Encontro traz relógio do assédio no transporte e expõe histórias da plateia
O Encontro com Fátima Bernardes de hoje abordou o tema do assédio sexual no transporte público, trazendo um "relógio" no telão para refletir uma estatística chocante.
Como Fátima explicou durante o programa, o Instituto Maria da Penha apurou que, a cada seis segundos, uma mulher é vítima de assédio físico em transporte público no Brasil. Assim, o relógio no telão foi contabilizando os casos durante a duração do programa.
"Hoje eu estou até com um sofá masculino", notou a apresentadora, que recebeu o cantor Victor Kley, o ator Danilo Mesquita e o psiquiatra Marco Antônio Abud no programa. "Eu acho importantíssimo que os homens entrem nessa conversa, nessa discussão, pensando no que a gente pode mudar".
Na frente do telão com o relógio, o Encontro montou uma espécie de "ônibus falso", com várias poltronas. Fátima pediu para integrantes de sua plateia que já sofreram assédio no transporte público se encaminhassem para o local.
"Quem não quiser falar, não precisa falar. É só quem gostaria de se manifestar, de alguma maneira mostrar que já passou por isso", esclareceu. Os doze assentos do cenário foram preenchidos.
"Olha, são pessoas de todas as idades, em qualquer tipo de transporte, em qualquer cidade, em qualquer local", notou ainda a apresentadora. "É bom lembrar que desde 2018 existe uma lei que pune importunação sexual com prisão de um a cinco anos".
Fátima também informou que o estado de São Paulo registrou 3.090 casos relacionados à lei em seu primeiro ano. "Na capital paulistana, a maioria das denúncias de assédio foram de casos que ocorreram justamente no transporte público", completou.
Casos e reações
O programa conversou com várias mulheres que sofreram assédio durante a matéria. Rosemary, que estava na plateia, contou um caso que ocorreu no ônibus. "Eu estava vindo do trabalho, e uma pessoa encostou do meu lado. Conforme o movimento do ônibus, ele se aproveitava", disse.
"Outra vez eu estava em um ônibus meio vazio, e um senhor estava do meu lado, com uma bolsa. Eu senti algo roçando na minha perna, mas achei que era a alça da bolsa dele. Em um determinado momento decidi olhar, e percebi que era a mão dele alisando a minha perna", contou ainda.
"A gente se sente incapaz", comentou também, sobre sua reação após os assédios. "Desvalorizada, até. Eu acho que a mulher tem que ser respeitada em todos os momentos. Você está indo para o trabalho, tentando ganhar o seu pão de cada dia, e vem uma pessoa fazer isso com você?".
Enquanto isso, o Dr. Abud comentou sobre a forma como o cérebro reage a uma situação assim. "O assédio não deixa de ser uma agressão. O que acontece com todo mundo quando é agredido? Claro que não existe forma certa ou errada de reagir, cada mulher vai reagir de um jeito", disse.
"O cérebro libera uma carga absurda de adrenalina, que gera três reações: ou a gente luta, ou a gente foge, ou a gente paralisa. Muitas mulheres ficam paralisadas, atordoadas, não conseguem entender o que está acontecendo. Só vão se dar conta do que é aquilo depois de horas ou dias", continuou.
"A mulher pode ter flashbaks, ter memórias vivas sobre aquele assunto, pode entrar na mente dela. A mulher pode ter uma sensação de anestesia afetiva, como se tudo tivesse meio atordoado. Ela pode começar a evitar lugares que lembram aquele trauma, ou ter muita ansiedade neles", finalizou.
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