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Por que alguns casais fazem sexo para não ter que conversar?

Sexo na cama - eclipse_images/iStock
Sexo na cama Imagem: eclipse_images/iStock

Heloísa Noronha

Colaboração para Universa

10/01/2020 04h00


A importância do sexo numa relação amorosa varia de casal para casal. "Para a maioria, ao longo da convivência, o desejo vai reduzindo de intensidade, mas ele ainda existe. Em contrapartida, a amizade e o companheirismo aumentam", diz Joselene L. Alvim, psicóloga clínica e especialista em neuropsicologia.

No entanto, há casais que têm vida sexual intensa, recheada de novidades e fantasias, mas que, fora da cama, não conseguem conviver satisfatoriamente. Casais assim se mantêm juntos apenas pela química. "O sexo, então, acaba se tornando uma forma de compensar a monotonia, a falta de diálogo ou até mesmo de romance entre ambos", afirma Joselene.

Para a psicóloga e terapeuta sexual Paula Napolitano, esse tipo de atitude é mais comum do que se pensa. Não é raro ver casais que usam o sexo para evitar conversas mais profundas, muitas vezes pelo medo de que elas tragam consequências como brigas, percepção de objetivos diferentes ou separação.

"E, normalmente, quando o casal usa o sexo para evitar conversar, essa passa a ser uma boa área na vida deles, uma parte importante em que 'tudo está bem'. O sexo é um sinal de apego", diz.

Um dos fatores por trás desse comportamento é que muita gente entende que, numa relação, conversar é sinônimo de brigar. "Há formas de expressar o que se sente sem discussões, mas é preciso parar de associar conversa a briga", diz Joselene.

De acordo com a psicóloga, a comunicação na vida a dois não é um processo fácil, pois exige assertividade, escuta e respeito pelo ponto de vista do outro. Nem todos estão abertos para esse processo, pois ele pode apontar a necessidade de mudanças de uma das partes (ou de ambos) sem que haja disposição ou maturidade para isso.

Sexo como fuga

Quando há química entre o casal, o sexo é uma forma de fuga até porque o orgasmo libera hormônios como a endorfina e a serotonina, responsáveis pelo bom humor, além de estimular a ocitocina, que dá sensação de apego. "Tudo isso, ao final, dá a sensação de que os problemas estão resolvidos ", explica Joselene.

Segundo a educadora e terapeuta sexual Renata Lutz, o medo de perder o sexo incrível pode ser um dos motivos para evitar conversar sobre os problemas. "Quando uma relação está baseada no prazer, outros pontos importantes do relacionamento são deixados de lado. O sexo é um meio de comunicação, mas pode virar um meio de punição e prejudicar bastante a dinâmica do relacionamento quando vira moeda de troca", diz.

Esse tipo de relação costuma durar? Sob o ponto de vista de Paula, depende do casal, mas ela lembra que a comunicação costuma ser uma parte importante da vida a dois para alinhar vários pontos, desde a divisão de tarefas em casa e a educação dos filhos até decisões envolvendo finanças, projetos e sonhos. Só transar, por mais bombásticas que sejam as experiências, não cria uma relação saudável e duradoura.

Já Breno Rosostolato, psicólogo, educador sexual e cofundador do projeto de imersão para casais LovePlan, diz que o sexo geralmente não sustenta uma relação, a não ser que a proposta seja compartilhar algo mais informal e casual.

Ele destaca que, mesmo em relações mais descompromissadas, às vezes o sexo é usado para silenciar uma conversa desejada por um dos dois para levar o romance a um nível mais sério e profundo.

O ideal é que os casais superem as barreiras e estendam para a vida prática a intimidade e o vínculo que conseguem manter e curtir na cama. Como? Aprendendo a conversar e não fugindo do que incomoda no outro ou na relação. Para isso, é necessário dar o primeiro passo.

"Não fique esperando que a outra pessoa descubra o que lhe incomodou. Cada um é diferente, pensa e sente diferente. Diga como se sentiu diante de um comentário tóxico, por exemplo, em vez de descrever qual foi a intenção do outro, pois isso só o outro sabe", sugere Paula.

Mais importante do que falar é saber como falar, apontam os especialistas: fuja de falas impositivas e monólogos, leve em consideração os sentimentos e pensamentos alheios, evite ironias e culpabilizações. Exercite a empatia e também ouça. Tudo isso, em combinação com o sexo que já é bom, faz com que a intimidade melhore para conversas mais profundas.