O que é uma pessoa cisgênero?
Nunca se ouviu falar tanto em gênero. Do fim das distinções binárias homem-mulher às transformações comportamentais e de relacionamentos, o termo tem motivado polêmicas e debates. A transgeneridade é um dos temas que estiveram em alta em 2019, com destaque em novela, filmes e séries. O interesse pelo tema foi tanto que alavancou também outro conceito em expansão: a cisgeneridade. Mas o que define uma pessoa cisgênero?
O termo cisgeneridade indica uma pessoa que tem anatomia, sexo e biologia alinhados com o gênero ao qual se identifica, explica o psiquiatra Alexandre Saadeh, coordenador do ambulatório transdisciplinar de identidade de gênero e orientação sexual do Instituto de Psiquiatria do HC (Hospital das Clínicas) de São Paulo.
"A identidade de gênero é completamente subjetiva e começa a se manifestar por volta dos três ou quatro anos de idade. É a noção que cada um de nós tem de ser homem, ser mulher ou ser transgênero", afirma o médico.
Segundo ele, cisgeneridade tem a ver com essa compatibilidade entre o sexo biológico e sua identificação como pessoa. Nasci macho, me sinto homem, ou nasci fêmea, me reconheço como mulher. O oposto do que ocorre com a pessoa transgênero (transexual ou travesti), que se identifica com o gênero oposto.
Cisgênero e hétero são a mesma coisa?
Nas atuais discussões sobre gênero e sexualidade pipocam conceitos, teorias, interpretações diversas e, sobretudo, divergências e dúvidas. No meio desse vespeiro, é um desafio cada vez maior não errar ou não se confundir ao falar sobre tantos termos, nomenclaturas e siglas.
Uma confusão comum é pensar que cisgeneridade e heterosexualidade são a mesma coisa. Não são. Conforme observa o psiquiatra Saadeh, se identificar como uma pessoa cisgênero não implica necessariamente ser hétero.
Ou seja, uma pessoa cisgênero pode ser gay, bi, pan, assexual ou hétero. "Orientação sexual não tem relação com identidade de gênero. Elas se desenvolvem em paralelo, são conceitos distintos", ressalta o médico. Por exemplo: um homem pode ter nascido com os órgãos sexuais masculinos, se identificar como homem, mas ter desejo sexual por outro homem, num perfil cisgênero homossexual.
As pessoas cisgênero representam 99% da população mundial, segundo dados da Associação Psiquiátrica Americana. O termo vem da química orgânica, onde está relacionado com a posição dos átomos, cis (padrão), trans (o que muda). As palavras têm origem no latim, cis em português é "da parte de cá" e trans "em frente de".
Na avaliação do especialista, a exposição maior de pessoas trans na mídia popularizou o debate sobre gênero e trouxe para as rodas de conversa também a cisgeneridade. Mais pessoas atualmente estão interessadas em entender o que está em discussão. E, na opinião do médico, isso é bom, porque pode ajudar a desfazer preconceitos.
"Na realidade, os termos cis e trans não opõem orientação e identidade de gênero, simplesmente separam em conceitos, as pessoas é que vivem essa oposição", observa Saadeh. Para ele, o desenvolvimento da ciência vem quebrando paradigmas e derrubando velhas verdades absolutas. Ele cita como exemplo o papel da anatomia, que não é mais vista como determinante. "As pessoas hoje estão querendo romper com essas caixinhas definidoras."
Futuro unissex?
Há lugares onde a igualdade entre masculino e feminino já é uma realidade. Suécia, Finlândia e Noruega adotaram o pronome pessoal neutro "hem". Seria o fim do gênero?, questiona a psicanalista e blogueira de Universa Regina Navarro em seu livro "Novas Formas de Amar" (editora Planeta). "Um futuro unissex pode e deve ser apoiado pela linguagem, porém o mais importante é o conteúdo transmitido", defende a autora.
"Falar de um modo neutro altera positivamente a mensagem para aqueles (principalmente as crianças) que não devem temer as diferenças étnicas, sociais e culturais", escreve Navarro.
Há por exemplo quem critique o binário "cisgênero-transgênero" porque agrupa lésbicas, gays ou bissexuais em oposição às pessoas transexuais. Para o psiquiatra Alexandre Saadeh, "os termos ainda são necessários e devem ser usados". Mas recomenda cuidado com a banalização das nomenclaturas, porque, segundo ele, isso pode levar a uma simplificação exagerada.
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