"Mãe, compra pra mim?" Saiba como agir quando os filhos pedem tudo
"Mãe, eu quero esse boneco de dinossauro!", "Pai, compra pra mim aquela caixa de lápis de cor?", "Mamãe, quero sorvete!", "Mãe, compra!", "Papai, compra!", "Compra!", "Eu quero!", "Olha, mãe!", "Compra!", "Compra!", "Compra!"...
Bem que esses clamores poderiam ser apenas o despertar de um daqueles pesadelos que toda mãe e pai já enfrentaram um dia. Mas, para muita gente, isso é vida real — e, às vezes, acontecem com constância.
Só quem tem um miniconsumista em casa sabe o drama que significa uma ida ao supermercado, ao shopping ou a qualquer lugar que tenha algo à venda. Em muitas ocasiões nem é preciso sair à rua para ser bombardeado por pedidos infinitos. Aí vem a pergunta: o que fazer?
Crianças não escapam
"O consumismo é um hábito muito comum na sociedade atual e nossas crianças não estão imunes. Todos somos impactados pelas mídias e estimulados a consumir", resume a psicóloga Dandara Zamba.
Isso porque, mesmo que disfarçados para driblar a proibição da publicidade infantil, os apelos estão por toda parte: na televisão, na internet, no animador à porta do centro comercial e até nos corredores das lojas do bairro.
"Nas gôndolas de doces nos supermercados, a maioria dos produtos está ao alcance das crianças, para que possam pegar e pedir para os país. Até nos materiais escolares se percebe uma grande diferença de preços entre o caderno com personagem de videogame na capa e outro de capa simples", exemplifica Hugo Eduardo Meza Pinto, economista e doutor, professor da Estácio Curitiba e da Universidade Positivo.
A responsabilidade é de quem?
Como lembra a psicóloga Dandara, o filho repete o comportamento dos adultos de sua referência — no caso, os pais — e, nessa linha de raciocínio, o consumismo pode ser entendido como algo que eles aprendem em casa.
Para a também psicóloga Daiane Daumichen Antiório, se uma criança cresce vendo os pais comprarem tudo o que aparece pela frente, absorvem esse comportamento como uma verdade que deve ser repetida.
"A criança que quer tudo do jeito dela, criada por pais que a satisfazem, sem conscientizá-la do que é possível e do que não é, também poderá se tornar uma consumista infantil", diz a especialista.
Como lembra Hugo, a base da economia do consumo é a relação de "desejos ilimitados" do consumidor versus "recursos limitados", presente na história da humanidade desde sempre.
"O grande desafio das gerações foi e é ensinar às crianças a não consumirem mais do que se pode, e a necessidade de ter equilíbrio nessa relação", diz o economista, também associado da empresa de Economia Criativa Amauta.
A culpa pode ser da culpa dos pais
Se há situações em que os pais incutem o comportamento nos filhos, a partir do próprio consumo que se torna referência para os pequenos, também podem ser identificados casos em que eles se sentem culpados pela ausência, por causa do trabalho, e acabam estimulando o hábito nos filhos pelas muitas recompensas que compram para amenizar o cenário.
"Às vezes, literalmente, passam dos limites financeiros e do orçamento familiar para satisfazer os desejos da criança ou adolescente. A consequência dessa atitude é criar para o filho um mundo em que ele pode ter tudo o que deseja — e ele ainda não aprende lidar com a frustração", acrescenta Daiane.
Educação financeira começa em casa
Independentemente de gênero, faixa etária ou renda da família, toda criança precisa aprender que não pode ter tudo o que quer. "Há necessidade de fazer escolhas e a criança deve saber que cada escolha também é uma renúncia, ou seja, não pode almejar tudo o que vê ou que lhe é oferecido", diz Daiane.
Como ressalta o economista Hugo, a educação financeira começa no ambiente familiar. "A criança deve saber o esforço que os pais realizam para comprar coisas, inclusive brinquedos. A partir dessa realidade, ela mesma deve pautar os seus pedidos de presentes, que não podem estar dissociados da realidade da renda familiar", afirma.
Por exemplo, se na casa o rendimento é de três salários mínimos, o filho deve saber que não poderá pedir presentes de valor estratosférico, como um celular ou um videogame de última geração.
"Para isso, desde cedo, os pais devem trabalhar, junto à criança, o conceito de preço e de valor das coisas. Preço é o que as coisas custam, valor é o que representam para a pessoa que compra. Tem brinquedos que não custam muito e podem ter um valor inestimável para a criança", argumenta Hugo.
Mas como agir quando não dá para remediar?
A seguir, os especialistas Dandara, Daiane e Hugo dão dicas de como os pais devem proceder, tanto no que diz respeito à educação financeira dos filhos pequenos como diante dos incessantes apelos para compras.
- Explicar, desde cedo, como o dinheiro é obtido e quanto é trabalhoso consegui-lo.
- Ensinar a guardar dinheiro para adquirir algo que se quer muito -- um brinquedo caro, uma roupa ou mesmo um passeio devem ser tratados como metas a serem alcançadas.
- Usar exemplos concretos adequados à idade da criança. Pode-se fazer isso, inclusive, por meio de jogos de tabuleiro, como o tradicional Banco Imobiliário, ou versões online, que utilizam moedas virtuais.
- Apelar para livros que abordam a organização do dinheiro de forma lúdica -- o título "Meu Dinheirinho", de Carlos Eduardo Freitas Costa e Fabrício Pereira Soares, pela Editora Ser Mais, é um exemplo.
- Antes de sair para algum lugar com grande apelo comercial, como supermercado, combinar previamente os produtos que serão adquiridos.
- Estabelecer com o filho, antes da saída para o shopping, algo prazeroso para ele, como um lanche no restaurante preferido ou um cineminha. É importante desvincular o lazer com a compra de presentes.
- Fazer uma lista do que a criança quer e perguntar os motivos que a levaram a desejar tais itens. O diálogo é sempre positivo e estreita as relações.
- Conversar sem medo de magoar e saber dizer "não", ainda que a criança chore ou mesmo xingue. Essa frustração vai passar e ensiná-la a ser uma pessoa mais consciente. Lembre-se: criança não fica traumatizada se ouvir "não" quando necessário.
- Mostrar de maneira positiva que é possível doar o que não é mais usado. E ensinar, também, a doar algo antigo quando ganhar algo novo. Além de diminuir a quantidade de itens em casa, a criança aprende a ser solidária.
- Aproveitar as datas comemorativas, mesmo elas sendo comerciais, para estipular os momentos que a criança poderá fazer seus pedidos de presentes, sempre explicando se há ou não a possibilidade financeira para tanto, bem como o que aquela data significa.
- Adotar um cofrinho em que a própria criança administra os ganhos (com presentes ou mesada) e os gastos.
- E, por último, mas não menos importante: nunca subestimar a capacidade de entendimento das crianças.
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