'Jesus mulher e negra' fala de feminicídio: "Todos os dias com medo"
A rainha de bateria da Mangueira, do Rio, Evelyn Bastos usou seu papel de "Jesus mulher e negra" para chamar atenção para a violência contra a mulher e sobre as mortes violentas causadas por gênero — o feminicídio.
Em entrevista para a TV Globo, ainda na passarela, Evelyn questionou: "Se fossemos ensinados desde pequenos que Jesus poderia ser uma mulher, será que estaríamos no topo do feminicídio?
O Brasil não está no topo das taxas de feminicídio, mas tem índices altos. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, a OMS, de 2016, estamos no quinto lugar do ranking.
Segundo dados Human Rights Watch, entre os países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), o país fica, sim, como o mais violento para mulheres: uma média de 4,4 mortes de mulheres a cada 100 mil habitantes.
Feminicídio no Brasil
"Talvez um dia teremos queda nos tristes números de feminicídio e a sociedade perceberá que não cabe objetificação em um corpo feminino que não nasceu para ser pautado pelo outro. Enquanto isso não acontece, seguiremos carregando a nossa própria cruz. Ah... e se Jesus fosse mulher?! Seu coração aceita? Seus olhos enxergam? Seu amor te limita?", escreveu a rainha de bateria no Instagram.
Os números de feminícidio são tristes, de fato, e cresceram entre 2017 e 2018. Segundo informações do Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgadas em 2019. De um ano para o outro, o Brasil registrou aumento de 4% nas taxas de mortes de mulheres por serem mulheres.
A maioria das vítimas é negra (61%) e estudou até o ensino fundamental (70,7%).
A agressão a mulheres também é altíssima no país: a cada 4 minutos, uma é violentada. As vítimas mais frequentes têm entre 20 a 39 anos e são agredidas por alguém próximo: pai, irmão, filho, atual ou ex namorado ou marido.
Leia o texto completo de Evelyn sobre o tema abaixo:
"Eu, Mulher... nós "Mulher"!!! Brasil no topo quando falamos no feminicídio!
As mortes violentas por razões de Gênero nos coloca todos os dias no "medo". Ser mulher é ser a luta! Ser mulher é saber que precisamos encarar uma guerra por dia contra a discriminação e opressão que o machismo nos oferece. Temos o nosso corpo sexualizado a cada instante e isso não pode e nem deve ser aceito, somos assediadas, mortas... Pelo fato de sermos mulheres e vivermos em uma sociedade que ainda nos inferioriza. A cada 7 segundos, aproximadamente, uma mulher é vítima de violência física.
Somos tantas, somos livres e somos o que quisermos ser.
Talvez um dia teremos queda nos tristes números de feminicídio e a sociedade perceberá que não cabe objetificação em um corpo feminino que não nasceu para ser pautado pelo outro. Enquanto isso não acontece, seguiremos carregando a nossa própria cruz. Ah... e se Jesus fosse mulher?! Seu coração aceita? Seus olhos enxergam? Seu amor te limita? 'EU SOU DA ESTAÇÃO PRIMEIRA DE NAZARÉ, ROSTO NEGRO, SANGUE ÍNDIO, CORPO DE MULHER'".
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