Brasileira morta na Holanda tinha sonho de casar com noivo holandês
Patrícia de Oliveira Santos, 32, vivia o sonho de casar e ter filhos com o noivo holandês, Dennis Van E., 48. Também queria dar condições de vida melhores aos familiares que deixou em Fortaleza. O casal mantinha um relacionamento há três anos, e o holandês vinha com frequência ao Brasil encontrar a noiva, segundo familiares e amigos da cearense.
No entanto, o sonho virou tragédia. Patrícia foi encontrada morta em um apartamento na cidade de Diemen, na Holanda, junto com um bebê, também morto. Os corpos foram localizados pela polícia no dia 18 de outubro. O noivo dela está preso, e a polícia investiga se ele participou das mortes que aconteceram em circunstâncias ainda não esclarecidas.
Uma das hipóteses levantadas pela família de Patrícia é a de que ela pode ter morrido após ter sido forçada pelo noivo a abortar o filho que estava esperando.
A jovem viajou para a Holanda no fim de setembro com a promessa de que, após a temporada que passaria com o noivo, voltaria ao Brasil para se casar, já que o casal esperava um bebê. Patrícia tinha outros dois filhos, de oito e nove anos, de um relacionamento anterior e deixou as crianças com os familiares em Fortaleza.
"Aquelas roupas bonitas com que ela aparece nas fotos foram presentes dele, comprados lá na Holanda. Ele mandava dinheiro uma, duas vezes ao mês para ela. Comprou as passagens, pagou passaporte, disse que queria mostrar o país dele, que lá era muito bonito", diz a irmã de Patrícia, Fabiana Oliveira dos Santos.
Alianças e promessa de casamento
A irmã conta que Patrícia conheceu o noivo em uma praia de Fortaleza, quando ele veio passar férias no Brasil, e logo começaram a namorar. Neste ano, segundo ela, Dennis comprou as alianças e pediu Patrícia em casamento. Depois, ele foi à casa dos familiares da noiva conversar sobre as pretensões que tinha com ela.
"Minha irmã estava muito feliz e contou que o noivo prometeu que, assim que ela chegasse na Holanda, ia dar entrada nos papéis para eles se casarem. Depois, eles voltariam, em dezembro, e se casariam no religioso aqui em Fortaleza. Ela até procurou saber o que precisava para o casamento com o padre de uma igreja daqui", diz Fabiana.
"Ninguém imaginava que essa tragédia iria acontecer. Ele falava que minha irmã era o amor da vida dele e ela também dizia o mesmo."
As promessas não eram só para Patrícia. Segundo familiares, o noivo pretendia comprar um apartamento próximo à praia para morar com ela, o bebê que esperavam e os dois filhos dela. "Ela falou que ia mandar dinheiro para terminar o quarto dos meninos e comprar cama e guarda-roupa. Os meus sobrinhos ficaram ansiosos ao saber que teriam um quarto. Dennis também disse que ia terminar a construção da nossa casa", conta Fabiana.
Segundo familiares da brasileira, o holandês dizia que trabalhava em um banco, que vivia uma vida confortável e que, após se casar, iria dividir seu tempo entre o Brasil e a Holanda. Sites holandeses afirmam que ele não trabalhava e que "já tinha ganhado dinheiro suficiente para isso." Segundo a imprensa local, Van E. (o nome completo do holandês não foi divulgado) foi corretor, vendedor de seguros e de previdência privada.
Grávida de sete meses
Patrícia morava com os dois filhos, os pais, a irmã e sobrinhos em uma pequena casa, em um bairro da periferia de Fortaleza. O imóvel ainda está em construção, com paredes no tijolo e piso de chão batido. Os meninos dormem em redes, guardam as roupas em um baú e não têm televisão.
A brasileira viajou de Fortaleza para Amsterdã, na Holanda, no dia 28 de setembro, a convite do noivo. Ela estava grávida de sete meses e, segundo a família, o noivo custeou a viagem. A passagem de volta para o Brasil estava marcada para o dia 2 de dezembro, e ela disse à família que o noivo viria junto.
A família de Patrícia foi informada, oficialmente, sobre a morte dela no dia 22 de outubro pelo Consulado-Geral do Brasil em Amsterdã e, desde então, não se tem mais detalhes sobre o ocorrido. O site local Hart van Nederland relata que quatro policiais invadiram o apartamento de Van E., no dia 18 de outubro, e que a ação ocorreu por meio da varanda.
