Homem que baleou vizinho gay abandona prédio e encontra vítima na portaria
O auxiliar administrativo Rafael Dias, 33, vai passar o Natal com a família, longe do prédio onde mora no centro de São Paulo. Assim, não quer mais pensar no que ocorreu neste domingo pela tarde (22). Ele estava a caminho do mercado quando recebeu um tiro no maxilar ao passar pela portaria de seu condomínio. O impacto quebrou quatro dentes. Rafael virou a noite na Santa Casa de Misericórdia até segunda (23).
O autor dos disparos, seu vizinho Adel Abdo, 89, foi preso em flagrante e passou a mesma madrugada em uma cela. Testemunhas dizem que o homem gritou que "viado tinha que morrer" um dia antes, no sábado (21), quando Rafael promoveu uma festa no apartamento alugado onde vive há cinco anos.
Nesta terça (24), os dois já puderam retornar à agenda das festas de fim de ano.
Adel foi liberado pela Justiça após uma audiência de custódia. Caberá a ele entregar o revólver calibre 22, se manter afastado da vítima e se apresentar ao tribunal para prestar depoimento.
O advogado da vítima, José Beraldo, vai pedir a revogação da soltura e solicitar ao Ministério Público que o episódio também seja enquadrado como um caso de homofobia.
Rafael ainda encontrou Adel ao voltar para casa com seu advogado, quando recebeu alta do hospital. O vizinho, escoltado por policiais, voltou ao próprio apartamento para buscar objetos pessoais e seguir a ordem da Justiça de se retirar do apartamento. Eles se viram de longe, mas não trocaram nenhuma palavra. Universa não conseguiu encontrar a defesa do aposentado.
Violência no hall
No dia da agressão, os vizinhos estavam na mesma portaria, quando Adel registrava uma queixa contra o barulho da festa. Segundo Rafael, naquele momento, o aposentado teria reclamado que não queria "festa com bando de homem barbudo se beijando" e o ameaçado de morte.
"Eu pensei: jamais um senhor vai ter uma arma. De repente, ele sacou uma arma pequena, apontou e fez um disparo. Eu perguntei: você está louco? Assim que falei isso, um tiro entrou na minha boca", disse. Os outros dois projéteis teriam acertado o portão.
Segundo o marido da vítima, Anderson Mirapalheta, a festa terminou às 22h no sábado. "É o horário limite do prédio", diz. Agora, os moradores criaram um abaixo-assinado para pedir expulsão do atirador.
"Eu estou revoltado, claro. Vou continuar minha vida normal, mas não sei se ele vai continuar morando aqui. Ninguém do prédio o quer mais aqui", diz.
O número de registros de homofobia aumenta desde 2012 em São Paulo. Apesar disso, Universa mostrou que apenas 1 a cada 6 boletins de ocorrência é investigado.
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