Drauzio sobre reação a abraço em presa trans: 'Como se fosse inusitado'
O Dr. Drauzio Varella falou sobre a repercussão de sua matéria, no Fantástico do último domingo, com detentas transgêneras e travestis em presídios de todo o Brasil. Ele disse que ficou "espantado" com as reações, especialmente ao momento em que ele abraça a presa Suzy.
"Isso teve uma repercussão, depois, absurda, como se fosse uma coisa inusitada você abraçar outro ser humano como você. Muito estranho isso. Confesso que fiquei até um pouco assustado com a reação tão imediata", confessou ele em vídeo no Facebook do programa da Globo.
Drauzio ainda falou sobre o que motivou o abraço. "O que me chamou a atenção foi a solidão que ela vivia lá. Naquele momento os olhos dela mostraram uma tristeza tão funda que me emocionou", disse.
"Fiquei imaginando: uma pessoa como essa, que deve ter sofrido problemas a vida inteira, bullying, agressões... Ela vai parar na cadeira porque cometeu um crime, evidentemente, mas ficar sete, oito anos sem ter uma pessoa que se lembre de você, que mande uma carta, vá te visitar?", continuou.
"O olhar dela tinha essa tristeza muito clara, e na hora eu fiquei comovido, não soube o que fazer, não soube como reagir. Aí, espontaneamente, dei um abraço nela. Não me dei nem conta do que eu estava fazendo, na hora nem pensei no gesto, foi um impulso", explicou ainda.
Drauzio refletiu que a repercussão pode ter acontecido por causa do momento que vive o Brasil, que ele definiu como "de violência generalizada".
"Não falo só de violência urbana, essa que a gente enfrenta nas ruas, como violência verbal. A internet que dissemina esses haters, as pessoas que se odeiam e xingam os outros. É um momento triste da realidade nacional", cravou.
O médico comemorou a recepção positiva à reportagem, confessando que teve reservas quanto a colocá-la no ar: "Eu achei que discutir esse assunto, um assunto delicado, que muitas pessoas têm preconceito, pudesse causar um ruído. Na verdade, ao contrário, a repercussão parece que foi muito positiva".
Trabalho nas cadeias
Drauzio também falou sobre o seu trabalho nas cadeias brasileiras, contando como visitou o Carandiru em 1989 para fazer um vídeo sobre AIDS. "Eu senti que precisava fazer alguma coisa. Eu era médico já, tinha sucesso na profissão, podia dedicar um dia da minha semana ali", disse.
"Depois, quando a cadeia do Carandiru foi destruída, eu já não queria mais parar com esse tipo de trabalho", explicou ainda. "Em 2006 eu fui para a cadeia feminina, e fiquei atendendo as presas, de início temporariamente, mas acabei ficando lá até hoje".
"Eu tenho esse longo convívio com o sistema penitenciário de São Paulo. Nesse período todo eu sempre fui muito sensível à situação das travestis e das mulheres trans nas cadeias. Aí a gente fez essa matéria, achei que seria algo legal mostrar a realidade delas na televisão", completou.
Após a exibição da matéria de Drauzio, surgiram diversas iniciativas na internet para ajudar as mulheres trans retratadas por ele. Enquanto a web ainda está procurando uma das personagens da reportagem, uma vaquinha para ajudar Suzy já atingiu mais de R$ 2.500 em arrecadações.
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