De acordo com outro site, o AD News, o Ministério Público e a polícia não repassaram detalhes sobre as investigações. Segundo o site, o holandês negou o crime e afirmou que não conhecia Patrícia. No entanto, vizinhos teriam relatado ao portal que viram o casal chegando junto ao apartamento algumas vezes e que Patrícia chegou a cumprimentá-los quando estava com Van E..
O Ministério das Relações Exteriores disse, em nota, que o Consulado-Geral do Brasil em Amsterdã acompanha o caso e que está em contato com familiares da brasileira, mas que não pode fornecer informações sobre o tema em "atendimento ao direito à privacidade dos envolvidos".
A DPU (Defensoria Pública da União) no Ceará informou que está acompanhando o caso e pedirá esclarecimentos sobre as mortes.
Noivo ciumento
Familiares e amigos afirmam que Patrícia apagou o perfil dela no Facebook logo que chegou a Holanda porque o noivo estaria com ciúmes dos contatos dela no Brasil. Além disso, também teria sido obrigada a deletar o WhatsApp.
"Ele bloqueou todo mundo e tomou o celular dela. Apagou o Facebook e o WhatsApp", diz o amigo Francesco Moglia, que conhece Patricia há 17 anos.
"Fiquei preocupada quando minha irmã relatou que iria parar de se comunicar pelo WhatsApp porque o noivo falou que iria tomar o telefone dela e que ele a estava pressionando a abortar o filho que estava esperando", diz Fabiana.
Amigos e a família de Patrícia se dizem chocados com a mudança de comportamento do noivo dela, pois nunca desconfiaram que "aquele homem bom" poderia ser "agressivo" ou "ameaçá-la a fazer um aborto", uma das hipóteses do que pode ter causado a morte da brasileira. Eles afirmam que Dennis se mostrava um homem apaixonado, alegre e gentil. Todas as vezes que veio ao Brasil, visitava os familiares da noiva. Da última vez, passou três meses no Ceará.
"Patrícia era contra o aborto, tem dois filhos de outro relacionamento e não teria coragem de fazer isso. Além do mais, estava com quase oito meses de gestação", diz a irmã. "Se aconteceu, minha irmã foi forçada, pois ela disse que, se pudesse, voltaria para o Brasil para criar o menino conosco. E eu ajudaria a minha irmã, como ajudo com os outros sobrinhos."
Amigos de Patrícia destacam que ela era uma jovem inteligente, comunicativa e que sempre batalhou por melhores condições de vida. Concluiu o ensino médio e trabalhou como empregada doméstica, babá e vendedora de roupas.
"Ela sonhou muito com essa história de amor e se iludiu. Achávamos que ela estava feliz e, de repente, tudo mudou. Minha irmã perdeu a vida num país em que sonhava estar. Ela tem uma história com ele e, mesmo que ele negue, estamos aqui para confrontá-lo", afirma Fabiana.
"Ela era uma pessoa muito boa e não tinha inimigos. Vivia para os filhos. Nas últimas mensagens dela, dava para perceber que já estava preocupada porque ele mudou de repente o comportamento", destaca Francesco Moglia.
Francesco conta que, por meio de um colega de trabalho casado com uma holandesa, conseguiu contato com a polícia daquele país e está "dando uma força pra ajudar a esclarecer o ocorrido, além de, também, manter contatos entre a família e as autoridades".
O amigo de Patrícia acredita que a falta de detalhes sobre o caso ocorre porque as autoridades só devem informar a causa das mortes da brasileira e do bebê quando o caso estiver elucidado. "Até agora só há um suspeito e duas pessoas mortas, então é normal que esteja tudo sob sigilo, até para não atrapalhar a investigação. Os corpos, com certeza, só serão liberados depois que forem emitidos todos os laudos necessários." O traslado dos corpos será custeado pelo governo brasileiro.
A família de Patrícia abriu uma vaquinha online para receber doações para os dois filhos dela. Esperam juntar R$ 20 mil, mas, até a noite desta terça-feira (12), a vaquinha tinha arrecadado apenas R$ 2.770.
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