'Barriga ok': sem vergonha de usar biquíni, elas ditam verão do corpo real
Sol, praia e a inerente exposição do corpo para gerar a "marquinha ok" do biquíni. Apesar de isso tudo ser um combo empolgante para quem curte o verão, também costuma ser motivo de trauma para muitas mulheres. Pressionadas para se encaixar em padrões estéticos, elas se escondem sob camisetas, só usam maiô para não mostrar a barriga ou, para evitarem olhares preconceituosos, sequer frequentam as areias ou a piscina nos dias de calor.
Era assim que se sentia a empresária Ana Paula Ribeiro Gudiel, 24 anos, de Umuarama (PR). Até ela ser uma das mulheres a aderir à hashtag "Corpão de Verão" no Instagram, incentivada pela modelo curvy Letticia Muniz.
Para que mulheres se sintam mais à vontade com seus corpos, Letticia deu o pontapé inicial a um movimento de publicações, nos Stories e no feed, de fotos de corpos reais. Sem edição, sem camisetas, sem vergonha. Como se dissessem: "Barriga ok".
Primeira vez sem camiseta na praia
Neste verão, Ana Paula foi a uma praia em Florianópolis. E, em um gesto de autoaceitação, resolveu tirar uma foto de corpo inteiro, só de biquíni. Foi a primeira vez que circulou entre o mar e a areia sem uma blusa tampando parte do seu corpo.
"Mesmo na hora em que eu estava tirando a foto, senti alguns olhares me repreendendo. Mas eu não liguei, porque eu estava com as pessoas que eu gosto, na praia que eu gosto", conta para Universa.
Não foi de uma hora para outra, no entanto, que Ana Paula entendeu como respeitar seu corpo — e exibi-lo e vesti-lo como bem quer — é muito libertador. "Hoje eu gosto do jeito que ele está. Tenho uma saúde legal e já não tenho mais a vontade de seguir um 'padrão de beleza'", diz.
"Mas eu já fiz dietas absurdas. Fiquei até 20 horas de jejum, a ponto de passar mal quando comia. Tomava remédio para emagrecer, com efeitos colaterais fortíssimos. Foi bastante difícil até eu me aceitar e entender que eu tenho um corpo lindo."
Abandonar a camiseta sobre o biquíni também foi a contribuição ao movimento "Corpão de Verão" dada pela coordenadora pedagógica Samira Nunes, 31, de Governador Valadares (MG).
A publicação, para ela, se tornou mais um passo no "processo de se amar" pelo qual tem passado. "Foi um ato de coragem tirar a foto na praia e publicar. Eu tenho problemas com minha imagem e vejo como a representatividade de pessoas públicas, como a Letticia Munniz, é importante para desmistificar isso", afirma.
Senti que isso fez parte do processo de me amar como eu sou. Afinal, esse é meu corpo, eu vivo dentro dele, e não cabe a ninguém dizer como ele deve ser.
Barriga pós-parto... e ir à praia?
Mesmo morando em uma cidade praiana, no Rio de Janeiro (RJ), a porta-bandeira da escola de samba Unidos da Vila Kennedy, Amanda de Almeida dos Santos, 25 anos, ficou por mais de um ano sem ir à praia para tomar sol.
Isso aconteceu depois de ela dar à luz Nádia, hoje com 1 ano e seis meses. Desde então, precisou se adaptar à nova aparência de sua barriga pós-parto.
Por ter tido polidramnia, quando há muito líquido amniótico durante a gestação, a barriga de Amanda ficou grande. Surgiram estrias e flacidez. "Minha barriga ficou outra depois que ela nasceu. Foi uma mudança muito repentina", conta.
É mais fácil defender a liberdade do corpo para os outros. Então, para mim, foi um ato de coragem mostrar minha barriga no Instagram.
A porta-bandeira diz que a gravidez gerou marcas em outras partes do seu corpo, mas que a área mais difícil para ela aceitar essa transformação foi a barriga.
"Na verdade, eu sequer me olhava no espelho. Foi preciso muita terapia, e esperei existir um pouco de amor-próprio para conseguir ir à praia, porque eu só tinha ido com minha filha uma vez, rapidinho."
Para ela, deixar de seguir pessoas com "corpos de capa de revista" no Instagram e se inspirar em mulheres com corpos reais faz parte dessa revolução interna.
"Com a hashtag Corpão de Verão, eu me senti acolhida. Fiquei procurando muito tempo mulheres com corpos parecidos com o meu, porque a gente sabe que existe, mas que poucas expõem."
Não é um ato de coragem, é de amor
Modelo plus size, Raissa Gomes de Oliveira, 22 anos, de Belo Horizonte (MG), publica fotos em seu feed do Instagram em que aparece de biquíni não motivada pela coragem — e, sim, por amor a si própria. "Coragem eu tenho que ter para enfrentar as críticas todos os dias", pondera.
A história de Raissa tem episódios de gordofobia desde sua infância. "As pessoas sempre me chamavam de 'bolo fofo', gorda, obesa e vários outros apelidinhos sem graça. Isso me frustrava bastante", conta.
O bullying acabou afetando a forma com que se relacionava com si mesma e com os que a cercavam. "Comecei a ficar violenta com as pessoas porque era assim que eu me sentia segura. Depois, passei a me enxergar feia e chorava o tempo todo porque não tinha o tal 'corpo prefeito'. Eu não estava feliz comigo mesma, e descontava toda a minha revolta na comida."
Passar a se enxergar com mais carinho, ao mesmo tempo, foi uma tarefa precoce na vida da modelo. "Aos 13, eu mudei radicalmente. Parei de ligar para a opinião dos outros. Comecei a usar as roupas que eu queria e mostrei a beleza que havia dentro de mim, não só de corpo. Era de mente e espírito."
Perfis de corpos reais: para seguir e se inspirar
Com fotos e textos que falam sobre a naturalização de corpos, o perfil da modelo Letticia Munniz é uma das indicações para quem quer passar a acompanhar mulheres reais no feed do Instagram.
O termo também é usado pelo perfil de ilustrações de Mabi Calvano, o "Projeto Mulheres Reais", que traz situações e pensamentos de combate à gordofobia.
Mais perfis para seguir no Instagram: o da cantora Preta Gil, o da ex-BBB Rízia Cerqueira, o da youtuber Raissa Galvão, a Ray Neon, e o da rapper Preta Rara.
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