"Gozei muito mais quando parei de me preocupar em agradar na cama"
Falar sobre sexo sem vergonha, sempre na primeira pessoa: é isso que a fortalezense Lua Menezes, de 29 anos, gosta de fazer. Escritora e terapeuta sexual, ela defende que é preciso ir além das teorias. "O sexo pede profundidade, experiências, emoções", diz. Hoje vivendo com o namorado na cidade de Auckland, na Nova Zelândia, mantém uma conta no Instagram com 60 mil seguidores na qual publica fotos e textos eróticos, e um curso online de sexualidade voltado para mulheres.
Mas nem sempre Lua foi bem resolvida. Principalmente durante a adolescência, sentia dificuldade em atingir orgasmos pela preocupação em ter uma performance memorável. "Queria ser lembrada pelas pessoas com as quais saía, ser considerada boa de cama. Com isso, esquecia do meu próprio prazer". A seguir, ela conta sua trajetória de autoconhecimento:
Conhecendo o corpo
"Na infância, minha consciência corporal começou através das limitações. Nasci com o chamado 'pé torto' e sentia muitas dores. Aos três anos precisei passar por uma cirurgia ortopédica. Uma das recomendações dos médicos foi que eu fizesse aulas de balé para ajudar a corrigir o problema. No início eu gostava, mas aos dez anos percebi que, por ter um encurtamento do tendão, não conseguia realizar alguns dos movimentos mais importantes da dança. Aquela sensação de 'eu não consigo', 'meu corpo não é capaz' ficou marcada em mim por muito tempo"
Descoberta da sexualidade
"Considero que tive um processo saudável de descoberta da sexualidade. Fiz o que a maioria das crianças faz: roçar no travesseiro, descobrir que ali existe alguma coisa prazerosa. Logo percebi que era capaz de gozar, mas me masturbava sempre do mesmo jeito. Além disso, demorava muito para atingir o orgasmo"
"Fui chamada de puta"
"Depois que iniciei a vida sexual, tive vontade de experimentar de tudo. Fazia o que queria: sexo a três, com homens, com mulheres, na maioria das vezes casual. Por causa disso fui chamada de puta.
Do ponto de vista do prazer, foi um período de autodescoberta, mas uma coisa atrapalhava o processo: queria sempre agradar. Eu fazia de tudo, gostava de me destacar pela falta de vergonha. No fundo, estava me submetendo a uma aprovação masculina. Por causa disso, ficava tensa e nem sempre conseguia gozar.
Outro hábito que adquiri foi o de ir embora logo depois do sexo. Fazia isso porque um colega de escola, na adolescência, disse que os homens sentiam vontade de chutar a mulher da cama depois de transar. Um absurdo. Na verdade acho que ele, na época, nem tinha experiência no assunto. Mas aquela crença ficou enraizada em mim e, ainda que a pessoa me pedisse para ficar, eu me sentia estranha, então na maior parte das vezes me vestia e ia para casa"
Crise e reinvenção
"Meu sonho era trabalhar como atriz: me formei em teatro, fiz mestrado em artes cênicas. Mas quando o governo cortou a verba destinada à cultura, minha vida se transformou. Eu praticamente pagava para me apresentar. Além da crise profissional, vivi também uma crise afetiva, pois o rompimento de uma relação deixou meu coração aos pedaços. Nasci em Fortaleza (CE), mas na época morava em Natal (RN). Aos 26 anos, decidi largar tudo e fui para São Paulo tentar a vida.
Chegando na capital, decidi fazer um curso de tantra. Na faculdade, estudei muito sobre sexo, mas sentia falta de colocar meus aprendizados em prática. Pesquisei, encontrei um centro tântrico e passei a morar nele. Como não tinha muito dinheiro, custeava a estadia auxiliando na manutenção do local. A rotina era bem regrada: meditávamos pelo menos duas vezes por dia e todas as noites praticávamos as massagens. Me joguei na experiência e, apesar de um pouco cética no início, saí de lá transformada.
Entendi que a sexualidade feminina é muito poderosa e por isso sofreu tantas repressões através dos anos. Por causa delas, todas nós já tivemos o pensamento de que não somos capazes, seja de atingir um orgasmo, seja de desenvolver uma troca sincera com alguém"
Problemas femininos
"Hoje trabalho como terapeuta sexual e percebo que um dos maiores erros das mulheres é tentar imitar o que assistem na pornografia. Muitas se queixam de não conseguir gozar, mas repetem sempre as mesmas posições 'britadeira': o homem penetra sem nem encostar no clitóris. Eu costumo brincar que, nesses casos, nem dá para explorar a parte psicológica: o problema é anatômico. Eu, por exemplo, sinto muito prazer na penetração, mas ela precisa ser lenta e profunda, porque tenho uma sensibilidade grande no colo do útero.
Porém, o que funciona bem para mim não vai funcionar bem para todas as mulheres. Por isso sou uma grande defensora da masturbação: fico triste quando percebo que existem mulheres que nunca colocaram o dedo na própria vagina, sentiram o próprio cheiro. Mas sei que todas, sem exceção, carregam em si a potência do orgasmo. Essa é a nossa energia de vida. Basta ter paciência e estar disposta a desconstruir o que aprendeu para conseguir chegar lá".
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