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Influencers digitais com mais de 60 inspiram quem não tem tempo a perder

Sueli Rodrigues, 70, virou influenciadora por acaso - Arquivo pessoal
Sueli Rodrigues, 70, virou influenciadora por acaso Imagem: Arquivo pessoal

Cláudia de Castro Lima

Colaboração para Universa

01/12/2019 04h00

Rosangela Marcondes compartilha com mais de 150 mil seguidores do Facebook dicas que vão de moda à decoração, passando por indicações de palestras e de podcasts sobre assuntos que considera interessantes.

A mineira Patida Mauad divide com os mais de 4.500 fãs de suas redes sociais receitas, textos com informações sobre viagens e projetos de fotografia, além de seus próprios serviços como personal stylist, personal organizer e de criação e produção de eventos.

Os looks cheios de estilo, cores e irreverência da paraibana Sueli Rodrigues, que hoje mora em Itu, no interior de São Paulo, fazem um baita sucesso com seus mais de 26 mil seguidores do Instagram.

Rosangela, Patida e Sueli são influenciadoras digitais, mas talvez não como as que estamos acostumados. As três fazem parte de um movimento que vem crescendo timidamente nos últimos tempos, mas que começa a chamar a atenção do público e das marcas: o dos influencers prateados -ou seja, com mais de 60 anos.

Com um público fiel e até intergeracional, as "novas velhas" influenciadoras, como elas mesmas brincam, ainda não ganham muito dinheiro com o trabalho, mas estão conseguindo coisas que vão além dos recursos materiais para elas: fazer-se ouvidas e ajudar o público maduro a ter voz.

Maduros e digitais

Para entender como homens e mulheres com mais de 60 anos se relacionam com a tecnologia, um estudo foi realizado em abril deste ano pela empresa especializada em pesquisa digital MindMiners, em parceria com a consultoria de marketing Hype60+.

A pesquisa "Maduros e digitais: redes sociais, influenciadores e vida digital após os 50 anos" entrevistou 533 brasileiros a partir de 50 anos e mostrou que 79% deles estão dispostos a experimentar novos produtos, serviços e marcas, enquanto 74% se sentem abertos para testar novas tecnologias.

O estudo também se propôs a investigar a relação de quem passou dos 50 com os influenciadores digitais: 67% deles sabem o que é o influenciador digital e 46% dos entrevistados seguem algum nas redes sociais. Entre os temas de interesse, os principais são moda e beleza (apontado por 55%), comportamento e relações humanas (51%), entretenimento e cultura (50%), culinária e gastronomia (47%) e saúde e fitness (45%).

Esse público conhece novos produtos e serviços com os influenciadores que segue: 75% dos brasileiros disseram que descobriram e compraram produtos por meio da indicação deles. Além disso, 3 em cada 10 já viajaram por indicação de algum influenciador digital.

It avós

O estudo também observou a presença de microinfluenciadores e produtores de conteúdos relevantes para essa faixa etária. Aos 64 anos, a mineira Rosangela Marcondes é um deles. Ela deu o pontapé inicial em sua vida digital em 2013, com o blog Domingo Açucarado, que conta, hoje, com 150 mil seguidores no Facebook.

"Quando fiz 60, comecei a frequentar tudo o que podia: vivência na universidade aberta, cursos e grupos dedicados às pessoas da minha idade. E fiquei com muita vontade de ser divulgadora disso tudo", diz Rosangela.

"Existe uma nova avó no mundo: é a que pega mochila e vai atrás do neto na Austrália. Ela tem tempo, dinheiro e tem que ter coragem. Ela pode até não ter filho ou neto, mas é mãe ou avó de gato e de cachorro. É atuante, participa de simpósios, de fóruns." Foi assim que decidiu criar também o Instagram It Avó (@it_avo).

Ela conta que já começou a ganhar dinheiro com a influência que tem. "Ganhei com vídeo, conversas, avaliação de produtos em bancos, colégios, faculdades e até hospitais", afirma.

Embora sua conta no Instagram seja ainda recente, Patida Mauad (@pamauad) já fez seu primeiro trabalho pago como influenciadora digital, uma campanha para um shopping. "Frequento redes sociais há anos. Vendo meu perfil com potencial, percebi que ali poderia e deveria ganhar grana pra poder realizar meus sonhos. E tenho muitos."

Patida, 61, tem experiência em redações de revista e de televisão, no mercado publicitário e em cenografia. Para suas redes, portanto, ela escreve, fotografa e faz a direção de arte. "Minha primeira função quando abro os olhos é fazer meu post. Me interessa poder inspirar outras pessoas. Meus posts são de lifestyle sempre. Sou muito transparente e só faço o que me diverte."

Agora que temos que aproveitar

Sueli Rodrigues, a decana da turma, tem 70 anos e virou influenciadora por acaso. Uma colega da Câmara Municipal de Itu, onde trabalha, disse que ela tinha muito estilo ao se vestir e que deveria criar um blog. "Eu nem sabia o que era isso", ri.

"Até que falei: 'Vamos ver no que vai dar'. A princípio conseguimos 200 e poucos seguidores. Na outra semana, já estávamos com 5.000. Ela então sugeriu que a gente tentasse colocar no Razões para Acreditar", conta, sobre o site especializado em dar boas notícias. "Menina, depois o bicho pegou! Fui pra 20 mil seguidores em um mês."

Mãe de duas mulheres e avó de uma criança de três anos, a criadora do @blogdasu70 descobriu, há três anos, um câncer no estômago, que lhe custou 80% dele. Hoje, só quer saber de curtir a vida -justamente o que ensina a seus fãs. "Falo para as pessoas que estão desacreditando da vida, achando que depois dos 60 não existe mais nada", diz Sueli. "Claro que existe! Agora que temos que aproveitar. Afinal, é o finalzinho, né?"

Sueli diz que conseguiu influenciar algumas mulheres a, como ela, também abrirem uma conta no Instagram. "Tem um caso, o Blog da Cora (@blogdacora), que passou 15 mil seguidores já. Ela estava em depressão porque tinha perdido um monte de gente da família, me viu e quis fazer um blog também. Eu a auxiliei, coloquei nos meus stories e hoje ela é uma mulher linda e feliz", diz.

"É uma responsabilidade tremenda ter um blog porque falamos com pessoas que talvez estejam precisando ouvir alguma coisa boa. É isso o que tento fazer."