Jovem dá à luz na rua após recusa de hospital. "Estamos chocadas", diz irmã
A dona de casa Taynara Cristina Rodrigues, 21, não deixou de comparecer a nenhuma consulta do pré-natal na Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Jurunas, onde mora, em Belém. A intenção era buscar um parto sem complicações.
O nascimento do filho, no entanto, não aconteceu como o planejado porque, segundo a família, a maternidade procurada por ela durante o trabalho de parto teria recusado atendimento. O bebê nasceu minutos depois em uma calçada a poucos metros do prédio, na madrugada de domingo (17).
O caso revoltou a família da gestante, que deu à luz o terceiro filho. Eles registraram o caso na Polícia Civil do Pará. No momento da situação, a jovem estava acompanhada da mãe, a diarista Ana Lúcia da Silva, de 45 anos.
"Estamos arrasados e em choque com tudo isso porque não passamos por nada parecido na nossa vida", desabafa a irmã de Taynara, a dona de casa Ana Rodrigues, de 35 anos. "Já pensou se ela e o bebê morrem? Estamos tomando todas as providências e iremos até o fim. Não é dinheiro que queremos, mas punição para todos os envolvidos. Isso não é certo. Foi muito triste a cena."
O parto aconteceu na travessa Frei Gil de Vila Nova, no bairro Campina, a poucos metros da maternidade que teria recusado atendimento à jovem, o Hospital Ordem Terceira. A unidade é particular, mas tem convênio para atender pacientes pelo SUS, segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Belém.
"Minha irmã não tem plano de saúde, mas iríamos pelo SUS [Sistema Único de Saúde]. Não fizemos o pré-natal todo certinho na UBS do bairro para acontecer isso na hora do parto."
Nem médicos, nem leitos
De acordo com a família, Taynara entrou em trabalho de parto na madrugada de domingo e se dirigiu à maternidade particular por ser a mais próxima do bairro onde mora. Chegando ao local, a jovem teria sido informada pelo hospital de que não havia médicos nem leitos.
A jovem e a mãe, então, começaram a se dirigir a outra casa de saúde, mas, a poucos metros da maternidade, Taynara sentiu fortes dores e acabou tendo o bebê na calçada por volta de 4h30. A situação foi registrada por um vigilante que passava pelo local e ganhou proporções virais nas redes sociais.
"Ela [Taynara] chegou lá pedindo atendimento e falaram que não havia médicos nem leitos. Saiu segurando a mão da minha mãe e acabou tendo o bebê sozinha na rua. Ele ficou com a mãozinha roxa devido ao frio. Ela tinha completado nove meses em 11 de novembro", conta a irmã.
Ana diz que Taynara desmaiou após o parto, o que fez a mãe das duas entrar em desespero. Nas imagens fortes que circularam em redes sociais, é possível ver o bebê, ainda preso ao cordão umbilical, na calçada e sem qualquer proteção. A mãe estava aparentemente desacordada.
"Graças a Deus, minha irmã não sofreu nada demais, apenas desmaiou. Minha mãe gritou porque, no momento, não sabia se ela estava morta ou desmaiada", diz Ana.
Em entrevista coletiva, o diretor do Hospital Ordem Terceira, Hernan Fernandes, negou que a unidade estivesse sem médicos ou leitos. Disse que a informação sobre falta de profissionais e camas repassada à família está sendo apurada e que os médicos foram à calçada, após o parto, e encaminharam a jovem para internação.
O bebê, chamado Emanuel, nasceu com 3,3 quilos e não sofreu nenhuma complicação decorrente do parto. A mãe também não teve sequelas.
"Não sabia se tinha fraturado algo"
O vídeo que circula nas redes sociais foi feito pelo vigilante Genário Fernandes Viana, 25. Ele diz que presenciou a cena enquanto realizava uma ronda motorizada no centro de Belém.
O vigilante afirma que, na hora, não ajudou porque não sabia das condições do bebê e diz que publicou o vídeo nas redes sociais como um ato de revolta.
"Eu iria ajudar, mas não quis pegar a criança por medo de quebrar algum osso, já que ela caiu e não sabia se tinha fraturado algo. Coloquei nas redes sociais como um ato de revolta para chegar às autoridades. Eu também tenho um filho, de 4 anos, o que me revoltou mais ainda", diz.
Caso é apurado
A Secretaria Municipal de Saúde de Belém decidiu abrir uma investigação sobre as causas de o parto ter sido realizado na calçada. O secretário Sérgio Amorim visitou ontem a o hospital e ouviu representantes da maternidade e a mãe do bebê.
O caso também é apurado pelo Ministério Público local.
Em nota enviada a Universa, o MP informou que a promotoria já ouviu a mãe do bebê. Representantes do hospital devem ser ouvidos nesta quinta-feira (21). A intenção é saber de quem é a responsabilidade pela situação enfrentada pela jovem.
O Conselho Regional de Medicina (CRM) do Pará também informou que abriu procedimento para levantar eventuais condutas ilegais praticadas pelos médicos de plantão no momento do acontecimento.
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