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Cosmético vegano ou natural? Entenda o rótulo de seus produtos de beleza

Natália Eiras

De Universa

20/01/2020 04h00

É inegável que a procura por cosméticos éticos está ganhando importância entre os aficionados por beleza: no Reino Unido, 50% dos consumidores buscaram, em 2018, produtos ditos naturais. De acordo com relatórios de tendência da consultoria Nielsen, o mercado de cosméticos orgânicos devem crescer 8,5% nos próximos sete anos, enquanto 75% dos millennial já procuram produtos sustentáveis. A Reds, empresa especializada em pesquisas para estratégia, fez, com exclusividade para Universa, um levantamento segundo o qual pelo menos 34% das brasileiras consomem cosméticos naturais como maquiagem e produtos para o rosto e corpo.

Assim como o internacional, o mercado brasileiro tem fôlego para crescer. Mas, segundo Karina Melaré, diretora executiva da Reds, há um desafio pela frente: mostrar que cosméticos éticos são tão eficientes quanto os outros.

"Entrevistamos 991 mulheres dos 18 aos 54 anos, das principais regiões metropolitanas do país. Elas têm muita desconfiança em relação à performance desses produtos, já que se fala pouco sobre os ativos deles", diz a executiva. O preço também é um impeditivo para que os cosméticos éticos se tornem mais populares. "Elas acham que, por acreditarem que eles não sejam tão eficientes, o preço a se pagar é alto." O que pode mudar essa concepção é o movimento de grandes empresas, como Unilever e Natura, em investir nesse segmento. "70% das nossas entrevistadas têm uma visão positiva desses produtos", afirma. Karina.

A cosmetóloga Joielle Mendonça afirma que outro desafio é a falta de informação dos consumidores sobre o que difere os tipos de cosméticos verdes. "O Brasil não tem nenhuma legislação e o mercado tem usado os rótulos de produtos veganos e orgânicos como puro marketing, já que as pessoas têm 20% mais chances de gastar em um cosmético dito natural." Para que um sérum ou hidratante receba o selo de cosmético verde, ele precisa atender algumas exigências internacionais e ter algumas especificidades. A especialista explica cada um deles:

Cosmético natural

Para ser considerado natural, um cosmético tem que ter pelo menos 95% de ingredientes naturais — que podem ser processados ou beneficiados quimicamente — na composição e 5% de ingredientes orgânicos, de acordo com a legislação internacional. "Um ativo natural tem origem de um ser vivo encontrado na natureza, seja ele de origem vegetal ou animal", afirma Joielle. Por isso, nem sempre um cosmético natural é vegano. "Ele também precisa desempenhar uma atividade biológica ou farmacológica no embelezamento da pele." A vitamina C, por exemplo, é um ativo natural, já que pode ser extraída do suco de laranja. Porém, a substância não precisa chegar ao consumidor final em seu estado bruto, mas enriquecida e potencializada em laboratório.

Cosmético orgânico

"É o produto cuja composição tem 95% de matérias-primas certificadas como orgânicas", diz Joielle. Para um composto, seja vegetal ou animal, ser considerado orgânico, ele não pode ter sofrido nenhuma alteração química ou hormonal ao longo do processo. "Desde o preparo do solo, plantio, até a colheita", diz a especialista. O ativo não pode passar por nenhum beneficiamento químico, mas pode ser processado em laboratório. "Com solventes sustentáveis e biodegradáveis." O produto pode conter conservante, mas ele também precisa ser certificado. "Para ter certeza que o cosmético é orgânico, procure pelo selo COSMOS, reconhecido internacionalmente."

Cosmético vegano

"É aquele que é totalmente isento de ingredientes de origem animal e não foi testado em animais", afirma Joielle Mendonça. É comum as pessoas confundirem cosméticos veganos com naturais, porém, na busca por elementos que não tenham origem animal, a indústria pode lançar mão de alternativas sintéticas. Assim, o cosmético vegano pode ou não ter ativos naturais ou quimicamente modificados. "É possível ter um cosmético que pode ser natural, orgânico e vegano, mas não necessariamente eles estão todos ligados."

Sem crueldade animal

O selo The Leaping Bunny, cedido pela Cruelty Free International, atesta que um produto é feito sem crueldade e sem testes em animais em todas as suas etapas, incluindo os fabricantes de ativos que compõem o cosmético. "Para eu te vender um produto final, tenho que ter certificado que cada fornecedor meu tem esse selo registrado", diz Joielle. Isso não impede, no entanto, que o produto tenha ativos de origem animal. "Desde que seja extraído sem causar sofrimento animal".

Cosmético sustentável

É o produto que nasce de um movimento de maior vegetalização das fórmulas e que busca diminuir o impacto ambiental de sua linha de produção. "Um exemplo são os produtos da Natura, que criou pontos de apoio na Amazônia e beneficiou comunidades locais, que extraem os ativos vegetais". O cuidado com os dejetos também é importante para que um cosmético seja sustentável. "As fabricantes que têm essa consciência procuram usar, em sua linha, 100% do ativo para que ele não volte para o ambiente em forma de lixo." Mais uma vez, isso independe se o produto tem origem animal ou não.