Mari Bridi: "No meu Instagram, 99,9% das críticas são de mulheres"
"Mãe de dois, apaixonada pela vida." A breve descrição do perfil da atriz Mariana Bridi no Instagram dá pistas a respeito de um dos assuntos que ela mais trata nas redes sociais: a maternidade. E foi exatamente uma publicação sobre autoestima materna — associada ao corpo pós-parto — que fez muitas mulheres se identificarem com ela.
Em janeiro, ao falar sobre o medo de postar a foto por esperar ouvir (e ler) críticas à sua forma física, Mari Bridi, como é conhecida na internet, angariou 75 mil curtidas (suas postagens anteriores reúnem, em média, 10 mil likes). Mas, mais do que isso, levantou a bandeira da naturalização do corpo feminino depois de ter filhos.
Para Universa, ela falou sobre a foto e a repercussão que ela causou, sobre seu propósito em gerar conteúdo sobre maternidade real na web, sobre a família e o casamento com o também ator Rafael Cardoso. Ao mesmo tempo em que afirma que "99,9% das críticas são de mulheres", pondera que isso só acontece porque nós crescemos aprendendo a manter a rivalidade feminina. "A gente não aprendeu a se dar a mão."
Na foto que viralizou, você está de biquíni e fala de seu corpo estar "em constante transformação depois de dois filhos". Como lida com isso?
Nunca fui muito vaidosa nem tive aquilo de olhar no espelho e sofrer. Durante a adolescência, não era magérrima, mas tinha um corpo "padrão", normal. Não tinha e não tenho essas questões. Pessoas num lugar de julgamento podem ter mais questões com o meu corpo do que eu.
Na gravidez, as mudanças aconteceram. Na da Aurora [que tem 5 anos hoje], engordei uns 22kg e consegui perder a maior parte deles após o nascimento, mas não estava no peso original quando engravidei do Valentim [hoje com 1 ano e 9 meses]. Nesta segunda gestação, engordei 12 kg. Agora estou com o peso que eu tinha antes de engravidar dele.
Mas minha relação com o corpo está mais ligada a questões práticas do que estéticas.
Quando eu desmamar o Valentim, por exemplo, quero fazer uma cirurgia para reduzir os seios. Ao amamentar, desde a Aurora, triplicaram de tamanho. Eles pesam, sinto dor nas costas, ando encurvada.
Dietas fazem parte da sua rotina?
Nunca tive a questão de fazer dieta e exercício físico para emagrecer. Na verdade, nunca tinha conseguido manter uma dieta, mas emagreci no final de 2018. Isso porque eu estava sentindo muita enxaqueca e resolvi ir a uma médica integrativa, a Fernanda Silva. Aí, ela me indicou fazer uma dieta cetogênica.
Com ela, além de perder peso, senti uma melhora no meu bem-estar. Antes, eu acordava cansada, e a mulher que amamenta sabe que a prolactina [hormônio do leite] dá a sensação de cansaço. Outra coisa: pesava muito a questão de eu querer também acompanhar as crianças, brincar com elas, e não ficar sempre sem fôlego.
De onde veio a ideia de produzir conteúdo sobre sua experiência como mãe?
Comecei a fazer isso depois que a Aurora nasceu. Queria falar sobre a maternidade, trocar figurinha. A gente criou uma rede de apoio, e há um tempo essa palavra nem era tão comum. Eu me coloco à disposição dos seguidores mostrando minha realidade.
Tenho uma troca gigante em relação a alguns assuntos. Mostrei num dia que o Tim adora brincar no quarto da Aurora, de boneca e tal. E aí veio uma seguidora comentar que o marido não gostou de ver o filho deles brincando assim e que ela respondeu que eles só estavam contribuindo para criar um bom pai. Muito do que eu escuto me toca em um lugar muito profundo.
Você sente que forma uma rede segura de mulheres e mães no seu Instagram?
Súper. Eu fiquei espantada com a quantidade de seguidores que ganhei com a postagem [falando sobre o corpo pós-gravidez] e entendi a necessidade de elas falarem comigo. Recebi uma enxurrada de comentários e mensagens privadas agradecendo a coragem. E é muito louco, porque eu estou literalmente me despindo na frente de milhares de pessoas. Mas, para mim, tudo bem, porque é a minha verdade.
Você fala muito do conceito "maternidade real" nas redes sociais. Sente que é uma porta-voz das mulheres?
É difícil dizer que me sinto porta-voz, mas me preocupo em mostrar o que é importante para as pessoas. Meu conteúdo não é forçado, porque eu não conseguiria. Em relação à maternidade, por exemplo, gosto de falar que cada uma vive a sua.
