Discutir a relação: o que fazer quando um casal vira refém dessa mania
O diálogo é a base de qualquer convivência afetiva saudável. Porém, há casais que exageram a dose e acabam discutindo a relação o tempo todo, o que conduz apenas à problematização exaustiva de certos detalhes ou diferenças - e não à resolução concreta.
"Todo casal atua de uma maneira própria no relacionamento, não há regras. Desentendimentos acontecem com todos e sempre haverá algumas arestas para serem aparadas na relação. É claro que conversar é importante para compartilhar experiências e opiniões. No entanto, ter uma DR todos os dias acaba cansando e desgastando o relacionamento. Questões pontuais podem e devem ser alvo de argumentação, claro, mas sem o desgaste de ficar revendo o relacionamento o tempo todo", declara a psicóloga e psicanalista Priscila Gasparini Fernandes, de São Paulo (SP).
De acordo com Joselene L. Alvim, psicóloga clínica de Presidente Prudente (SP) e especialista em Neuropsicologia pelo setor de Neurologia do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), querer iniciar uma DR a todo momento costuma indicar um descompasso entre o casal.
"Diálogo é sinal de maturidade, sim, porém a necessidade constante de debater tudo, até problemas corriqueiros, pode significar imaturidade e revelar a dificuldade de um dos parceiros para resolver algum problema. Há o risco de que essa mania gere novos desentendimentos, pois dá ênfase a fatos que nem merecem atenção", comenta Joselene.
Puxar uma DR com uma certa frequência também pode expressar a ausência de respeito pela individualidade do outro que, muitas vezes, prefere ficar em silêncio diante de uma situação para assimilar direito o que houve antes de partir para a conversa. E nem toda questão sensível precisa mesmo ser escrutinada numa DR, pois esse hábito não só tira a espontaneidade e burocratiza a relação como a banaliza e infantiliza.
Na opinião de Ellen Moraes Senra, psicóloga especialista em terapia cognitivo-comportamental, do Rio de Janeiro (RJ), em tese, um relacionamento só deveria ser discutido quando, de fato, algo de grande importância exige uma decisão ou mudança - como limites pessoais, por exemplo, ou até mesmo o futuro do casal por questões de trabalho ou objetivos de vida. "Fora isso, essas conversas se tornam discussões fúteis que só servem para minar a confiança e a vontade de estar junto. Infelizmente, muitas pessoas se acostumam com as DRs e acabam por não saber como viver sem isso. Mesmo sem razão real, cria-se um motivo para discutir, o que não é nada saudável", pontua Ellen.
Vale lembrar que, quando um contratempo ou uma dificuldade incomoda uma das partes, é preciso que sejam verbalizados e expostos, sim, até porque guardar pequenos aborrecimentos pode desencadear maiores conflitos mais tarde. "Porém, é preciso saber gerenciá-los. Dar relevância a todos os problemas pode sinalizar um desejo de que o outro resolva a situação, levando quem propôs a DR a isentar-se da mesma", diz Joselene.
Outro ponto que é importante destacar é que uma DR não deve ter como objetivo saber quem "vence" a situação, mas acertá-la da melhor maneira possível. Para isso, conforme a psicóloga clínica Solange Dair Santana Affonso, de São Paulo (SP), existem algumas estratégias. A primeiro é abrir o jogo sempre ao vivo e em cores, nunca por telefone ou WhatsApp, por exemplo.
"Na hora da conversa, é preciso manter o contato visual e investir na escuta profunda. A pessoa que deseja falar sobre algo deve começar a frase sempre com 'eu'. Ou seja, 'eu gostaria de dizer que fico triste quando...' ou 'eu me sinto oprimida quando me sinto...'. É bom conscientizar-se das sensações corporais e das emoções diante do tema discutido", explica.
Um detalhe importante, segundo Priscila, é não expor os problemas a dois - sejam eles simples ou complexos - para a família e/ou os amigos, pois as pessoas certamente irão opinar isso poderá gerar ainda mais brigas, em vez de melhorar a situação.
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