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Em ação contra machismo, juíza condena o feminismo por 'degradação moral'

Getty Images
Imagem: Getty Images

Carolina Marins

De Universa, em São Paulo

07/11/2019 10h27

O Ministério Público de São Paulo entrou com uma ação contra um ex-estudante de medicina que fez calouras entoarem um juramento considerado machista, misógino, sexista e pornográfico pelo MP. No entanto, na hora de proferir a decisão, a juíza discursou contra o movimento feminista e disse que o feminismo "colaborou para a degradação da moral".

Em junho deste ano, o MP entrou com uma ação civil pública por danos morais contra um ex-aluno do curso de medicina da Unifran. Segundo o processo, ele teria feito as alunas calouras entoarem um hino durante o trote universitário no qual diziam: "me reservo totalmente a vontade dos meus veteranos e prometo sempre atender aos seus desejos sexuais".

O MP considerou as expressões machistas, misóginas, sexistas e pornográficas "expondo-os à situação humilhante e opressora e ofendendo a dignidade das mulheres ao reforçar padrões perpetuadores das desigualdades de gênero e da violência contra as mulheres", e pediu uma indenização por danos morais no valor de 40 salários mínimos (R$ 39.920,00).

A juíza do caso, Adriana Gatto Martins Bonemer, julgou a ação improcedente e se manifestou contra o feminismo durante a decisão. Segundo ela, "Apesar de vulgar e imoral, o discurso do requerido não causou ofensa à alegada coletividade das mulheres, a ensejar a pretendida indenização. O requerido não se dirigiu 'às mulheres' em geral, mas àquele grupo restrito de pessoas mencionado expressamente".

Ela então disse não reconhecer a existência de "coletivo de mulheres". "A inicial retrata bem a panfletagem feminista, recheada de chavões que dominam, além da esfera cultural, as universidades brasileiras. É bom ressaltar que o movimento feminista apenas colaborou para a degradação moral que vivemos, bem exemplificada pelo 'discurso/juramento' que ora se combate".

A juíza cita diversos autores e obras em sua argumentação, entre eles, o livro "Feminismo: Perversão e Subversão" da deputada estadual Ana Carolina Campagnolo, que ficou conhecida por pedir que alunos filmassem seus professores em aula.

"Estamos vivendo a degradação moral e a subversão das identidades, de onde advém comportamentos como aquele descrito na inicial. Diante dos usos e costumes instalados na sociedade, promovidos pelo próprio movimento feminista, entender ofensivo o discurso do requerido é, no mínimo, hipocrisia", continua.

Ela terminou a argumentação questionando que se as mulheres presentes no trote eram capazes decidir por si mesmas se concordavam ou não com "a brincadeira infeliz" porque precisariam de um "ente estatal para falar em nome de uma 'coletividade' da qual, em tese, fazem parte".

Procurado por Universa, o Tribunal de Justiça de São Paulo disse que Adriana Gatto Martins Bonemer não iria se manifestar pois magistrados não podem se pronunciar "porque são vedados pela Lei Orgânica da Magistratura (Loman)". Já o MP-SP informou que a promotoria de Justiça de Franca ainda não tomou ciência da decisão.