Criança pode se masturbar? Especialistas comentam fala de Bruna Linzmeyer
Recentemente a atriz Bruna Linzmeyer falou sobre a descoberta da própria sexualidade no programa "Saia Justa Verão", do canal GNT. Quando o assunto foi autoconhecimento, ela declarou: "Sempre me masturbei desde criança e me masturbo até hoje. Tenho muitas memórias de eu 'roçando' nas coisas quando criança".
A frase gerou polêmica na internet. Afinal, é normal crianças se masturbarem? De acordo com a psicóloga Ellen Moraes Senra, é natural que elas manipulem os órgãos genitais ou pressionem contra objetos, como travesseiros ou brinquedos, ainda que isso não receba o nome "masturbação". "Entre um e três anos elas começam a se tocar. Conforme percebem que aquela é uma zona de prazer, tendem a fazer isso mais vezes". A profissional reforça que se trata de uma atividade comum ao desenvolvimento de qualquer criança, mas que não tem nada de erótico.
"Para elas, é uma brincadeira, somente um toque no corpo. É diferente da masturbação adulta, que tem como finalidade a satisfação sexual. Esse tipo de atividade vai aparecendo conforme as crianças crescem, se tornam adolescentes. É uma evolução saudável e esperada", esclarece.
E como os pais devem agir?
"O mais comum é o susto. Os adultos tendem a associar o ato a uma atividade sexual, mas não deveriam", argumenta. Segundo Ellen, o melhor a fazer é tratar com naturalidade e orientar. "Vale a pena dizer: 'Eu sei que é bom' mas, em seguida, explicar à criança que não deve se tocar quando estiver na frente de outras pessoas. Muito menos permitir que outros a toquem daquela maneira. Que se isso acontecer, ela deve contar para os pais", reforça.
Proibir ou dizer que é "feio" ou "sujo" não é o melhor dos caminhos. "Pais muito rígidos reagem mal a este tipo de descoberta. Com isso, a criança pode crescer achando que aquilo é errado ou pecado, o que desperta o sentimento de culpa", detalha. Tudo isso pode refletir na vida adulta: de acordo com a psicóloga, crianças que tiveram as descobertas do corpo muito reprimidas na infância podem ter dificuldades na vida sexual no futuro. "Muitas não conseguem relaxar, não se permitem descobrir o prazer", completa.
Masturbação feminina incomoda mais
De acordo com a ginecologista Fernanda Nassar, a fala de Bruna pode ter repercutido não só por tratar da descoberta da sexualidade na infância, mas também pela naturalidade com a qual a atriz se refere à masturbação. "Existe uma ideia que vem sendo passada de geração em geração de que a mulher precisa obedecer a um determinado estereótipo. Tem que ser uma pessoa recatada. Mas isso não é mais condizente com a realidade social".
Ellen afirma que, no universo masculino, a masturbação é bem aceita. "A sociedade espera que eles a pratiquem com frequência. Tanto que muitos rapazes começam a consumir pornografia ainda na adolescência, sem a interferência da família", exemplifica. Em compensação, se uma mulher fala abertamente sobre o assunto, isso ainda é motivo para que os outros se choquem. "Este é um traço explícito do machismo", opina.
Quanto mais livre, melhor
"Através da masturbação é que a mulher conhece o corpo. Sabendo do que gosta e, consequentemente, do que não gosta, pode transmitir estes conhecimentos para o parceiro. Tudo isso melhora a intimidade e faz com que ambos entrem em sintonia na hora do sexo", explica Fernanda. Na visão da ginecologista, a mulher que se masturba com frequência, ainda que esteja em um relacionamento, só tende a ganhar através da prática. "E tudo isso começa com uma relação boa com o corpo desde a infância", garante.
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