Por que algumas pessoas preferem trair a terminar um relacionamento?
Embora seja um assunto que só diz respeito aos "participantes", traição é um tema que mexe demais com os sentimentos das pessoas. Não é à toa, por exemplo, que qualquer história de infidelidade envolvendo celebridades desperta as mais variadas reações, mesmo que tudo não passe de boato. Nesses momentos, é comum surgirem questionamentos como "se não está feliz, por que não termina a relação em vez de trair?". Acontece que, na prática, nenhuma relação afetiva funciona assim, com verdades absolutas e atitudes racionais.
Para muita gente, a traição é um pedido de socorro. Segundo a psicóloga clínica Rejane Sbrissa, de São Paulo (SP), a insegurança é um dos motivos para ser infiel mesmo amando o par e desejando manter a relação. "Por carência, baixa autoestima ou dúvidas sobre os sentimentos alheios, a traição serve como uma forma de testar os próprios encantos, de se sentir interessante e atraente. Só que esse tipo de caso não traz felicidade, nem resgata a segurança emocional, porque, apesar de até servir para refazer a autoestima, a pessoa não refaz relação com o parceiro", comenta. A explicação é óbvia: não dá para consertar um relacionamento fora dele, sem expor o que incomoda ou machuca na convivência numa conversa franca a dois.
Para Carmen Cerqueira Cesar, psicoterapeuta e terapeuta de casais da capital paulista, outro motivo é a falta de coragem de colocar um ponto final no relacionamento. A traição, então, seria uma forma inconsciente de levar o outro a tomar a iniciativa. "Isso é muito comum. A pessoa não se posiciona, nem tem maturidade para ser honesta e dizer que acabou, que não quer mais continuar. Então trai, deixando rastros propositalmente, para que o par descubra tudo. E, quando isso acontece, volta e meia aquele que trai inventa uma desculpa esfarrapada como forma de não se responsabilizar pelo término, deixando de enfrentar a situação de forma transparente e cuidadosa", afirma Carmen.
A máxima de "procurar fora o que não existe na relação" também pode justificar a atitude nos casos em que a pessoa trai, mas não quer se separar. "Boa parte das traições é antecedida por sinais de insatisfação ou carência, nem sempre compreendidos, mas que causam uma sensação de descompensação. Trair é buscar a compensação", conta Eduardo Rocha, especialista em PNL e graduando em Psicologia, de Brasília (DF).
Encontrar alguém para compor um triângulo amoroso pode, em princípio, equilibrar e até melhorar a relação "oficial", mas só por um certo período de tempo. O risco de as pessoas saírem magoadas é enorme. "Além disso, é uma situação que não deixa de ser um tipo de fantasia, pois há nessa 'montagem' uma idealização de uma relação amorosa. Ou seja, já que não existe ninguém perfeito, então eu vou pegar um pouquinho de cada e fazer uma pessoa inteira conforme o meu bel-prazer. E, aí, eu não me frustro, mas será mesmo que dá pra ser assim?", pondera Carmen.
Priscila Gasparini Fernandes, psicóloga e psicanalista, de São Paulo (SP), lembra que as pessoas amadurecem e mudam valores e objetivos ao longo da vida, algo que, num casamento, requer evolução conjunta através de diálogo e companheirismo. "Quando partem para buscar fora do relacionamento o que sentem falta, sem diálogo, é porque desistiram do que têm para tentar algo novo. O ideal seria tentar consertar o que acredita que não está bom ou terminar a relação antes de iniciar outra. Mas, na prática, as coisas não são tão certinhas", comenta.
Algumas pessoas, no ponto de vista de Carmen, resolvem trair porque trata-se de uma situação meio-termo, que não é definitiva nem radical. "É um arranjo no qual mantêm a ilusão de que podem ficar com tudo, pois não querem perder nada. Pode parecer mais cômodo não ter que se posicionar e não ter que abrir mão de nada. Só que a vida não é assim...
Em alguns momentos ela exigirá escolhas, que implicarão em ganhos e em perdas. Para enfrentar esses conflitos internos, é necessário ter maturidade e um ego bem desenvolvido para lidar com as emoções envolvidas, tanto as internas quanto a as da família e do amigos. Às vezes, a pessoa evita tomar uma decisão e trai porque tem medo do julgamento dos outros", ressalta a terapeuta de casal. "O melhor a fazer é abrir o jogo sobre o que vem fazendo falta ou o que não está bom no relacionamento, em vez de arriscá-lo em circunstâncias que podem dar errado e se tornarem irreversíveis", endossa Priscila.
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