos sentimentos e não falamos sobre nossas emoções. Até 2030, a depressão vai ser a doença mais incapacitante do mundo, ultrapassando acidentes. Precisamos fazer algo."
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