Ela raspou a cabeça para ser primeira mulher do BOPE-AP: "Desistir, nunca"
Depois de oito anos na Polícia Militar (PM) do Amapá, a soldado Edlane Barreto, de 35 anos, conseguiu realizar um sonho: integrar a elite do Batalhão de Operações Especiais (BOPE). Ao longo de 62 dias intensos de treinamentos físicos e psicológicos, ela conseguiu desbancar outros 33 candidatos e se tornou a primeira mulher a fazer parte da Companhia de Choque.
O curso se encerrou no sábado (9). As marcas no rosto e o cabelo raspado ao fim do treinamento mostram parte das dificuldades enfrentadas debaixo de um calor amazônico com temperatura média de 35ºC em Macapá.
"Nunca pensei em desistir. Quando eu entrei, já pensava na formatura. Desistir nunca passou pela minha cabeça. Quando via meus colegas de farda saindo, era um incentivo para continuar. O Choque, pelas questões do treinamento, era como se fosse uma muralha para mim. É algo inexplicável, foi um sonho realizado. Houve essa oportunidade e consegui realizar um projeto pessoal", conta Edlane, aluna de número 22.
Dos 46 participantes que iniciaram o treinamento, apenas 13 chegaram ao final, sendo Edlane a única mulher. Ela não será a primeira a compor o BOPE amapaense, contudo, é a pioneira na Companhia de Choque, considerada a elite do referido batalhão, criado por decreto de 2002.
A militar ainda está na vanguarda por ser a primeira a terminar um curso misto, composto por homens e mulheres. Nesse tipo de treinamento, não existe diferença de tratamento por conta do gênero. Todos são submetidos às mesmas dificuldades.
Edlane lembra que quanto mais tempo longe da família, maior era o desafio de permanecer. Casada e com um filho de 12 anos, ficou muito tempo longe de casa pelo período exigido no curso. Ela se apresentava por volta de 4h no quartel e retornava às 22h durante seis dias na semana.
A família e o apoio recebido de diversas pessoas era o que motivava Edlane a continuar.
"Na reta final do curso foi o momento mais difícil pelo desgaste físico. O corpo já estava bastante exausto e fraco pelos treinamentos. O curso era justamente para passar para essas dificuldades. Quando eu me inscrevi e iniciei, recebi muitas mensagens, até de pessoas que não conhecia, dizendo para não desistir. Tenho um filho de 12 anos e busquei ainda dar um exemplo de mulher guerreira da minha maneira. Ele e minha família eram o que me dava forças todos os dias para não desistir", lembra, emocionada.
Sem diferenças
Além de militares do Amapá, homens de Santa Catarina e Amazonas participaram do curso, que é referência no campo da segurança pública no Brasil. Eles foram submetidos a treinamentos físicos, psicológicos e químicos. Também participaram de ações reais em presídio e simulações de grandes manifestações. "Tudo sempre no nosso limite", diz Edlane.
Edlane conta que se preparou fisicamente para superar os mesmos desafios impostos aos homens.
"Não teve diferença nas tarefas, nem para mais nem para menos. Eu me preparei muito para me igualar ao masculino de forma física e mentalmente. A mesma dificuldade que eu sofri, eles também tiveram", garante.
Para se aproximar dos homens e não ser prejudicada pela condição feminina, Edlane decidiu tomar uma decisão: raspar a cabeça na zero para os fios não atrapalharem.
"Não era necessário raspar a cabeça, mas tirar os cabelos foi uma iniciativa minha por ser uma forma de não me verem diferente no campo de batalha e para não atrapalhar", frisa.
Com o curso concluído, Edlane deve receber o diploma esta semana em cerimônia no Comando-Geral da PM do Amapá ao lado dos outros 12 militares. Ela encoraja outras mulheres a passarem pelos mesmos desafios por acreditar que as policiais femininas são igualmente capazes aos homens.
"Tem que se preparar e traçar um objetivo. Se realmente for o que as militares desejam, elas devem ir em frente e nunca pensar em desistir. Foque naquilo e pense apenas no final, não olhando para trás nem para o lado, que você consegue", concluiu.
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