Ela fez peeling e "perdeu" um rim: "Sensação de algo estar comendo a pele"
Era 2017 quando a então dona de um salão de beleza no Mato Grosso identificada como Tatiana, 43, aceitou fazer gratuitamente um peeling facial, procedimento que serve para acne inflamada ou renovar a pele. Só que a profissional que ofereceu esse serviço a ela usou fenol, um ácido muito corrosivo usado em pessoas com rugas profundas ou pele manchada e que promete até 20 anos de rejuvenescimento. Por causa disso, ela conta, perdeu a funcionalidade de um dos rins, teve os dentes fragilizados e ficou com problemas na visão.
Passados três anos e ainda se recuperando das sequelas, Tatiana resolveu expor o caso nas redes, com objetivo de alertar para os cuidados na hora de fazer qualquer procedimento estético. O post já teve mais de 3,5 mil compartilhamentos. A dermatologista Gabriela Munhoz, especialista em tratamento e prevenção de problemas estéticos na pele, decreta: o procedimento só pode ser feito em clínica, com cirurgião plástico ou dermatologista,
Por causa do relato, Tatiana tem sido atacada por algumas esteticistas na internet, e por isso pede aqui para não identificar seu sobrenome. Mas também vem sendo procurada por outras tantas mulheres que já tiveram o mesmo problema.
Longos dois minutos
À Universa, a hoje comerciante explica que o serviço foi oferecido por uma pessoa que já fazia massagem modeladora no local, mas que também queria realizar procedimentos faciais para aumentar o número de clientes. E por isso sugeriu que Tatiana fosse sua primeira cliente. Passados dois minutos com o produto no rosto, ela relata que começou a sentir forte queimação.
"Primeiro deu uma 'pinicadinha', foi aumentando e já comecei a gritar e chorar. E desmaiei. Ela passou pasta d'água em mim, e colocou um ventilador em cima do rosto para passar a ardência. Parecia que algo estava comendo minha pele", Tatiana relembra.
A comerciante foi então para casa com o rosto bem inchado, mas a então massagista, ela conta, disse que a reação era normal. Até que sua visão foi ficando turva e a audição prejudicada. Foi quando ela decidiu ir para o hospital.
"Vieram ainda dores de cabeça muito intensas, e não conseguia mais respirar. Chorava muito e meu coração estava acelerado", lembra ela, que ficou quatro dias internada, sob efeito de sedativo.
Por causa das feridas, incluindo herpes, Tatiana precisou tomar uma série de antibióticos e antiinflamatórios para o rosto desinchar. Em altas doses, eles podem causar insuficiência renal aguda, conforme explica o nefrologista Marcelo Mazza, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia e da Fundação Pro-Renal. Depois de um ano de tratamento, ela diz que um dos rins atrofiou e secou, e hoje usa diurético:"Eu já tinha um rim menor que o outro. Com o uso desses medicamentos, ele atrofiou e não tem mais função nenhuma. Os dentes ficaram frágeis também por causa dos medicamentos e hoje uso aparelho dental. Também preciso usar óculos de grau".
Apesar de não ter ficado com cicatrizes no rosto, ela diz que sente-se refém da maquiagem, pois possui algumas manchas - e ainda sente dores de cabeça. Com medo de passar por qualquer outro procedimento estético, ela faz microagulhamento no rosto a cada três meses, para reduzir essas manchas. Desta vez, com uma dermatologista.
"Agora aprendi a me informar sobre a qualificação do profissional antes de realizar qualquer procedimento, e ainda fazer teste de alergia", ela conclui.
Fenol altera funções cardíacas e renais
Altamente corrosivo, o fenol pode mesmo afetar coração, fígado e rim, e ainda causar infecções e manchas. Para se ter noção do seu poder, ele tira toda a derme do rosto e pode chegar até o tecido gorduroso. Por isso o correto é, primeiro de tudo, verificar a real necessidade de passar pelo procedimento.
O correto também é fazê-lo com um cirurgião plástico ou um dermatologista, num centro cirúrgico que tenha técnica de assepsia. E o paciente precisa ser sedado antes, tamanha a dor. E tomar uma medicação antiviral, pois os peelings favorecem o aparecimento de herpes, como aconteceu com Tatiana.
Quem explica é a dermatologista Gabriela Munhoz, especialista em cosmiatria, voltada exclusivamente para o tratamento e prevenção de problemas estéticos na pele.
"Hoje existem pouco dermatologistas que fazem peeling de fenol, porque é muito agressivo. Quando absorvido pela pele, ele pode dar toxicidade cardíaca e renal. O paciente fica até 15 dias em casa. Por isso, salão não deve fazer nunca. A Anvisa nem libera".
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