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Filhos e internet: os perigos da exposição

Sem supervisão, crianças estão expostas aos perigos da internet - Istock
Sem supervisão, crianças estão expostas aos perigos da internet Imagem: Istock

Christiane Ferreira

Colaboração para Universa

07/01/2020 04h00

A internet faz cada vez mais parte da vida dos nossos filhos. Plugados, eles têm acesso a um sem fim de opções de entretenimento, educação, conexão e... perigos!

Por meio da rede, nossos pequenos ficam expostos a uma série de crimes, como o cyberbullying, assédios, pedofilia, entre outras modalidades. Cabe aos pais e adultos cuidadores tomar atitudes para evitar o que é chamado de "negligência virtual".

"É quando os pais ou cuidadores são omissos quanto à liberdade das crianças no uso da internet, aplicativos e games. Devido à falta de maturidade, elas estão vulneráveis aos riscos, o que inclui os criminosos virtuais, que agem quando as famílias estão desatentas", afirma o advogado Guilherme Guimarães, que atua na área de Direito Digital e é especialista em Segurança da Informação pela Universidade Latino-Americana de Tecnologia.

Além da exposição aos crimes, a internet, quando usada sem critério, apresenta risco ao desenvolvimento das crianças.

"Sem supervisão de um adulto, elas ficam expostas a conteúdos inapropriados à idade e ao nível cognitivo e emocional. Isso pode criar pensamentos e crenças distorcidas na forma de organizar seu mundo tanto interno quanto externo. Além disso, cria-se o hábito de elas se entreterem de modo solitário e passivo", afirma a psicóloga Bia Sant'Anna, especialista em Neuropsicologia pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).

Em um mundo ideal, as crianças deveriam estar conectadas à internet apenas sob o olhar dos pais. Na vida real, no entanto, o tempo é cada vez mais escasso e poucos são os adultos que conseguem monitorar os pequenos tão de perto. Nesses casos, é possível instalar nos dispositivos, gratuitamente, ferramentas que verificam as páginas visitadas e bloqueiam certos conteúdos.

Sempre por perto

A nutricionista Bruna Maia, 32, mãe de Maria Eduarda, 7, e Pedro Henrique, 2, acompanha de perto quando a filha está na internet. "Ela usa meu celular e tudo o que vê, pelo menos da primeira vez, eu estou junto para analisar se o conteúdo é adequado. Com relação aos vídeos tomo ainda mais cuidado e ela só os vê quando está comigo."

Bruna conta que a menina já pede um celular, algo que alguns amiguinhos da escola já possuem. No entanto, o presente só virá quando Maria Eduarda tiver dez anos. Com o filho mais novo, Bruna diz que baixou dois joguinhos de acordo com a idade.

Para a mãe, a maior preocupação é com relação à pornografia, ou ensinamentos maldosos na rede, como bullying ou práticas egoístas. "Estávamos assistindo a um desenho em uma plataforma de streaming que ensinava a bater e a não dividir as coisas. Paramos de ver, pois não é o tipo de conteúdo considero adequado", ressalta.

Diálogo é fundamental

O primeiro passo para fazer esse acompanhamento deve ser o diálogo. Os pais devem conversar com os filhos com o intuito de orientar sobre os riscos que a internet oferece. E, nessa conversa, vale estabelecer uma relação transparente e de confiança, com os adultos alertando sobre os conteúdos digitais acessados e sobre as possíveis pessoas que possam entrar em contato com as crianças.

Pais precisam tutelar o acesso dos filhos ao ambiente virtual - iStock - iStock
Imagem: iStock

"Os pais devem ter livre acesso aos dispositivos eletrônicos dos filhos, que precisam saber disso. É um combinado que deve ser estabelecido desde o início, pois a própria privacidade é uma conquista gradual", afirma a psicóloga.

Segundo Bia Sant'Anna, levando em conta a rotina corrida de muitas famílias, se for para as crianças ficarem sem supervisão na internet, os pais devem se certificar de que o programa é apropriado para a idade, se ausentando somente no tempo daquele programa, numa espécie de liberdade com assistência.

"A internet não deve ser usada como uma babá eletrônica por horas e horas a fio. Isso trará um altíssimo custo para a relação entre pais e filhos, porque eles terão deixado de criar vínculos e pontos de convergência. Nesse caso, uma boa dica é incluir as crianças nas rotinas domésticas", afirma a psicóloga.

Pais devem ter cuidado ao expor filhos nas redes

Apesar de ser possível configurar certos filtros de privacidade nas redes sociais, os especialistas entrevistados por Universa afirmam que os pais também precisam tomar cuidado com o que postam sobre os filhos, evitando um diário de atividades da criança. Tais situações abrem brechas para pessoas mal-intencionadas que monitoram as redes para obter informações sobre sua vítima e praticar crimes.

"Postei uma foto da minha filha na escola com uma roupa de rock. Depois percebi que, por conta da maquiagem, ela parecia mais velha e achei melhor tirar. Ultimamente, evito colocar até coisas sobre mim na internet", comenta a nutricionista Bruna Maia.

Como buscar ajuda

Em quase todos os estados brasileiros existem delegacias especializadas para atender casos de crimes digitais. Em São Paulo, por exemplo, há a Delegacia de Delitos Cometidos por Meios Eletrônicos (DIG/DEIC) e, no Rio de Janeiro, a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI).

É importante buscar esse tipo de informação na Secretaria de Segurança Pública de cada estado. Caso em alguma cidade ainda não exista um órgão específico para crimes na internet, basta recorrer à delegacia de polícia mais próxima.

O Disque 100, que hoje está vinculado ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), recebe denúncias de todo tipo de violência contra a criança, gratuitamente, de qualquer localidade do Brasil.