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Mais de mil mulheres assinam manifesto após ataque machista contra repórter

Encontro com colunistas da Folha. Na foto, a colunista Patricia Campos Mello. - Bruno Santos/Folhapress
Encontro com colunistas da Folha. Na foto, a colunista Patricia Campos Mello. Imagem: Bruno Santos/Folhapress

Marcos Candido

De Universa

12/02/2020 15h36

Mais de mil mulheres assinaram um manifesto em repúdio às declarações misóginas feitas durante uma CPMI em Brasília contra a repórter Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo.

Nesta terça (11), Hans River, uma fonte de Mello, a insultou com a afirmação de que a repórter, uma das mais prestigiadas do Brasil e do mundo, fazia insinuações sexuais em troca de informações. A fala foi desmentida pela própria repórter, que apresentou fotos, áudio e dados da conversa mantida entre os dois.

Hans River é ex-funcionário da empresa Yacows, especializada no dispardo em massa de mensagens no WhatsApp. River se prontificou a ser uma "fonte" de Patrícia.

O termo "fonte" é um jargão jornalístico para definir alguém que envia informações, às vezes sigilosas, para jornalistas. Graças à repórter, o jornal Folha de S. Paulo confirmou o disparo ilegal de mensagens por WhatsApp durante a campanha para eleger o presidente Jair Bolsonaro.

Durante a CPMI que investiga as fake news enviadas no período eleitoral, River afirmou que Patrícia se insinuava sexualmente. O deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, endossou a fala do ex-funcionário de cunho sexual. A relatora da CPMI, a deputada Lídice da Mata (PSB-BA), vai acionar o Ministério Público para apurar a fala.

Em resposta à mentira, jornalistas e profissionais de outras áreas criaram o manifesto, que conta com jornalistas e mulheres de outras áreas de comunicação. (Leia a nota abaixo)

Manifesto em repúdio

"Nós, jornalistas abaixo assinadas, repudiamos os ataques sórdidos e mentirosos proferidos em depoimento à CPMI das Fake News por Hans River, ex-funcionário da empresa Yacows, especializada em disparos em massa de mensagens de Whatsapp, à jornalista da Folha de S.Paulo Patricia Campos Mello.

Sem apresentar qualquer prova ou mesmo evidência, o depoente acusou a repórter, uma das mais sérias e premiadas do Brasil, de se valer de tentativas de seduzi-lo para obter informações e forjar publicações.

É inaceitável que essas mentiras ganhem espaço em uma Comissão Parlamentar de Inquérito que tem justamente como escopo investigar o uso das redes sociais e dos serviços de mensagens como WhatsApp para disseminar fake news.

Nós, jornalistas e mulheres de diferentes veículos, repudiamos com veemência este ataque que não é só a Patricia Campos Mello, mas a todas as mulheres e ao nosso direito de trabalhar e informar. Não vamos admitir que se tente calar vozes femininas disseminando mentiras e propagando antigos e odiosos estigmas de cunho machista", conclui.

Repúdio

Em nota, a Folha afirma que "repudia as mentiras e os insultos direcionados à jornalista Patrícia Campos Mello na chamada CPMI das Fake News. O jornal reagirá publicando documentos que mais uma vez comprovam a correção das reportagens sobre o uso ilegal de disparos de redes sociais na campanha de 2018. Causam estupefação, ainda, o Congresso Nacional servir de palco ao baixo nível e as insinuações ultrajantes do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP)".

O coletivo Jornalistas Contra o Assédio diz em nota que Hans River usou argumento calunioso e machista para atacar a jornalista Patrícia Campos Mello, profissional conhecida por seu importante trabalho investigativo. "É uma cena que se repete no atual momento político do país. Patrícia, assim como tantas de nós, tem sido recorrentemente atacada triplamente: como jornalista, como mulher e como cidadã", acrescenta.

A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) também se manifestou sobre o caso. "É assustador que um agente público use seu canal de comunicação para atacar jornalistas cujas reportagens trazem informações que o desagradam — sobretudo apelando ao machismo e à misoginia. Além disso, esta é mais uma ocasião em que integrantes da família Bolsonaro, em lugar de oferecer explicações à sociedade, tentam desacreditar o trabalho da imprensa".

A instituição acrescenta que Patrícia foi uma das vencedoras do International Press Freedom Award do Comitê de Proteção de Jornalistas (CPJ, sigla em inglês), ao lado de jornalistas da Índia, da Nicarágua e da Tanzânia que, assim como ela, sofreram ameaças e agressões em decorrência de seus trabalhos.