Elas tiveram a carreira boicotada pelos ex-companheiros e hoje são sucesso
Pode parecer inacreditável nos dias de hoje escutar que o marido proíbe de trabalhar fora, mas nem sempre essa proibição é feita de forma clara. O machismo tem algumas maneiras de se manifestar indiretamente usando frases como "você não vai conseguir, já passou da idade", "seu emprego nem vai dar para pagar uma creche", "deixa as crianças crescerem mais um pouco". Nenhuma dessas afirmações convence a mulher a deixar de pensar em desempenhar plenamente a profissão que escolheu.
Normalmente, isso acontece depois do nascimento dos filhos, mas há casos que a intenção de boicote ao crescimento profissional já começa nos primeiros meses de namoro. Aqui, exemplos de mulheres que deram a volta por cima, se livraram de relacionamentos abusivos e seguiram o caminho do sucesso.
"As agressões me deram mais força"
"Fiquei casada durante 29 anos. Eu era modelo quando conheci meu ex-marido. Larguei tudo, porque já casei grávida. Passei a morar no interior com ele e fiquei bem bicho do mato mesmo. Só que amava trabalhar e não me adaptava aquela realidade. Gosto de produzir. Voltamos para São Paulo. Como estávamos sem grana, comecei a trabalhar vendendo sacos de lixo na empresa da mãe dele. Ele não chegava a me proibir de trabalhar, mas tinha uma arrogância insuportável, me agredia fisicamente e psicologicamente, vivia me chamando de burra. Por ele ser alcoólatra, o casamento se tornou ainda mais doentio. Realmente, não sei como eu, tão independente, suportei aquilo por tanto tempo.
Só que tudo tem limite e uma situação fez com que decidisse me separar. Um dia, esqueci minha cachorrinha do lado de fora da casa. Ela foi parar na casa da vizinha e morreu afogada na piscina. Senti tudo de ruim: eu a amava demais. Para piorar, passei por momentos de crueldade e humilhação. Ele falou que eu era uma assassina, que estava velha e não adiantava botox, porque meu esquecimento só pioraria. Pensei: chegou a hora de seguir e me dedicar realmente a que eu amo. Sonhava ser empreendedora, mas meu ex nunca me apoiou.
Finalmente me afastei dele. Sempre gostei de trabalhar com carros, por influência do meu pai. Abri uma franquia de vistorias automotivas. Comecei do zero e depois, com muito orgulho, me tornei uma empresária bem-sucedida no setor. As agressões dele e todas as críticas que escutei acabaram me deixando mais forte".
Márcia Zenezi, 50 anos, empresária
"Quanto menos a gente se expõe, menos as pessoas nos procuram"
"Eu comecei a fotografar profissionalmente quando tinha 25 anos. Sempre gostei de foto, mas nunca pensei em trabalhar com isso. Eu sou formada em Administração e fiz pós-graduação em Gestão de Negócios. Criei um instagram e fotografei algumas pessoas influentes por hobbie e isso tomou uma proporção que não imaginava. Chegou um ponto que o que ganhava com as fotos no final de semana era mais que o meu salário na empresa que trabalhava durante o mês inteiro.
A minha especialidade é retratar mulheres e por isso escuto histórias em que o machismo é muito forte. Tento sempre trabalhar com o regaste da autoestima feminina. Eu me relacionei com um homem superciumento, que não suportava o fato de eu expor minha imagem em redes sociais. Eu perdia vários trabalhos por conta disso por que, no meu caso, quanto menos a gente se expõe menos as pessoas nos procuram.
Eram acusações do tipo 'você quer aparecer', 'não precisa colocar foto sua e sim de quem posa para você'. Perguntei: como posso buscar o empoderamento de uma mulher se meu próprio namorado me priva disso? Resolvi terminar com ele, porque não aguentava alguém me podando. Depois disso, a minha vida profissional deslanchou e até minha autoestima ficou mais elevada. Hoje trabalho só com fotografia, minha agenda é bem cheia, fiz meu nome em Brasília e agora pretendo também atuar no Rio de Janeiro e em outras partes do país."
Kakau Lóssio, 30 anos, fotógrafa
"Só me atrasava em tudo"
"O meu ex-marido me atrapalhava por vários motivos. Tenho duas filhas com ele e sempre pediu que eu voltasse a trabalhar só depois que as crianças crescessem. Só que eu sabia que não teria como esperar filho crescer para me dedicar à vida profissional. Era um relacionamento de muito machismo, abusivo mesmo. Queria que eu vivesse só para ele e para a família. Sou publicitária e depois que tive a caçula, ele me influenciou a pedir demissão para tomar conta das crianças, já que uma creche seria muito caro. Nunca me apoiava para nada. Eu sempre trabalhei, mas ele abriu um bar e passei a me dedicar só às coisas dele. Como sempre tive uma vida ativa e independente, eu me sentia abandonada.
Passei por muitas humilhações e ofensas, pois ele jogava na minha cara que sustentava a casa. Tudo ali havia sido comprado com o dinheiro dele. Foram anos amargos e de muitas brigas. Tive até uma depressão. Meus filhos percebiam nitidamente que a mãe deles era infeliz. No final de 2016, resolvi abrir uma agência de comunicação e me separar dele. Vi que aquilo só me atrasava em tudo. Foi uma sensação de libertação e tudo mudou para melhor na minha vida. Agora estou com uma startup voltado para o mercado pet. O que posso falar é que estou muito realizada."
Ana Paula Freitas, publicitária, 38 anos.
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