"Médico sugeriu que estava sendo má com o bebê por ser gorda e engravidar"
Dani Lima tem 30 anos e é psicóloga de formação, mas trabalha como produtora de conteúdo no Instagram há pouco mais de dois anos. Com quase 50 mil seguidores na rede social, ela aborda temas como autoestima e aceitação. "Já tive muitos problemas com minha imagem, mas com o passar do tempo esta relação melhorou e hoje entendo a importância de dividir minhas experiências com outras pessoas", conta.
Ela planejava os próximos passos da carreira quando precisou repensar a estrutura de vida: mesmo sofrendo com um grau elevado de endometriose, descobriu, próximo ao meio do ano, que estava grávida. A novidade causou espanto, mas também felicidade. Hoje com 27 semanas de gravidez, ela conta que já sofreu preconceito por parte de alguns profissionais da saúde. "Um médico me tratou com muita rispidez, como se tivesse feito uma coisa terrível por estar gerando uma nova vida. Hoje tenho vontade de mostrar meus exames para ele, para provar o quanto estou saudável", desabafa.
Confira o relato na íntegra:
"Queria ser outra pessoa"
"Sempre sofri preconceito, não só por ser uma mulher gorda, mas também pela identidade negra. Então tentava me encaixar em padrões que não me causassem tanta vergonha. Já fiz várias dietas malucas e costumava alisar o cabelo. Mas no fim adolescência e começo da vida adulta, decidi dar um basta. Percebi que tudo o que eu queria me era negado: não podia frequentar os lugares que gostava, vestir as roupas que desejava e nem ser a pessoa que queria. Uma hora tudo isso me encheu o saco.
Comecei a me colocar de uma forma mais ativa, combativa. Nessa época, tive meu primeiro contato com movimentos sociais, grupos de mulheres que afirmavam suas identidades. Peguei força no momento que estávamos vivendo socialmente e passei a internalizar o que lia e via. Trouxe tudo para a minha vida de uma forma revolucionária. Por causa disso, hoje consigo lidar muito melhor com meu corpo. Sei que nunca vou me sentir plenamente satisfeita. Isso é muito difícil. Mas ter noção do todo é o que me faz hoje ser forte, enxergar a importância da minha imagem".
Gravidez não planejada
"Estou em um momento profissional muito bacana. Tinha projetos para desenvolver e a última coisa na qual pensava era ser mãe agora. Este, aliás, não era um sonho meu. Sofro com endometriose e já passei por muitos exames e tratamentos. Dos médicos pelos quais passei, nenhum chegou a me dizer que não poderia engravidar naturalmente, mas também não me davam muitas esperanças. Pelo contrário, diziam que era provável que eu não conseguisse.
Então adiei essa preocupação: queria me estabilizar profissionalmente. Decidi que, quando estivesse com 33 ou 34 anos pensaria na possibilidade de fazer um tratamento, caso sentisse a vontade de ser mãe. Mas contrariando tudo o que sempre escutei durante as consultas médicas, descobri que estava grávida. Foi um momento conturbadíssimo. Estava em vias de operar minha endometriose, fazendo a preparação para a cirurgia. Foi tudo louco, confuso demais para a minha cabeça. Mas agora estou aceitando bem, vivendo um momento tranquilo e curtindo a gestação, que está na 27ª semana."
Gordofobia médica
"Não foi fácil encontrar um profissional da área médica para fazer o acompanhamento pré-natal. A gordofobia médica é um tipo de preconceito pelo qual toda pessoa gorda já passou, mas até pouco tempo eu não sabia que tinha esse nome. É algo que nos afasta dos consultórios e muitas vezes nos priva de fazer tratamentos, até porque ninguém quer passar por uma situação constrangedora. Muitas vezes pensei: 'Vou chegar ao consultório com uma dor de cabeça e, antes de investigar as verdadeiras razões, o médico vai me olhar e dizer que é porque eu sou gorda.
Como grávida, passei por situações terríveis. Um dos médicos nos quais tentei me consultar se colocou o tempo todo de forma rude, grosseira, deixando claro que no entendimento dele eu estava fazendo uma coisa ruim. Estava sendo maldosa com o meu bebê pelo fato de ser uma mulher gorda. Aquela era a primeira consulta: ele não poderia ter afirmado que sou uma pessoa doente. Não tinha visto nenhum tipo de exame meu. Muito menos poderia afirmar tão categoricamente que eu teria dificuldades na gravidez, como ele fez.
Procurei outro profissional para me acompanhar: estou indo para a 30ª semana sem nenhum tipo de complicação, apenas com os incômodos já esperados para todas as mulheres. Tenho vontade de voltar lá e dizer que a minha filha é maravilhosa e que o fato de eu ser gorda não atrapalhou em nada o meu processo enquanto mãe. Tudo o que precisamos neste momento é respeito e acolhimento e não de alguém que nos ridicularize e nem diminua. O corpo gordo não é adoecido. Só queremos compreensão, poder chegar no consultório e conversar normalmente. Investigar as verdadeiras razões das nossas queixas"
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