Topo

Ex-executiva apresenta Cine Privê: "Falar de sexo na TV me deu autoestima"

Krishna Mahon, ex-executiva que apresenta Cine Privé na Band - Divulgação Band
Krishna Mahon, ex-executiva que apresenta Cine Privé na Band Imagem: Divulgação Band

Ricky Hiraoka

Colaboração para Universa

01/03/2020 04h00

Acostumada a ver mulheres voluptuosas, produzidas para encarnarem padrões irreais de beleza e sensualidade, a audiência masculina do "Cine Privê", da Band, provavelmente levou um susto nas primeiras horas da manhã de 1º de setembro do ano passado. Na telinha, surgiu um rosto, emoldurado por cabelos grisalhos, que em nada lembra o estereótipo da gostosona dos filmes eróticos.

A estranha no ninho, ou melhor, no nicho erótico é Krishna Mahon, que apresenta a tradicional sessão de filmes de sacanagem que a Band leva ao ar na madrugada de sábado para domingo responsável por (des)educar sexualmente gerações de homens. Ela está também à frente do programete "Rapidinha", que aborda sem pudor assuntos sexuais variados e vai ao ar no canal pago Sex Privê.

Krishna é uma ex-executiva de 46 anos que ocupou altos cargos em canais fechados e em grandes produtoras independentes — e que abandonou a bem-sucedida carreira de 28 anos nos bastidores da TV para se reinventar como apresentadora. "Eu trabalhava bem, dava audiência, ganhava prêmio, mas chegava a ficar mais de 12 horas todos os dias no escritório", relembra ela, que tem no currículo indicações ao Emmy Internacional.

"Era uma pressão gigantesca. Vivi situações de colegas puxarem meu tapete, estava ficando doente. Pedi demissão sem a mínima ideia do que fazer no futuro, mas, certamente, não imaginava que fosse virar apresentadora e falar de sexo na TV."

Convite a pegou de surpresa

O convite para brilhar em frente às câmeras surgiu por acaso. Ao ser contratada para prestar uma consultoria para os canais pagos do Grupo Bandeirantes, Krishna se espantou com o fato de o canal Sex Privê não faturar na mesma proporção em que dava audiência.

"De brincadeira, sugeri que produzíssemos um conteúdo informativo e curioso sobre sexo para atrair mais anunciantes, e propuseram que eu apresentasse. Topei e assim nasceu o 'Rapidinha'", conta. Empolgada com o novo desafio, Krishna encerrou o serviço de consultoria para focar na carreira de apresentadora.

Os primeiros vídeos da ex-executiva circularam por outros setores da Band e a emissora, que planejava reestrear o "Cine Privê", fora do ar fazia sete anos, a convocou para comandar a volta da sessão de filmes à grade de programação.

"Menos punheta e mais ação"

"Meu objetivo com essas atrações é fazer com que as pessoas parem de bater punheta e partam mais para ação, que explorem mais a própria sexualidade e não tenham vergonha de ousar", afirma. "Sempre conto que tenho uma tia-avó que só descobriu as delícias do sexo quando ficou viúva quase aos 80 anos. Até transar após fumar maconha ela experimentou."

A nova função de Krishna causou reações distintas. O marido e os familiares apoiaram a empreitada. "Minha avó só perguntou se eu teria que pintar meu cabelo branco para aparecer mais nova na TV", conta.

Já os ex-colegas de profissão se mostraram reticentes. "Fui julgada pelos meus pares, que vieram me falar que todo mundo estava rindo de mim pelas costas, diziam que eu estava jogando minha credibilidade por água abaixo", relata. "Sei a carreira que construí e não preciso do julgamento alheio para me validar. O que me chocou foi perceber que mulheres empoderadas do audiovisual não têm poder sobre o próprio corpo, não se conhecem, não se masturbam. Isso me assustou."

Outra diferença da exposição televisiva na vida de Krishna foi o assédio virtual. De garoto a senhores de 70 anos, ela recebe nudes e cantadas diariamente. "Tento educar esses homens e incentivá-los a mostrar a admiração por alguém sem exibir seus pintos por aí. Explico que mulher não necessariamente gosta de imagens eróticas sem um contexto de afeto", conta.

"Apesar disso, estou adorando ser grisalha, enrugada e, mesmo assim, ser paquerada. Sempre me achei feia, e sei que não faço o tipo de ninguém. Falar de sexo a TV me fez encontrar minha autoestima."