Ex-funcionária do Google nos EUA relata discriminação durante gravidez
A ex-funcionária do Google dos Estados Unidos Chelsey Glasson levou a empresa à Justiça depois se sofrer discriminação de gênero e uma série de retaliações profissionais por estar grávida.
No ano passado, depois de seis anos na companhia, ela decidiu não voltar da licença-maternidade após presenciar durante "mais de um ano" episódios de machismo em relação a colegas grávidas e, posteriormente, a si própria durante a gestação.
Ela trabalhava como pesquisadora de experiência do usuário e, quando decidiu que não voltaria ao cargo após o nascimento da filha, em agosto de 2019, publicou um desabafo na rede interna da empresa. Segundo disse ao The Lily, o texto foi visto por mais de 11 mil pessoas e acabou sendo vazado para a imprensa — foi quando o Google ofereceu a Chelsey um acordo de demissão de US$ 30 mil (cerca de R$ 135 mil).
Na semana passada, ela registrou uma denúncia na Comissão de Igualdade de Oportunidades de Emprego e na Comissão de Direitos Humanos do Estado de Washington — os dois órgãos agora investigam o Google por violar a Lei dos Direitos Civis de 1964.
Na última terça-feira (25), porém, Glasson se ofereceu para retirar a queixa se o Google mudasse sua cultura e passasse a dar treinamento sobre licença-maternidade e licença-paternidade, mostrando que está disposto a apoiar funcionários que têm filhos.
"Estou tentando dar ao Google a chance de fazer a coisa certa", disse a mãe, de 37 anos.
Se o Google não aceitar a proposta, no entanto, Chelsey afirmou que considera processar a gigante da tecnologia — mas garante que prefere não seguir por este caminho.
Sonho
Chelsey disse ao The Lily que trabalhar no Google era mais que um objetivo profissional, era um sonho.
"Isso não é saudável, mas o Google era minha identidade", lembra. "Todos os meus amigos estavam no Google, passei mais tempo na empresa do que com as pessoas da minha vida fora dela. Eu tinha a intenção de continuar lá por muitos anos.
Durante os primeiros seis anos de empresa, Glasson recebeu uma série de avaliações positivas e chegou a ser rankeada pela companhia como "excelente" — espécie de nota que apenas cerca de 2% dos funcionários recebe, segundo o The Lily. Em 2017, ela recebeu um feedback dizendo que ela tinha "potencial consistente" para receber uma promoção em breve.
Em 2018, sua superior começou a fazer comentários "inadequados" sobre uma de suas subordinadas que estava grávida, como, por exemplo, que seria "excessivamente difícil de trabalhar com ela durante a gestação".
Chelsey entendeu que estava sendo encorajada a demitir a mulher durante a gravidez e levou o caso ao RH. Depois do episódio, a relação com a supervisora tornou-se "tóxica" e ela percebeu que seus projetos começaram a ser vetados.
A ex-pesquisadora foi transferida de equipe algumas vezes e acabou assumindo um cargo inferior contra sua vontade. Quando anunciou que estava grávida, Glasson recebeu a primeira avaliação de desempenho negativa de sua carreira no Google.
Atualmente, ela trabalha no Facebook e levanta fundos via vaquinha virtual para pagar pelos custos legais do processo contra o Google.
"Não fiz nada errado e as consequências para mim são enormes. Estou pagando dezenas de milhares de dólares em honorários legais, sou pária no Google e perdi muitas amizades. Tudo isso está acontecendo em um momento da minha vida em que o que preciso é de apoio para ser mãe de duas crianças pequenas", lamentou.
Atualmente, o Google enfrente processos por demitir funcionários que tentaram se organizar para reivindicar melhores condições de trabalho e também por discriminar empregados por conta da idade — neste segundo caso, a empresa fechou um acordo de US$ 11 milhões (quase R$ 50 milhões).
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