Ela criou o EmpregueAfro para captar vagas para negros e "mudar o sistema"
Quando Patrícia Santos disse a seu pai que queria ser médica, ouviu um conselho duro e realista: "Isso aí não é coisa para gente como a gente, minha filha".
Foi um golpe para ela, negra, aos 16 anos. Fazer Medicina não seria possível devido à sua cor de pele, endereço (a periferia de São Paulo) e de sua condição financeira. Depois de uma tentativa de estudar Educação Física, encontrou seu caminho na área de Recursos Humanos, onde atua há 20 anos.
Militante do movimento negro, Patrícia Santos é empresária, palestrante, mãe de quatro filhos (de 11, 9, 5 e 4 anos) e criadora da EmpregueAfro — que já encaminhou mais de 300 pessoas negras para empresas nacionais. A ideia da consultora veio pela necessidade de olhar para pessoas como ela e ajudar na contratação, inserção e desenvolvimento de negros no mercado de trabalho.
Hoje, ela quer atender as 500 maiores empresas do país — já alcançou 55.
"A periferia nunca sai da gente"
"A gente sai da periferia, com resiliência, e ela nunca sai da gente. E vamos nos aperfeiçoando com o tempo", diz Patrícia. Ela pode ser vista como um furação onde chega, justamente por seu discurso contundente, mas sereno, ao falar do racismo que existe no Brasil.
Também é um furacão por combater preconceitos. Para pensar na EmpregueAfro, a empresária viu que muitas pessoas tinham estudo, qualificação profissional e condições de entrar em qualquer empresa, mas o cinismo e o preconceito dos selecionadores as barravam no meio do processo seletivo.
Isso acontece, relata Patrícia, mesmo vivendo no país onde a maioria se considera preta ou parda, como aponta o IBGE. "Não era possível ficar do mesmo jeito que estava, eu vim para mudar pelo menos uma pequena parte do sistema".
Hoje, ela vive e trabalha na Zona Sul de São Paulo, em um bairro de classe média, mas já viveu nas proximidades de uma das maiores favelas da cidade.
O que faz a EmpregueAfro?
A Empregueafro é uma consultoria de recursos humanos exclusiva para o público negro. A demanda surgiu há cerca de seis anos, quando as empresas referências dos mais diversos mercados começaram a perceber seus quadros internos e perceberam a necessidade de incluir negros, homossexuais, transexuais e pessoas com deficiência, entre outros grupos sociais minoritários e minorizados.
Assim, passaram a implantar políticas de diversidades, como equiparação de gênero, cor e orientação sexual. "Percebi um espaço que já havia se tornado uma bandeira de luta minha. Na empresa em que eu trabalhava, eu não via muitos negros sendo contratados para bons cargos. Decidi fazer desse assunto, o meu negócio", contou.
A ideia passou a ser real quando Patrícia começou a ser chamada para falar em grandes empresas. Aproveitou o momento e, hoje, figura como um case de sucesso, com convites de palestras para grandes empresários e em fóruns de diversidade. Também vai aumentando a cartela de clientes.
Patrícia vê nisto uma oportunidade de empregar pessoas negras para bons cargos, lugares antes quase impossíveis de alcançar. A ideia é ajudar a acabar com a desigualdade racial. Por isso, se orgulha de dizer que mudou o panorama social que haviam quando seus avós, baianos e pernambucanos, se mudarem para o Sudeste. "Eles sofreram simplesmente por terem nascido negros", diz.
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