Como Lídia, de Amor de Mãe: dá pra se reerguer após terminar relação longa?
Na novela "Amor de Mãe", após anos e anos vivendo em função do marido e fazendo vista grossa para traições, Lídia (Malu Galli) é surpreendida por um pedido de divórcio: dessa vez, Raul (Murilo Benício) se apaixonou de verdade e quis a separação para viver com Érica (Nanda Costa).
Assim como acontece na trama da Rede Globo, não é fácil superar o fim de um casamento depois de tanto tempo — o que também é muito claro no filme História de um Casamento. Terminar um relacionamento longo é algo muito doloroso, especialmente se a iniciativa de romper foi do outro e existir um terceiro elemento na jogada (ainda que não tenha acontecido traição). Só quem viveu o mesmo que Lídia sabe como isso machuca.
Fim da relação depois de anos...
Podem existir várias razões para tanto sofrimento. Compreendê-las é um passo importante para enfrentar a tristeza e seguir em frente. Segundo a psicóloga clínica Patrícia Atanes, de São Bernardo do Campo (SP), quando você se relaciona com alguém por um tempo, é como se incorporasse a pessoa ao seu senso de identidade.
"É por isso que, após um rompimento, você pode se sentir confusa sobre quem é. Uma parte de sua identidade foi arrancada de você. Não se surpreenda caso se sinta assim. A recuperação envolverá a reconexão e a reconstrução de sua identidade pessoal", afirma.
Isso porque casar não significa só escolher uma pessoa para compartilhar a vida, mas, segundo a psicóloga Danielle Pinheiro, do Rio de Janeiro (RJ), é decidir quem poderá nos fortalecer perante os problemas e na luta pela sobrevivência.
"Quando essa relação acaba, a construção de um futuro é destruída e o desamparo se torna evidente. Por isso costumo dizer que ficar mal com uma separação é natural e faz parte da dinâmica saudável do ser humano. Pessoas que dizem não se importar, essas, sim, podem estar adoecidas desde o processo de desenvolvimento e se dissociaram das suas emoções", conta.
Os hábitos repetidos e o costume de estar em uma zona de conforto, que nem sempre é boa, também são fatores que contribuem para que um rompimento magoe tanto quando se tem uma relação longeva.
"Mesmo num casamento que não é tão bom, é comum encontrar na outra pessoa uma sensação de familiaridade e pertença que é muito cômoda. Além, é claro, do fato de que um relacionamento é algo conhecido. Pode não ser o ideal, mas o conforto que nos traz é bom", observa a psicóloga especialista em terapia cognitivo-comportamental Ellen Moraes Senra, do Rio de Janeiro (RJ).
Por que tudo mudou?
A psicóloga Raquel Fernandes Marques, da Clínica Anime, de São Paulo (SP), lembra que se separar implica numa transformação drástica de rotina, o que afeta bastante as emoções.
"Normalmente, quando estamos em par, fazemos uma série de programações e metas em conjunto. Tudo está em ordem, planejado e sabemos o que vai acontecer. Quando uma relação chega ao fim, inevitavelmente acontece o afastamento de algumas amizades e a mudança de planos, objetivos e até costumes. Chegar em casa à noite e não ter alguém esperando, vivenciar alguma experiência e lembrar que já não pode compartilhar com o ex, passar o fim de semana sem ouvir a voz do outro... Tudo isso causa sensação de lacunas e vazio", opina.
Só quem passou sabe
Para Patrícia, é importante ter em mente que o sofrimento é individual e pessoal e não pode ser comparado ou medido. "A dor somente pode ser mensurada por quem a está sentindo. Para cada um de nós, a separação será diferente em intensidade, tempo e resultado. Não existe dor maior ou menor, existe a dor que aquele relacionamento representava para os envolvidos", diz.
Separamos aqui algumas dicas das especialistas ouvidas por Universa. Como fazer, então, para viver o fim do relacionamento com segurança emocional?
Encarar o processo de luto é fundamental
Assim como acontece com a morte de alguém querido, o processo de luto é crucial ao vivenciar o rompimento de uma relação amorosa longa. Conforme especialistas, é preciso vivenciar alguns estágios para superar a ruptura. "Essas fases não são fixas e nem seguem ordens. As pessoas podem seguir para a frente e depois retroceder ou pular fases, o ser humano é dinâmico e cada um tem uma capacidade de resiliência diferente", diz Danielle.
Entenda que tudo pode acontecer em fases:
1. Choque: é a reação inicial. Surpresa, você não consegue se conectar com os acontecimentos. O término ainda não parece real.
2. Negação: é a incapacidade de lidar com a enormidade da situação. É comum pensar coisas do tipo "isso não está acontecendo" ou "ele vai se arrepender e voltar atrás".
3. Raiva: segundo Patrícia, essa fase pode acontecer a qualquer momento, mas é mais comum na sequência da negação. O medo em relação ao futuro dos estágios iniciais agora diminuiu o suficiente para que a raiva se manifestasse, o que é saudável.
