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"Descobri na massagem tântrica a missão de espalhar prazer", diz terapeuta

Talita Moraes, a terapeuta tântrica - Divulgação
Talita Moraes, a terapeuta tântrica Imagem: Divulgação

Ricky Hiraoka

Colaboração para Universa

01/02/2020 04h00Atualizada em 29/04/2020 18h19

Por quase dez anos de sua vida, Talita Moraes, 31, cumpriu a rotina de boa parte dos brasileiros dando expediente das 9h às 18h. Começou a carreira no setor comercial de multinacionais aos 17 anos para ter condições de bancar os estudos universitários. "Meu sonho era me formar em engenharia civil e fazer pós-graduação em arquitetura. Assim teria conhecimento técnico para construir meu próprio negócio", lembra.

O desejo de empreender aconteceu quando Talita pediu demissão e se juntou a um ex-namorado para montarem um bar de cerveja artesanal na Vila Madalena, em São Paulo. Tudo corria bem. O estabelecimento dava lucro, mas Talita não se sentia realizada como imaginou que estaria quando conquistasse o que almejava.

"Eu era muito inconsciente do meu propósito de vida. Percebi que não queria a responsabilidade de ter uma empresa e vendi minha parte na sociedade." De volta ao mercado de trabalho, Talita também não queria voltar para a rotina das grandes empresas. Para decifrar sua verdadeira vocação, ela se jogou em vários tipos de terapia. "Fiz todas as linhas de análise que você pode imaginar." Tudo mudou quando um primo indicou que ela fizesse terapia tântrica.

"Costumo dizer que minha primeira sessão foi um exorcismo", conta. "Foi tão intenso que me lembrei de vários traumas, consegui falar sobre abusos que tive na infância, o que nunca tinha comentado com nenhum psicólogo. Saí de lá e fiquei dois dias sem soltar uma palavra, só pensando na vida."

Atendimento tântrico - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Ao contrário do que pressupõe o imaginário popular, a terapia tântrica não se atém apenas a tão falada e cobiçada massagem nos genitais, há também muito conversa, exercícios de respiração e meditação, além de estímulos sensoriais por todo o corpo para desbloquear canais de energia.

"Tantra nada mais que é uma ciência de iluminação do eu. Fui noviça, li a Bíblia de cabo a rabo tentando me entender, queria me libertar de traumas, estudei budismo, religiões de raiz africanas, mas só o tantra me libertou das cargas negativas e me fez encarar meus medos e inseguranças", diz Talita. "Ali tive um clique e comecei a entender o que queria. Percebi que minha missão era espalhar prazer e autoconhecimento através da terapia tântrica."

Para dar essa virada na vida, Talita começou a fazer diversos cursos. "Estava tão focada nesse processo de autoconhecimento que o tantra proporciona que sumi. Todo fim de semana, fazia um workshop diferente. Quase não tinha vida social", recorda.

Quando retomou ao convívio com a família e amigos e contou sobre sua nova profissão, ela teve que encarar um desafio que não lhe foi ensinado a resolver nas salas de aula: o preconceito. Com exceção do pai e do irmão que nunca questionaram nada e sempre apoiaram Talita, o restante achava que a jovem estava se dedicando à prostituição.

"Pessoas que eu conhecia fizeram grupos de WhatsApp para falar mal de mim e levantar evidências para provar que eu era garota de programa", recorda. "Chegaram a mandar gente para eu atender para eles terem certeza que eu só fazia terapia tântrica mesma. Fui muito perseguida."

O pior momento dessa inquisição sexual foi quando um nude de Talita vazou e o responsável pela divulgação indevida da imagem espalhou que aquilo era a prova de que a terapeuta se prostituía.

"Fiquei muito mal. Fui à polícia denunciá-lo e ele passou a me ameaçar. Até pensei em largar tudo, só não desisti porque tinha feedbacks muito positivos dos poucos pacientes que atendia."

Atendimento tântrico de Talita Moraes, a terapeuta tântrica - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Os desconhecidos também desconfiavam. Uma das formas que ela tinha para divulgar o próprio trabalho era via aplicativos de relacionamento. A terapeuta criava um perfil com foto, um telefone de contato e explicava que era terapeuta tântrica.

Choviam clientes e a maioria achava que sexo estava incluído no pacote. "Comecei a me questionar por que essa comparação com a prostituição me irritava e percebi que, embora o tantra tivesse me desconstruído e me libertado bastante, ainda havia amarravas e preconceitos inconscientes em mim. Nós, como mulheres, temos a sexualidade reprimida por muito tempo e leva uns bons anos até se livrar de vez dessa opressão."

Talita passou a usar o termo massagem para se referir ao seu trabalho, o que até então ela evitava. O resultado foi positivo e a clientela aumentou. "Falar massagem foi a isca que eu precisava para atrair o povo e explicar o que era o tantra de verdade. Uma pequena parte se decepcionava, mas a maioria curtia e voltava para mais sessões", diz.

Acharem que eu era prostituta acabou me ajudando a disseminar a técnica da terapia tântrica

Nesses quase seis anos em que se dedica à técnica, Talita conta que a grande motivação dos clientes é a falta de prazer. "A primeira coisa que explico na sessão é que prazer e orgasmo são distintos. Para gozar a vida de verdade e ter satisfação sexual, é preciso se conhecer. Tem que aceitar a luz e as trevas que temos. Tantra é matriarcal, é acolhedor, faz você se sentir seguro e te ajuda a desabrochar para perceber e receber todos os prazeres da vida e não apenas o sexual."

Com uma clientela majoritariamente masculina que paga a partir de R$ 530 por uma sessão que dura cerca de 90 minutos, Talita diz que boa parte dos homens não foi ainda apresentada ao orgasmo de verdade. "A pornografia atrapalha muito a vida sexual dos caras, que foram educados por vídeos eróticos e acham que sexo é performance britadeira", analisa. "Eles se mutilam nesse processo de postergar a ejaculação para serem 'artísticos' e acabam nunca conhecendo o prazer de verdade. Não são raros os casos de homens que choram durante as sessões."

Outro público fiel dos serviços de Talita são os casais que pagam até R$ 5 mil para aprender em um fim de semana como aplicar a massagem tântrica e como estimular o pênis, a próstata e o ponto G feminino, além de técnicas de meditação ativa e sexo oral. "Antes de ensinar qualquer coisa, eu sempre explico que é preciso estar conectado com o próprio prazer, descobrir seu corpo para então dar prazer ao parceiro."

Embora esteja estabilizada na profissão e ganhe até três vezes mais do que nos tempos em que trabalhava como funcionária de multinacional, Talita diz que ainda é preciso lutar contra o preconceito que existe sobre a técnica. A terapeuta tinha 74 mil seguidores no Instagram, mas o perfil foi derrubado por denúncias que alegavam que o conteúdo era erótico.

"Estou começando do zero novamente, mas sei que minha missão é destravar tabus e lutar contra a castração vigente", acredita. "Não querem que falemos de energia sexual, pois quem tem a energia sexual fluindo é uma pessoa criativa e satisfeita, que não vai virar gado de nenhuma religião ou partido político!"