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Nudez e carícias: afinal, adulto pode tomar banho com a criança?

Tomar banho com as crianças tem um limite?  - iStock
Tomar banho com as crianças tem um limite? Imagem: iStock

Denise Brito

Colaboração para Universa

22/11/2019 04h00

Criança pode tomar banho com o pai? É normal ver os adultos pelados? E se ele pedir para mexer no corpo da mãe, qual a resposta que devemos dar? A resposta para essas perguntas infelizmente não vem formatada. Varia de caso a caso e deve ser analisada com cuidado por esepcialistas.

"Sexo é uma questão cultural e também de bom senso", enfatiza o médico sexólogo Gerson Pereira Lopes, ex-consultor em Projetos de Sexualidade do Fundo das Nações Unidas (FNAP) e Membro Efetivo da International Society for Sexual Medicine (ISSM).

Segundo ele, é válido habituar a criança com a nudez dentro de casa como algo natural, espontâneo, mas desde que os pais se sintam realmente tranquilos, genuinamente à vontade em relação a seus corpos. Ou seja, ficar nu dentro de casa não representa uma ideia positiva por si só, mas apenas quando há real espontaneidade por parte dos pais. "A naturalidade é a chave. A nudez só tem valor se for tranquila. Se o filho é tímido ou a mãe é retraída, fica constrangida, é pior. A criança percebe o desconforto, não importa que se diga o contrário a ela. E ninguém precisa ficar nu na frente dos filhos, não há prejuízo algum nisso."

Para a psicóloga e psicoterapeuta Simone Martins, com mais de 30 anos de atividade clínica, tanto a nudez quanto o banho conjunto podem contribuir para uma ideia positiva em relação ao corpo. Assim ela define também sua experiência pessoal, vivida em casa com o marido e sete crianças (quatro filhos e três enteados). "Nada foi imposto. Apenas vivido", diz. "A nudez é válida no tocante a ter e sentir o corpo como algo bonito, mesmo com formas diferentes. As crianças observam os genitais, os seios, as nádegas, todo o corpo, e perguntam sobre estas diferenças."

Respostas simples

Para lidar com as situações de curiosidade, que envolvem perguntas e vontades de tocar os órgãos do pai e da mãe, ela recomenda naturalidade e responder de modo simples que aquelas são áreas íntimas, tocadas apenas pela própria pessoa, e que as diferenças são porque um é menino e outra é menina ou porque um é homem e a outra, mulher. "É tranquilo. Nada de erotismo ou sensualidade."

Em caso de situações inesperadas, como o pai ter uma ereção acidental durante o banho, por exemplo, Pereira Lopes recomenda naturalidade, evitar constrangimento e esperar passar. Se houver alguma pergunta da criança, basta um: "Não é nada, às vezes acontece mesmo" e mudar de assunto.
Conforme vão ficando mais velhas, as crianças tendem naturalmente a se retrair e evitar as situações de exposição de seu corpo. "Elas passam a fechar a porta do banheiro por volta dos 10 a 12 anos para suas descobertas e intimidades. As meninas, a partir do crescimento das mamas também passam a se reservar", diz Simone. Nesta fase, os pais tendem a perceber os questionamentos e o tipo de curiosidade que passam a conter alguma sensualidade e manifestação de sexualidade. "Aí já é hora de parar com a nudez, sempre evitando relação com o que é feio, pecado, sujo", diz Simone.

Aprender que tocar o próprio corpo não é errado é também um aprendizado positivo para a criança ao conviver com o nu saudável, mas exige um cuidado dos pais. "É importante que se explique à criança que aquele é um momento de intimidade, adequado para quando estiver no cantinho dela, no quarto. Na sala, por exemplo, não é lugar. Caso contrário, ela pod e agir a ssim na casa do amiguinho ou na frente de estranhos, se expondo a riscos, incluindo abordagens mal-intencionadas".

Se por um lado a nudez pode ser vista como saudável em condições específicas dentro do ambiente doméstico, o mesmo não ocorre sobre a criança presenciar carinhos íntimos entre os pais ou mesmo ouvir os sons de uma relação sexual, ainda que de um outro ambiente da casa. "É a pior coisa para uma criança", diz Lopes, acrescentando que esse tipo de episódio gera repercussões complexas na vida da criança no futuro.

O sexólogo destaca a importância de os pais estarem atentos a riscos e aos limites do razoável quanto a excessos de liberalidade, como os toques nas partes íntimas entre crianças e adultos. "Uma alta incidência de casos de abuso sexual de crianças não inclui conjunção carnal (penetração) mas, sim, toques. Nada justifica tocar a genitália de uma criança, se não for na sua fase pequena para fazer a higiene". E como um apelo ao uso da razão no respeito aos limites da liberalidade entre pais e filhos, destaca que nem tudo é saudável dentro de um ambiente familiar espontâneo. "Há crianças sapecas, curiosas, que querem tocar, beijar o membro sexual do pai. E, incrivelmente, há pai que permite. E ainda conta para as pessoas, muito orgulhoso de si próprio, talvez se achando moderno. Um absurdo", relata.