"O lado positivo dessa etapa fase é que você pode usar essa indignação para começar a reconstruir sua vida sem o ex", fala a psicóloga.
4. Negociação: esse estágio é complicado, pois, depois de a raiva diminuir, as pessoas passam a enxergar a relação com lentes cor-de-rosa e tentam fazer uma espécie de barganha com o ex ("se você voltar, prometo melhorar o meu temperamento"), com Deus ou com alguma força superior ("nunca mais vou reclamar de nada se conseguir convencê-lo a reatar").
5. Depressão ou tristeza: a tristeza realmente se instala, mas isso não significa, necessariamente, uma depressão clínica. "O apetite muda, as lágrimas vêm, você quer se retirar do mundo. Esse buraco escuro pode parecer um abismo, mas é um bom sinal de que você está na reta final", informa Patrícia.
6. Aceitação inicial: embora a dor ainda esteja presente, você pode ver o relacionamento com mais clareza, aceitando o papel de cada um no relacionamento, o bom e o ruim, e também no rompimento.
7. Esperança: é possível se deparar com alguma lembrança — ver uma foto ou ouvir uma determinada música, por exemplo — e não sofrer. Você sai com as amigas e percebe que está realmente se divertindo e não apenas tolerando o programa como antes. Você pode sentir que começou a seguir em frente e que vem retomando o equilíbrio emocional.
Dicas práticas para (pelo menos começar a tentar!) dar a volta por cima
Entendeu? Agora, o importante é analisar seus próprios sentimentos:
Aceite que acabou. Pode ser extremamente difícil, pois parte da pessoa pode querer continuar lutando ou alimentando uma esperança de que as coisas vão "voltar ao normal", mas internalizar o rompimento é a forma mais eficiente de dar início ao processo de se reerguer.
Não se culpe. Concentre-se na premissa de que a responsabilidade de um relacionamento progredir e dar certo é sempre das duas pessoas envolvidas. Por isso, se terminou, é sinal também de que acabou a sintonia, de que não existe mais a vontade mútua de fazer dar certo.
Seja grata. "Tente não olhar para o relacionamento como um desperdício de seu tempo, mas como uma experiência. Em vez de mergulhar na autopiedade, invista na resiliência. Lembre-se de que, depois que tudo passar, você provavelmente estará melhor. Sem brigas, sem negociações, sem não saber para onde está indo", comenta Patrícia.
Atenda suas necessidades de autocuidado. "Observe o que precisa no momento e faça atividades que proporcionem prazer", sugere Danielle.
"Lembre-se que o sofrimento não vai fazer o tempo passar mais rápido. Se você descuida do seu físico, o mal-estar em relação ao seu corpo se juntará ao seu psicológico abalado, afetando de forma negativa sua autoestima", completa Raquel.
Encontre sentido para sua vida. Isso inclui desde investir mais na profissão ou em algum hobby até buscar realizar um sonho antigo ou achar novos propósitos. Faça o que achar que faz sentido para você no momento. A sua vida continua e por isso você deve fazer um novo planejamento, com novas metas. "Reflita: como você gostaria de viver sua vida de agora em diante? Comece a trabalhar para isso", pontua Raquel.
Viva o luto. "Pode parecer bobagem, mas nosso sistema cognitivo tem a função de nos proteger e por isso sentimos tantas emoções diferentes. Tentar evitá-las só serve para intensificar o sofrimento e adiar o momento de seguir em frente", aconselha Ellen.
Não se sinta fracassada. Nem toda relação foi feita para dar certo, algumas são aprendizados pelo qual passamos. "As separações servem de lição e nos ajudam a melhorar como pessoas. Em muitos casos é bom refletir sobre nossos próprios erros para não repeti-los no futuro e nos assegurar que a próxima relação seja melhor que a anterior", fala Raquel.
Saiba o seu valor. Para Ellen, compreendê-lo ajuda a lembrar o que fez para que a relação pudesse dar certo. Saber que fez o possível pode ajudar e muito a deixar a relação para trás e abrir espaço para que uma nova comece.
Se ame! "Não importa se foi 'trocada' por outra. Você não é um objeto, mas uma pessoa com individualidades incríveis que ninguém mais possui e, mesmo que o ex não tenha valorizado, desde que você se valorize, sempre encontrará quem o faça também", avisa Ellen.
Mude. É um bom momento para fazer mudanças na sua imagem e também no lugar onde você vive. Conheça gente nova, leia, escreva, viaje (mesmo que for sozinha), faça um curso, descubra novos interesses.
Entenda que recaídas são normais. "Ainda que você esteja decidida a superar essa fase difícil da melhor maneira possível, poderão chegar dias em que você terá recaídas, pensará no passado e talvez até caia nas lágrimas novamente. Não se culpe, isto também é parte do processo. Tenha em mente apenas que amanhã será um novo dia", recomenda Raquel.
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