Clínica diz que não faz bronzeamento em transgêneros: "Limitações técnicas"
Transgêneros não podem ter aquela marquinha de biquíni caprichada feita com fita isolante, pelo menos na clínica Salvador Bronze, na capital baiana. Na página do Instagram, seguida por pouco mais de seis mil pessoas, a justificativa é a de que há uma limitação técnica para o procedimento. Num comunicado, lê-se ainda que a clínica repudia "quaisquer atos discriminatório (sic), seja social, racial ou sexual". Universa tentou entrar em contato com os responsáveis, mas não obteve retorno até o fechamento da matéria. Keila Simpson, da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) fala em "desculpa esfarrapada".
Um caso semelhante aconteceu no Rio de Janeiro, em 2018, quando a MC carioca Pamela Belli, 24, tentou agendar um horário em uma clínica de bronzeamento com fita isolante na Tijuca. Ela é transexual e perguntou à proprietária do lugar, via WhatsApp, se haveria algum problema em passar pelo procedimento. Foi quando teve o atendimento recusado.
"Tenho dois trabalhos para o final de semana e estava muito a fim de ficar bronzeada. Então entrei em contato para ver se tinha horário. Do nada, resolvi falar da minha situação [ser trans], por questão de não ser tratada diferente. Porque tenho certa passibilidade, já fiz minha transição completa. Ela negou atendimento apenas com a justificativa que só faz em mulheres", contou à Universa na época.
Na avaliação de Keila, está clara a transfobia. E explica:
"Primeiro, colocam uma mensagem (na descrição da página) que atende mulheres, exceto trans. É uma forma muito velada de discriminar um tipo de pessoa. E após as reações negativas, publicam um post falando de incapacidade técnica, mas não explica de que e para quem. Uma desculpa das mais esfarrapadas que provavelmente deram por não querem sofrer retaliações nem processo. Acho uma forma dissimulada de tentar fazer uma emenda, mas ela saiu pior que o soneto".
O defensor público federal Erik Boson, coordenador do Grupo de Trabalho Identidade de Gênero e Cidadania LGBTI da DPU (Defensoria Pública da União), também vê transfobia:
"Excluir as pessoas trans do atendimento, ainda que sob o pretexto de 'limitações técnicas', me parece um evidente ato de transfobia. Embora do ponto de vista jurídico, em tese, seja possível fazer algumas distinções que atendam limitações concretas, para que tal impedimento não fosse transfóbico, deveriam de fato existir 'limitações técnicas'. Mas como a pele de pessoas trans é tão pele quanto a pele de pessoas cis, não imagino como possa existir 'limitação técnica' que atinja todas as pessoas trans e nenhuma pessoa cis".
Nas páginas de discussão sobre transgêneros, internautas endossam o discurso de Keila e Boson:
"Se o problema for a limitação ou não saber lidar com mulheres trans, existem formas melhores de especificar isso em uma plataforma da empresa, ainda mais sendo de forma pública. A forma de expressão ali é transfóbica, já que insinua que mulheres trans não são mulheres", escreveu uma seguidora. "A página foi infeliz quando citou o gênero ao invés da genitália. Talvez pudesse fazer restrição a pênis, por exemplo", opinou outra.
Mas outros seguidores defendem:
"Para atender as trans tem que ser alguém que entenda a gente. Se ela não é apta para isso, ela já deixou especificado. Vamos prestar atenção. Nem tudo é transfobia. Afinal, é um direito dela atender quem ela quiser", concluiu outra pessoa. "Não acho que foi tranfobia, só é uma empresa limitada e insuficiente", opinou outra.
A moda da marquinha do bronze feita com fita adesiva na pele começou em 2017 com a carioca Erika Martins, que na laje de seu sobrado, em Realengo, na zona oeste, espalhou cadeiras, confeccionou os biquínis de isolante e inventou um creme que entrega, em uma hora, o bronzeado de um final de semana inteiro. Artistas como Anitta, Tati Quebra-Barraco e Ludmilla já aderiram.
Mas ela não se restringiu apenas ao público feminino: barraquinhas do Piscinão de Ramos, na zona norte do Rio, passaram a fazer também sungas de fita em homens.
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