"Ele dava sinais de ciúme excessivo", diz irmã de mulher morta por namorado
A comerciante Viviane Santos de Freitas, de 36 anos, namorava fazia apenas dois meses quando foi morta, em dezembro do ano passado, com uma facada no pescoço por seu companheiro. O crime aconteceu em uma festa de família em São Vicente, no litoral de São Paulo, após uma discussão durante uma crise de ciúme.
Valeska Santos de Freitas, 38, irmã da vítima, conta que o acusado, Bruno Simões dos Santos, 34, já dava sinais de ciúme excessivo. Entre outros desmandos, ele teria deixado o emprego para trabalhar no comércio de Viviane, uma copiadora, alegando não conseguir ficar muito tempo sem vê-la.
"Terminando uma conversa à noite, ele fazia chamada de vídeo para saber se ela não tinha trocado de roupa, se estava de roupa de dormir mesmo", diz a irmã. "São detalhes que a gente não percebe, mas que vão acontecendo. E como ela ficou alimentando isso? Ninguém entende."
Segundo a família, Viviane nunca permitira antes que nenhum namorado a tratasse mal. Pelo contrário: ao perceber qualquer indício de personalidade abusiva, terminava o relacionamento.
Santos foi preso em flagrante pela polícia. Segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo, ele passou por audiência de custódia em dezembro e teve a prisão preventiva decretada. O suspeito teve ainda um pedido de liberdade negado e segue preso, aguardando o julgamento.
Tumulto na festa de família
Na noite do dia 19 de dezembro, Santos acompanhou a namorada até a festa de aniversário do cunhado, que Viviane ajudara a organizar. Durante a comemoração, Santos achou que Viviane estava olhando para outro homem e começou uma discussão com ela. A comerciante negou a acusação. "Daí ele surtou e começou a ficar nervoso mesmo", recorda Valeska.
Alterado, Santos ainda disse para a família que estava armado, mas foi repreendido e afirmou que iria se acalmar — o que não aconteceu. Ele esperou um momento de distração em que a namorada foi ao banheiro e a seguiu. Foi quando, enfurecido, a esfaqueou no pescoço. No banheiro, duas adolescentes presenciaram o crime. Após atacá-la, ele saiu do cômodo dizendo que a namorada havia se machucado.
"Eu já saí correndo pela casa e me deparei com a minha irmã na cozinha, caída no chão. Tentei ainda segurar o pescoço dela para ver se estancava o sangramento, mas não tinha mais jeito. E ela fechou o olho. Eu vi ela morrer.", descreve a irmã, chorando.
O homem foi segurado por pessoas que estavam na rua e preso quando a polícia chegou. "Escuto como se fosse hoje ele falando: 'Ela se machucou', 'ela se machucou'. E o grito dela pedindo 'socorro' lá de dentro da casa. Tudo ainda nitidamente na minha cabeça", conta Valeska.
Filha não consegue dormir direito
Alegre e dona de um sorriso fácil, Viviane era mãe de uma adolescente de 16 anos, fruto de um relacionamento que teve com um namorado aos 21. Quando o relacionamento não deu certo, ela foi morar com a filha e mãe. Segundo a família, sempre teve um bom relacionamento com o ex.
"Ela e a filha sempre foram amigas. Ela nunca a tratou só como filha. A Vivi era parceira dela, era tudo na vida dela. Não tinha conflito ou discussão, elas não conseguiam brigar", conta Valeska, que afirma que a sobrinha está com acompanhamento psicológico.
"As duas se dava muito bem e tudo que ela fazia era com a mãe, elas eram confidentes. Ela não consegue mais dormir à noite. Só dorme quando clareia", diz a tia. A adolescente agora mora com o pai e a madrasta.
Negócio próprio era sonho antigo
Objetiva, Viviane trabalhou muitos anos com vendas e nunca ficou desempregada. Conseguiu comprar uma casa e um carro sozinha. Ela também sempre almejou trabalhar para si mesma, e no ano passado realizou o desejo montando uma copiadora.
"Ela era uma pessoa espetacular, completamente divertida. O mundo podia estar desabando, e ela sempre com um sorriso no rosto, firme", descreve a amiga Mayra Carolina de Souza Ramos, 26.
A família, que é espírita, busca conforto na religião para conseguir lidar com a perda e seguir adiante. Aos poucos, a mãe da vítima tenta retomar a rotina, mas o pai permanece a maior parte do tempo em silêncio.
Abalada com a cena que presenciou, a irmã tenta assimilar o que aconteceu e viver um dia de cada vez. "A gente sempre foi muito próxima, cúmplice uma da outra. Parece que arrancou um negócio de mim. Quando tudo aconteceu, fiquei indignada comigo mesma, por não ter conseguido tirá-la de lá, ou tirá-la antes. Eu me culpei muito por isso", lamenta. "A crueldade foi muito grande."
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