Pansexualidade: o que quer a orientação sexual que deseja todos os gêneros
LGBTQIA+ já é uma sigla extensa e complexa, mas o bonde da diversidade tem tudo para aumentar. E a sigla da vez é o "p", de pansexual, que busca abarcar quem sente atração física, desejo sexual e amor independentemente do sexo ou identidade de gênero.
Não tão conhecido e muitas vezes confundido com a bissexualidade, o termo vem se popularizando e deve entrar em foco nos próximos meses. Dezenas de artistas recentemente se assumiram pansexuais, como a queridinha da Disney, Miley Cyrus, a cantora Jannele Monáe e também as atrizes Bella Thorne e a brasileira Clara Gallo que, não por acaso, vive Rafa, jovem de 18 anos, pansexual e de gênero não-binário, protagonista da série original da HBO Latin America "Todxs Nós", com estreia prevista para este ano.
O "x" no título da série não foi um erro de digitação. Pronuncia-se "Todes" e se trata de uma linguagem neutra, que busca desconstruir o binarismo masculino e feminino na fala -proposta que é defendida por ativistas LGBT. Ter um elenco alinhado com essas ideias foi um dos critérios da produção.
A atriz Clara Gallo em entrevista a Universa fez questão de usar a linguagem neutra. Ela conta ter trazido para a série elementos de sua própria vivência. E defende que pansexualidade tem a ver com liberdade.
"É se permitir 'atraídx' por qualquer pessoa, não será o gênero que definirá por quem você se vai se apaixonar ou se interessar, é muito libertador para a sexualidade."
Recentemente, o assunto foi parar na animação da Netflix "Big Mouth", onde uma personagem se identifica como pansexual. Mas o filme foi acusado pela comunidade LGBT de tratar o tema de maneira estereotipada com explicações simplistas que reforçariam preconceitos.
Bissexuais são definidos como "binários demais" e "pansexuais" como quem sente atração por "garotos, garotas e tudo que estiver no meio". Um dos diretores da série, Andrew Goldberg, acabou se desculpando nas redes sociais, assumindo que tinham "errado feio".
Conceitualmente, a bissexualidade é definida como a atração por mais de um gênero, em geral homem ou mulher. Diferentemente da pansexualidade, que abarca todos os gêneros.
A questão também já ganhou espaço nos quadrinhos da Marvel, mais um termômetro de que ainda vamos ouvir falar muito sobre o tema. O anti-herói Deadpool, na HQ e no cinema, já deu bandeira sobre sua orientação sexual mais fluida e flexível.
"É a caixinha da vez", comenta Alexandre Saadeh, coordenador do ambulatório transdisciplinar de identidade de gênero e orientação sexual do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
"A pansexualidade tem a ver com essa noção de que o ser humano é livre para transar com quem quiser, não precisa ser homem ou mulher, pode ser trans, não-binário, quem quer que seja", afirma. O médico acredita que a possibilidade de uma orientação mais fluida é ainda mais determinante no caso dos jovens, porque ainda estão desenvolvendo, amadurecendo e descobrindo sua sexualidade.
Quando nomear é importante
A série "Todxs Nós" com oito episódios de 30 minutos, criada por Vera Egito, Heitor Dhalia e Daniel Ribeiro, não trata apenas da pansexualidade. O filme passeia por diferentes temas do universo LGBT. Clara destaca, por exemplo, a complexidade de Rafa, sua personagem, que se define como de gênero não-binário.
"Essa questão da não-binariedade e do uso da linguagem neutra me trouxe muita reflexão sobre a estrutura toda binária da sociedade", observa a atriz. Questionamentos como esse, sobre estereótipos de gênero, marcaram a produção da série desde o início, complementa a diretora Vera Egito.
"A não-binariedade desperta muito debate, me levou a reflexões profundas, por exemplo, sobre que é de fato ser mulher, ser homem, a resposta mais sincera que encontrei até o momento é de que se trata de algo muito subjetivo", diz Vera.
No caso da série, a decisão foi assumir a bandeira da neutralidade de gênero. Por isso o nome, "Todxs Nós", com o "x" no lugar de pronomes masculino ou feminino. A diretora afirma não temer problemas por causa da leitura do título, e acredita que o idioma terá que, mais cedo ou mais tarde, se adaptar, incorporando esse demanda da sociedade. "O idioma é algo vivo, é uma expressão cultural que pode se modificar a partir da necessidade de seus falantes."
A não-binariedade e a pansexualidade são coisas distintas, uma é gênero e a outra é orientação sexual, mas, ainda assim, possuem "relações bem íntimas", observa o psiquiatra Alexandre Saadeh. "Ambos representam uma quebra de paradigmas e estereótipos de gênero e sexuais de modo geral."
Ser pansexual e não-binário, caso de Rafa na série, para o especialista, é algo relativamente comum hoje entre jovens, justamente por confrontar as categorizações predominantes e hegemônicas da sociedade. "Está alinhado com uma nova visão de liberdade e independência sexual."
No guarda-chuva da diversidade de gênero e das sexualidades, novas letras chegam à sigla. "As pessoas precisam de um nome para si mesmas", argumenta Saadeh. "Poder pertencer a uma tribo, saber que não se está sozinho dá uma certa tranquilidade." O médico, entretanto, chama a atenção para o fato de que o mais importante é que sexualidade seja vivida de uma maneira livre e integral, a despeito de definições ou siglas.
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