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Mulher muda lei ao descobrir gravidez de risco após prazo para aborto legal

Após descobrir gravidez de risco aos 8 meses, americana teve de buscar aborto legal em outro estado - Getty Images
Após descobrir gravidez de risco aos 8 meses, americana teve de buscar aborto legal em outro estado Imagem: Getty Images

De Universa, em São Paulo

04/03/2020 17h27

Com oito meses de gravidez, a americana Erika Christensen foi informada de que seu bebê sofria de malformação e não sobreviveria fora do útero. Recomendada por médicos a interromper a gestação, ao buscar um aborto legal, descobriu que o tempo limite para o estado de Nova York, onde vivia, era de 24 semanas de gestação: ela já havia passado de 30.

"Não recebemos a informação (de que o bebê não sobreviveria) até vermos que havíamos ultrapassado um prazo que não sabíamos que existia", disse ela à revista People.

Erika já havia sofrido um aborto espontâneo uma vez, com dez semanas de gestação. Ao engravidar novamente, contou ter enfrentado o primeiro trimestre da gravidez sem nenhum problema. No entanto, os exames seguintes foram apontando resultados estranhos: o bebê havia parado de crescer, não abria as mãos, os pés pareciam tortos, o feto pouco se movia e parecia não estar recebendo muito oxigênio.

Já no terceiro trimestre, com 30 semanas de gestação, ou seja, na reta final da gravidez, ela foi informada que a criança não teria capacidade de respirar fora do útero. Erika já havia procurado ortopedistas para lidar com os pés tortos e possíveis problemas de malformação nas mãos do bebê, mas até então nunca tinha pensado em interromper a gestação.

"Naquele momento não havia nenhuma boa opção para mim. Mesmo com todos os dados e exames ao longo de oito meses, tentamos tomar uma decisão com a qual pudessemos viver. Não queríamos o sofrimento do nosso bebê e também queria manter meus valores", contou ela à revista.

O plano original consistia em agendar uma cesariana que seria invasiva e com muitos riscos. A gravidez, então, também era considerada perigosa para a mãe, que já havia sido submetida a uma cirurgia no cérebro pouco antes: "Eu não queria uma cesária para um bebê que não ia sobreviver."

No estado de Nova York, onde ela vive, o aborto após 24 semanas era considerado ilegal, exceção apenas para casos em que houvesse risco iminente de morte para a mãe. "No meu caso, significava que eu precisava estar morrendo na mesa de cirurgia para conseguir um aborto após 24 semanas", disse.

Erika descobriu que, no estado do Colorado, conseguiria interromper a gravidez legalmente após 24 semanas, mas ao alto custo de 10 mil dólares (cerca de R$ 45 mil). Como não tinha dinheiro o suficiente, recebeu ajuda de sua mãe, que usou parte dos recursos guardados para a aposentadoria.

Como Erika não seria atendida em um hospital, e sim em uma clínica, os médicos a recomendaram retornar a Nova York para passar pelo parto em um hospital. Ela viajou até o Colorado, tomou uma injeção que a induziu ao procedimento do parto, e retornou a Nova York para dar à luz em um hospital: tudo isso em 36 horas.

"Antes de toda essa história, se me perguntassem, eu diria que as restrições de tempo em relação ao aborto eram necessárias. Para mim pareciam corretas", disse. "Mas eu era ignorante no assunto. Não imaginava que pessoas realmente precisariam de um aborto após 24 semanas. Depois de tudo o que passei, o que antes via como razoável, agora vejo como discriminação, porque muita gente não pode arcar com os custos de um aborto após esse período."

Após toda a situação, ela e o marido brigaram pela mudança da lei no estado. Em 2019, conseguiram alterar a lei, acrescentando exceções ao limite de 24 semanas para o aborto legal.

Erika também conseguiu passar por uma gravidez sem riscos e hoje é mãe de uma menina de dois anos.