E respeitar isso é fundamental. O que eu faço com o Valentim e com a Aurora pode não funcionar para outra pessoa. E tudo bem.
É legal que a pessoa busque o que funciona para ela e se sinta feliz assim. A gente tem que dar menos bola para o que os outros falam, se a gente está feliz. Na maternidade, a gente faz o que dá. O máximo possível dentro do que temos para dar.
Em uma publicação no Instagram, você falou de criar seu filho deixando-o ter cabelo comprido, o que é considerado um "padrão para meninas". Você recebe julgamentos por suas atitudes como mãe?
Nesse caso, eu recebi dois tipos de respostas: mensagens privadas de seguidoras mostrando as fotos dos filhos que não cortam o cabelo e outras me mandaram foto de antes e depois deles, porque alguém da família reclamou que eles estavam com cabelo comprido.
O que eu prego é o seguinte: o padrão é a gente que faz. Nosso padrão é o que é feito por mim, meu marido e meus filhos lá em casa.
Em que momento você sentiu a "culpa de mãe", tão comum a muitas mulheres?
Com a Aurora, foi em relação à amamentação. Tinha um sonho idealizado de que ela teria um desmame natural. Que ela chegaria para mim e diria: "Foi ótimo até aqui, mãe, adorei, tamo juntas, mas não quero mais".
O que aconteceu: quando eu vi que ela estava com 2 anos e meio e começou a ficar pesado pra mim, entendi que teria que fazer o desmame conduzido. Foram cinco meses [no processo], sendo que eu já estava grávida do Valentim. E estava puxado.
Por ter amamentado até ela ter essa idade, você ouviu críticas?
Sim, quando ela tinha quatro meses, fui num evento e a amamentei. Um ano depois, eu estava em outra edição do mesmo evento e, quando fui amamentar, vieram falar comigo: "Ela não tá grandinha pra isso? Você está com peito de fora aqui...". Eu respondi que era engraçado o meu peito estar incomodando naquele ano, e um ano antes não ter sido alvo de críticas.
Mas é isso: nascemos com julgamento muito enraizado em relação à aparência. A Brené Brown [pesquisadora sobre comportamento humano e palestrante] diz que a primeira causa de vergonha em uma mulher do mundo é a aparência. Aprendemos a nos julgar.
O mais louco é que 99,9% das críticas que recebo no Instagram são de outras mulheres. A gente não aprendeu a se dar a mão e falar "vai lá, você consegue". Isso é muito mais uma questão masculina. Sobre isso, eu já falo com a Aurora: a minha filha não vai ficar criticando outras mulheres. Se não tem nada de bom para falar, vai guardar para ela. E o Tim também. É o que eu ensino para eles.
Como você responde a essas críticas?
Lido de forma tranquila. Entendo que se uma mulher deixa uma mensagem no meu Instagram falando que "a roupa ficou ruim em mim", penso que todo mundo tem direito a ter uma opinião. Mas é uma escolha dela se expor dessa maneira. O meu Instagram é aberto, eu estou colocando a cara à tapa e eu estou sujeita a isso.
Se ela tem isso para falar, a questão não é comigo, é com ela. Para as minhas seguidoras que vão atacar a pessoa que me atacou, falo que não precisa ser assim. Não é isso que eu quero. Mesmo que estejam fazendo de lá um lugar de sororidade, existem maneiras de me defender sem agredir outra pessoa. E muitas conseguem, aliás.
Você e o ator Rafael Cardoso estão juntos há 13 anos. Como é a relação de vocês?
É tudo misturado: é incrível, difícil, cansativo, a coisa mais importante que eu tenho. Para estar com outra pessoa, a gente acorda e faz todo dia uma escolha. E, quando está sendo muito difícil, é ir para um "lugar" de "está difícil, mas está tudo bem".
Além disso, temos a proposta de que, em nossas conversas, quando falamos de nós, não incluímos as crianças. A gente fala do relacionamento porque, se em algum momento a gente resolve não estar mais juntos, é melhor as crianças terem pais separados felizes do que juntos e infelizes.
No início de nossa relação, eu tinha 22 anos. A gente foi crescendo junto, e combinando algumas coisas, como falar quando alguma atitude que parece besteira magoa o outro. É para nos respeitarmos porque, como a gente se casou cedo, mudamos muito juntos. E separados também.
A gente tem muitos "momentos de família", porque a Aurora é muito antenada e ama a família dela. Ela gosta disso, de "nós quatro". Com a vida corrida, a gente faz questão de ter isso com as crianças.
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