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Homem sofre ofensa racista e é agredido em bar tradicional de SP

Restaurante Frango com Tudo Dentro - Reprodução/Facebook
Restaurante Frango com Tudo Dentro Imagem: Reprodução/Facebook

Marcos Candido e Camila Brandalise

De Universa

26/11/2019 04h00Atualizada em 26/11/2019 14h51

Um homem negro foi agredido fisicamente na última sexta-feira (22) por homens que, segundo relata, teriam lançado insultos racistas contra ele em frente a um bar tradicional no bairro Santa Cecília, região central de São Paulo. A reportagem de Universa estava no local no momento da agressão e viu o homem ser arrastado e agredido.

Durante os golpes, ele gritava que estava sendo vítima de racismo. Os dois agressores, clientes do bar, fugiram antes da chegada da Polícia Militar. A vítima afirma que os seguranças do bar Frango com Tudo Dentro não tentaram impedir a violência ou deter os homens. O restaurante nega omissão.

A vítima afirma que passava pela calçada quando um homem, sentado em uma mesa do estabelecimento instalada ao lado de fora, a chamou de "negão" e a puxou pelo braço para ser atendido.

Em entrevista a Universa, a vítima, que prefere não se identificar, diz que recebeu socos e chutes na cabeça e no abdome. Cerca de uma hora após a agressão, policiais foram ao local coletar o depoimento. O homem diz que já sofreu com ofensas e atitudes racistas antes, mas não imaginou que sofreria violência física em uma região que costuma frequentar. Segundo ele, os dois homens eram brancos e carecas.

Me senti humilhado e agora incapaz de ver justiça no Brasil. Queria ir embora do país

Presente no local, a reportagem viu a gerente do Frango com Tudo Dentro afirmar que não se tratava de racismo e também não oferecer ajuda para levá-lo a uma delegacia. Funcionários da casa afirmaram não ter acesso às imagens de câmeras de segurança.

O bar é famoso por funcionar durante a madrugada e pertence à empresária Lilian Gonçalves, dona de uma rede de restaurantes na região e filha do cantor e compositor Nelson Gonçalves. Lilian é dona da Rede Biroska, uma das mais importantes redes de entretenimento no país.

Outro lado

A vice-presidente da Rede Biroska, Carla Fiori, afirma que funcionários levaram o homem para dentro do estabelecimento, ofereceram água e indicaram a ida até a Santa Casa de Misericórdia, hospital próximo ao local. A própria vítima confirma que se negou a ir ao hospital.

Carla diz que os autores da agressão não são frequentadores assíduos do estabelecimento e que não houve omissão de socorro por parte dos seguranças. A polícia também não solicitou imagens de câmera de segurança, segundo o bar. "Não houve, da nossa parte, prática de racismo ou omissão", diz a vice-presidente.

Registros de racismo aumentaram

Segundo informações obtidas por Universa, houve aumento de 8% no número de boletins de ocorrência registrados em São Paulo em 2018 em relação ao ano anterior.

Considerando o primeiro semestre deste ano, foram registrados 39 boletins de ocorrência no Estado e abertos 53 inquéritos para investigar crimes como racismo e injúria racial. Os dados foram obtidos via Lei de Acesso à Informação.

A Secretaria de Segurança Pública informa que, apesar de coletar depoimento, não houve registro do boletim de ocorrência. Em nota, a Polícia Civil diz estar à disposição da vítima para o registro da ocorrência em qualquer delegacia da capital. Esclarece ainda que lesão corporal é um crime de ação penal condicionada à representação da vítima, por isso é necessário o registro do B.O.