Contra depressão, ex-vigia vira manicuro: "Achava que era coisa de mulher"
Após quase uma década trabalhando na área da segurança, como vigilante, o paranaense Robson Barbosa, 42, adotou uma profissão em que é rara a presença de homens: a de manicure. Para assumir a nova atividade, que ele considerava no início como "coisa de mulher", deixou de lado o preconceito e agora é sucesso entre as clientes no salão de beleza montado com a mulher, Vanessa Maceno, 38, em Curitiba.
"No começo, foi bem difícil porque eu tinha certo preconceito ao fazer o serviço. Achava que era coisa de mulher e, por isso, tinha vergonha. Algumas mulheres tiveram preconceito, fizeram piadas e tiraram onda. Essas, a gente não atendeu mais", diz Robson.
"No início, eu também era quieto. Entrava mudo e saía calado. Minha esposa que falou para eu conversar mais com as clientes."
A profissão é tão rara entre homens que o termo masculino usado para os que desempenham a atividade -manicuro—chega a soar errado. Pois Robson atua como manicuro há três anos, desde que foi demitido da empresa de vigilância em que atuava. O dinheiro da rescisão trabalhista serviu para montar o salão de beleza na capital paranaense.
Pouco antes de sair do antigo emprego, Robson recebeu o diagnóstico de depressão. Tentou suicídio duas vezes após a demissão e viu no cuidado das mãos das mulheres uma terapia para combater a doença. O incentivo veio da mulher, que já era manicure e, diante do problema do marido, ensinou o ofício a ele já que não queria mais deixá-lo sozinho em casa.
Para Robson, no início, a atividade tinha apenas objetivo terapêutico. Só percebeu que poderia adotar a nova profissão quando começou a receber o reconhecimento das clientes.
"Comecei a levar a sério quando uma cliente pediu que eu fosse o manicuro dela. Como não sei dizer não para os outros, estou nessa até hoje. Minha esposa fez eu me descobrir na profissão, que segue sendo a minha terapia. Ainda fico triste algumas vezes, mas a atividade de manicuro me faz continuar."
'Todas querem fazer unha com o Robson'
Com o apoio de medicação que o deixa bem calmo, o ex-vigia acabou se especializando em alongamento de unhas em gel, procedimento que requer bastante cuidado e concentração.
A mulher dele, Vanessa, diz que as clientes acabaram preferindo o marido para fazer esse tratamento.
"Hoje todas querem fazer a unha com o Robson. O acabamento dele é muito bem feito", diz Vanessa.
Mas Robson já teve uma visão diferente da atual sobre a profissão que exerce ao lado da esposa. Por ver apenas mulheres cuidando das mãos nos salões de beleza na cidade, carregava preconceito sobre a atividade antes de adotá-la para o sustento da família.
"Meus amigos ficaram sabendo da minha nova profissão quando eu já estava trabalhando com isso. Faziam piadinhas no início, mas não liguei. Hoje não fazem mais porque entenderam que é o meu trabalho. Eles sabem que é minha profissão e única forma de sustento."
Robson diz que agora quem considera estranho o fato de ele estar cuidando das mãos das mulheres são os maridos das clientes que não o conhecem.
"Às vezes, o marido vem junto e fica em cima. Outros que já sabem do meu serviço, deixam a esposa e retornam apenas depois que elas terminam. Para mim, não é um problema, sei que não é tão comum", diz, aos risos.
'Considero uma profissão sem gênero'
Robson diz que se viu incentivado não só pela mulher, mas pelos três filhos do casal e por descobrir que outros homens também exercem a atividade.
"Eu considero agora uma profissão sem gênero. Homem e mulher podem ser o que quiserem. Antes, eu não achava isso. Quando comecei, vi no Instagram que também existiam manicuros nos Estados Unidos e no Brasil. Em Curitiba, sei de mim e mais dois. Não tenho mais vergonha de dizer que sou manicuro", afirma.
As clientes, diz Vanessa, também são um estímulo para o marido seguir na profissão. "O Robson ficou um ano sem aceitar, não gostava de tirar foto. As meninas, por outro lado, acham muito legal ter um homem fazendo as unhas delas."
O casal está junto há 14 anos. Eles mantêm uma conta no Instagram e lá fazem uma vaquinha virtual para arrecadar fundos para viajar ao Rio de Janeiro e São Paulo para se aprofundar nos procedimentos estéticos de unhas.
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