Jovem é morta e suspeito vai ao velório. "Audacioso", diz mãe da vítima
Dois dias depois de sair de casa para encontrar os amigos, a jovem Layane Aparecida da Silva, 19 anos, foi encontrada morta, no último dia 20, em uma área de mata em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba (PR). Antes de confessar o crime e ser preso preventivamente, o suspeito, um vizinho de Layane e colega de seu irmão, foi ao velório da vítima.
Layane era a caçula da empregada doméstica Maria Inês da Silva, 56. Segundo a mãe da vítima, ninguém desconfiava do rapaz, que tem 25 anos. Ele era considerado calmo e visitava a igreja com o irmão de Layane na adolescência. Foi a própria família da vítima que, por meio de uma rede social, ajudou a polícia a chegar no vizinho.
"Ele foi ao velório", diz a mãe, inconformada, a Universa. "Meu filho o conhecia porque fizeram juntos o crisma. Ele estava no velório na madrugada e durante o dia. Essa audácia surpreendeu. Foi muito sangue frio e audacioso. Como pode fazer isso conhecendo todo mundo na vila?", desabafa Maria Inês, que já havia perdido a primeira filha há 21 anos, vítima de atropelamento.
Responsável, sempre avisava onde estava
No sábado dia 18, Layane sumiu depois de sair com amigos para uma tabacaria. Tranquila e responsável, a jovem sempre avisava sobre os lugares onde frequentava e as pessoas com quem andava.
A desconfiança que algo de errado acontecera surgiu no amanhecer de domingo, quando Maria Inês não viu a filha em casa. A família ainda esperou por mais um dia. Quando registraria o Boletim de Ocorrências sobre o desaparecimento, um vizinho avisou de um corpo encontrado a cinco quadras da casa onde Layane residia. A aflição virou desespero.
"Ela gostava de sair para baladinhas, pois tem 19 anos. Tomava a sua cervejinha, mas sempre avisava de tudo", conta a mãe. "Comecei a me preocupar no domingo de manhã porque ela saiu no sábado à noite. Perguntava para todo mundo e ninguém tinha visto nada. Quando deu segunda de manhã, fomos atrás dela. À tarde, quando estava preparada para fazer o BO, veio a notícia de que um corpo foi encontrado. O vizinho chamou e a esperança acabou. Foi um desespero."
Segundo a Polícia Militar, Layane foi encontrada em uma área próxima ao Aeroporto Afonso Pena, no bairro Jardim Aviação. O corpo estava sem vestimentas na parte inferior e com marcas de queimadura. Um laudo do Instituto Médico Legal ainda revelará a causa da morte e se a garota sofreu algum tipo de abuso sexual.
Maria Inês conta que o filho, de 27 anos, não a deixou ver o corpo de Layane. O caixão permaneceu fechado durante todo o velório. Por um lado, a doméstica lamenta não ter visto a filha pela última vez. Por outro, destaca a sensibilidade do primogênito de tentar poupá-la de uma dor ainda maior.
"Meu filho não me deixou reconhecer o corpo e o caixão ficou lacrado, mas pelo menos ficarei com a imagem dela alegre e sorrindo", diz.
Família chegou ao suspeito pelas redes sociais
Ao mesmo tempo em que compartilhavam o luto entre si, os parentes de Layane buscavam provas para auxiliar a Polícia Civil na elucidação do caso. A vítima não tinha celular e usava o da mãe para acessar o Facebook. Nele, a família encontrou as últimas mensagens, que indicavam o vizinho como a última pessoa com quem a jovem esteve.
"Minha sobrinha entrou no meu celular até que conseguiu acessar o Facebook dela. Chegando a delegacia, meu filho leu uma mensagem e disse 'é ele' [o suspeito]. Passamos para a polícia e o suspeito acabou confessando", relata Maria Inês.
O vizinho de longa data foi preso entre o fim da tarde e o início da noite de terça-feira. Familiares e demais moradores da vizinhança chegaram a comparecer na Delegacia da Mulher em São José dos Pinhais e acompanhar, com protestos, a chegada do rapaz. "A polícia está agindo rápido em tudo. Acho que minha filha, lá de cima, está dando uma forcinha para quem ficou aqui", diz Maria Inês.
Na delegacia, o suspeito confessou o crime e alegou legítima defesa por ter sido supostamente agredido por Layane. Ele ainda disse que não praticou abuso sexual contra a garota, argumentando que as roupas saíram enquanto arrastava o corpo. A Polícia Civil do Paraná não soube informar se ele já havia constituído advogado para defendê-lo.
Queria trabalho para "mimar a sobrinha"
Layane morreu a menos de um mês de realizar um sonho familiar. Ela aguardava ansiosamente pela sobrinha, prevista para nascer nas primeiras semanas de fevereiro. A jovem já estava tão ligada à bebê que foi ela própria quem escolheu o nome da criança: Maria Joana.
O nascimento era a motivação para Layane arrumar um emprego. Faltando apenas mais um semestre para encerrar o curso técnico em ciências contábeis, ela já pretendia conseguir um trabalho para "mimar a sobrinha", segundo conta a mãe.
"Ela estava distribuindo muitos currículos. Dizia que queria um emprego bom para mimar a sobrinha e que eu iria parar de trabalhar e ainda ajudar os gatinhos dela. Era esse o tipo de sonho, coisas simples, que ela tinha", emociona-se a mãe.
Para a família, a justificativa de legítima defesa do suspeito não convence. Layane era conhecida por não se envolver em confusões e possuía temperamento bem tranquilo.
"Ela era muito humilde e não se importava se a pessoa era moradora de rua, velha, nova, branca ou negra. Todo mundo era gente boa. Não tinha maldade, e por isso deve ter acontecido isso com ela. Era bem discreta", diz Maria Inês.
"Layane também não era agressiva. Ele [suspeito] está arranhado porque minha filha lutou com todas as forças dela. Jamais iria deixar alguém tocar em um fio de cabelo sem permissão. Lutou muito para viver. Claro que iria se defender e lutar até a morte."
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