Medo de compromisso: por que tanta gente evita a palavra namoro
"Enrolada", "ficando", "saindo", "pegando": são muitas as expressões que o psicólogo Marcelo Alves dos Santos escuta no consultório quando o assunto são os relacionamentos amorosos. Pela sua experiência, a palavra namoro tem sido cada vez menos usada. "Percebo que o conceito tem se tornado mais pesado, principalmente entre os jovens. Não são todos que estão dispostos a assumir esta forma de compromisso", explica.
Camila Leal tem 23 anos e é jornalista. Durante nove meses, vivenciou uma rotina semelhante à de um namoro, mas não podia dizer a palavra em voz alta: "Conheci uma menina no trabalho e nos envolvemos. Só ficávamos uma com a outra, nos falávamos todo dia, passávamos os feriados e os finais de semana juntas. Mas ela não gostava de pensar em namoro. Dizia que era traumatizada, que sempre que dava um rótulo à relação as coisas davam errado. Depois de um tempo, isso passou a me incomodar. Parecia uma desculpa para não me assumir, que não estava certa sobre o que sentia. Por isso decidi terminar. Não era o suficiente para mim", relata.
Como no seu caso, muita gente tem evitado os rótulos. Grazi Massafera e Caio Castro são um exemplo: saindo há meses, eles preferem deixar em aberto a definição do que seria a relação.
"Mas e os namoradinhos?"
Marcelo relembra que o conceito de ficar é recente. "Anos atrás a multiplicidade de parceiros não era tão simples. Sem as tecnologias para facilitar o contato e com os costumes mais rígidos, namorar era um ritual: envolvia aproximação, pedido, convivência com a família do outro. Hoje em dia, os valores são diferentes e as relações têm outra roupagem. Em geral os parentes não ficam sabendo dos envolvimentos, já que eles acontecem em uma velocidade rápida, fluida".
Vou ter que avisar todo mundo?
"Para muitos jovens, o peso de namorar é semelhante ao de se casar", avalia o psicólogo. Isso se deve às consequências de assumir o compromisso publicamente. "Eles temem sofrer bullying dos amigos, deixarem de serem chamados para eventos e, principalmente, perderem a possibilidade de ficarem com outras pessoas no futuro", elenca. Por isso, mesmo nos casos em que o casal decide assumir, tende a avaliar com cuidado antes. "Eles averiguam se o tanto que gostam da pessoa é o suficiente para fazer um anúncio do tipo e avaliam a conduta do outro, para saber se ele está disposto a fazer o mesmo".
Medo do coração partido
"Não é possível generalizar, mas há muitas pessoas que sentem medo de se machucar, seja por experiências ruins do passado ou por influência do grupo. Quando um conta uma história, o outro já compartilha sua vivência negativa, fazendo alertas por cima. Em muitos grupos existe um incentivo coletivo a não namorar, só curtir", diz. O profissional também chama atenção para outra característica da geração: a busca pelo prazer imediato. "Relacionamentos não são fáceis. Eles em algum momento podem gerar desprazer, o que tem sido cada vez mais evitado".
Sempre na superfície
Uma das consequências do comportamento é não abrir espaço para conhecer de forma aprofundada as pessoas com as quais se relaciona, mesmo que exista essa vontade. "Tudo depende do que o indivíduo deseja: se ele está em uma fase da vida de experimentar a multiplicidade de parceiros e isso o faz feliz, não é nocivo. Mas se prefere cortar um envolvimento no qual sente prazer por medo de como pode se desenrolar, pode estar se autossabotando".
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