Ela evitou que mulher fosse queimada: quando é preciso meter a colher
Gerente de um café, Tatiane Nunes, 35, evitou que sua vizinha tivesse o corpo queimado pelo marido, durante uma briga do casal. Com a ajuda de seu companheiro, a moradora de Jundiaí, no interior de São Paulo, deixou a vizinha entrar em sua casa, enquanto tentava fugir do marido, ficou entre a dupla, teve o box do banheiro quebrado pelo agressor e ainda foi ofendida por ele. Seu filho, de 9 anos, estava em casa. Infelizmente, depois que todos se acalmaram, o casal de vizinhos seguiu junto e ainda debochou das atitudes pacificadoras de Tatiane.
Apesar da experiência traumática, ela, que cresceu vendo o pai batendo em sua mãe, diz que, quando se presencia uma situação de violência contra a mulher, é preciso, sim, meter a colher de alguma forma —seja ligando para a polícia, fazendo uma denúncia anônima ou conversando com a vítima, que é o que ela tenta fazer hoje.
Por isso, no Dia Internacional das Mulheres Defensoras dos Direitos Humanos (29/11), Universa relata a história de uma mulher que teve de meter a colher para defender outra mulher e aborda maneiras de ajudar uma mulher nessa situação. Se quiser compartilhar a sua história nas redes sociais, use a hashtag #lutecomelas.
A data
O Dia Internacional das Mulheres Defensoras dos Direitos Humanos foi instituído, em 2005, durante a abertura da Primeira Consulta Internacional sobre Mulheres Defensoras de Direitos Humanos, organizada por várias instituições da área no Sri Lanka.
Neste evento se reconheceu que, enquanto mulheres saem em defesa da igualdade de direitos e contra a violência de gênero, também enfrentam, elas mesmas, ameaças por serem mulheres, como violência sexual e intimidação. Em 2017, a Front Line Defenders, que estuda e debate o tema no mundo todo, registrou o assassinato de 44 mulheres defensoras de direitos humanos —foram 40, em 2016, e 30, em 2015.
O relato de Tatiane
"Nunca sofri violência, mas presenciei, quando criança, meu pai agredindo muito minha mãe. Eu e meus dois irmãos tentávamos defendê-la, mesmo tendo entre sete e oito anos de idade.
Em 2017, cheguei do trabalho e ouvi o casal que morava em cima da minha casa discutindo. Percebi que ele jogava muita coisa no chão. Ele a ofendia muito. Eu e meu marido ficamos atentos.
Poucos minutos depois, os dois foram para o quintal e, como ela viu que minha porta estava aberta, entrou na minha casa. Senti forte cheiro de álcool.
O marido veio atrás dela, muito furioso, com um isqueiro na mão. Neste momento, me coloquei na frente dele e fui muito ofendida. Ele gritou que iria colocar fogo na mulher.
Na hora, gritei para ela se entrar no chuveiro e jogar água no corpo, enquanto eu e meu marido tentamos segurar o agressor. Mas ele invadiu nosso banheiro e quebrou meu box.
Meu marido conseguiu arrancar o isqueiro da mão dele, enquanto eu a ajudei a sair da casa. Também chamei a polícia, mas, quando os agentes chegaram, já estava tudo calmo.
A dona da casa onde eu vivia também apareceu, e o agressor se adiantou para contar que a briga teria acontecido por fofoca minha. Ele me acusou de me meter na vida dos dois. Ela acreditou nele e, dias depois, pediu para eu e meu marido sairmos do local, alegando que eu criei toda a confusão. Nós nos mudamos um tempo depois.
O casal continuou junto. A mulher me procurou, depois de alguns dias, alegando que não poderia deixar o marido porque ele lhe dava uma vida de rainha, e ela preferia apanhar a perder o luxo. Os dois ainda passaram perto de mim debochando, falando um para o outro: 'Olha o álcool', e rindo alto.
Quando tenho oportunidade, dou conselhos a outras mulheres sobre como não aceitar a violência, mas muitas delas não reagem. Entendo o sofrimento, mas vejo casos em que elas aceitam a situação por status.
Hoje, aprendi que a melhor atitude, ao ver uma cena de violência contra a mulher, é chamar a polícia ou fazer uma denúncia anônima.
Como meter a colher
Em entrevista recente para Universa, a delegada-chefe da Coordenadoria das Delegacias da Mulher do Paraná (Codem), Márcia Rejane Vieira Marcondes, assinala a importância de denunciar casos de violência doméstica e indica como fazer uma denúncia:
"Quando ligar para o 190, o serviço nacional que atende e redireciona denúncias urgentes, a pessoa deve dar o máximo de detalhes possíveis sobre o caso. Falar há quanto tempo a discussão ou briga está acontecendo, se ouviu pedidos de socorro ou frases ameaçadoras e, caso não esteja no local da briga, se ouviu barulhos de objetos quebrando ou que indicam possibilidade de violência física. É como descrever um quadro ou contar um filme para alguém que não pôde vê-lo."
A professora da Faculdade de Medicina da USP Ana Flávia d'Oliveira, pesquisadora dos temas de violência de gênero, serviços de saúde da mulher e atenção primária, também frisa que em briga de marido e mulher, mete-se, sim, a colher:
"Se você presenciou a agressão, pode denunciar. Ou mesmo enfrentar o agressor, o que não significa apenas partir para cima. Se precisar, peça ajuda quando o caso é de agressão física. E quando ouvir, por exemplo, uma piada de cunho machista ou presenciar um comportamento inadequado, corrija a pessoa. Seja clara com o agressor de que aquilo não pode ser feito".
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