"Só quero enterrar a minha filha", desabafa mãe de brasileira morta nos EUA
Quando falou com a filha pela última vez, em 29 de janeiro, a dona de casa Delma Félix, de 50 anos, sentiu por telefone que algo não estava bem. Ana Paula Braga, 24, demonstrou medo pelos dois hóspedes brasileiros que abrigava na casa onde morava, em Los Angeles, nos Estados Unidos.
Depois dessa conversa, Delma viveu dias de angústia sem notícias da filha, que não retornava as ligações. Em meados de fevereiro, a notícia que a dona de casa mais temia chegou: Ana Paula estava morta. Os suspeitos do crime — os tais dois brasileiros que a filha recebera em casa — enviaram vídeos para o celular de Delma. Neles, a dupla não apenas confessava o assassinato, mas ainda zombava dele.
O homicídio foi confessado por Thiago Philipe Souza Bragança e Wanderson Júnior Dalbem Silva, presos no Brasil desde 22 de fevereiro após uma ação das polícias Federal e Civil do Espírito Santo.
Delma conta que a prisão da dupla não amenizou sua dor. O que a mãe quer, agora, é encontrar o corpo de Ana Paula, que teria sido deixado em uma lixeira na cidade de Desert Hot Springs, também na Califórnia, segundo a polícia norte-americana.
"Só quero enterrar a minha filha. Esses dias estão muito sofridos, estou muito triste, não tem explicação um crime tão bárbaro. Eles debocharam depois de matá-la. Ver o sangue da minha filha no chão da casa dela foi algo muito desesperador. Quando vi as imagens, nem pensei ser trote porque meu coração já me dizia que algo de ruim acontecia", diz Delma a Universa.
Mãe pede extradição, Constituição não permite
A mãe ainda teme que a justiça pela morte da filha demore a chegar no Brasil. Ela acredita que, se os dois fossem julgados nos Estados Unidos, o processo seria mais rápido e a pena, mais dura. Na Califórnia — onde os crimes ocorreram — existe prisão perpétua, por exemplo.
A Constituição Federal do Brasil, no entanto, não permite extradição de cidadão nato que cometeu crime no exterior. O processo passa a ser apreciado pela Justiça do estado brasileiro onde o criminoso for preso.
"Desejo é que exista justiça. No meu caso, deportando esses caras para serem julgados nos Estados Unidos, porque a gente sabe que aqui o negócio é lento — tanto que acaba virando refúgio de bandido", afirma a dona de casa.
"Meu coração dizia que ela estava morta"
Delma e Ana Paula se falavam todos os dias. A jovem costumava ligar por volta de 13h do Brasil. No dia 30 de janeiro, a dona de casa não recebeu a ligação no horário de hábito. A filha também estava sem a foto de perfil no WhatsApp e as mensagens enviadas pela mãe não foram respondidas.
A dona de casa lembra ter entrado em desespero porque, no dia anterior, Ana Paula disse que ouvira uma conversa entre os dois suspeitos que abrigava em casa. Eles teriam relatado um suposto crime que cometeram no Brasil.
"Ela falou: 'Mãe, estou com medo desses caras'. Eu sugeri que ela falasse para eles irem embora porque eu chegaria para morar lá", recorda Delma que, de fato, planejava residir com a filha nos Estados Unidos a partir de julho.
Sem contato com a filha, Delma afirma que pressentiu uma tragédia. "Três dias depois, meu coração de mãe já me dizia que ela estava morta, porque nunca ficou sem ligar", lamenta.
Em um dos vídeos que recebeu depois dos acusados pelo crime, os dois confessam em tom de desprezo ter matado a filha dela e ficado com o celular. Em outro, aparecem em um hotel e falam que iriam tomar uma cerveja.
Ana Paula ajudava brasileiros
A jovem morava nos Estados Unidos fazia cinco anos. Mineira de Mateus Leme, região metropolitana de Belo Horizonte, se relacionou com um norte-americano no Brasil, com quem teve um filho, e decidiu mudar de país após o nascimento da criança. O relacionamento, contudo, não durou muito tempo e o casal separou-se menos de um ano depois.
Após o divórcio, Delma conta que a filha passou por dificuldades, chegando a morar na rua por dois meses. Com serviços de maquiagem e ajuda de outros brasileiros, a jovem conseguiu se reerguer. Antes de morrer, ela também atuava como motorista de aplicativo.
Delma acredita que a ajuda recebida nos Estados Unidos fez a filha auxiliar outros brasileiros que decidiam buscar o país para mudar de vida. A dupla que confessou o crime entrou em contato com Ana Paula e pediu abrigo com a justificativa de que também tentaria emprego em terras norte-americanas.
"Um deles conheceu a minha filha pela internet e pediu para ficar alguns dias na casa dela. Ela tinha dó de brasileiro porque, quando separou do marido nos EUA, chegou a ficar dois meses morando na rua até receber ajuda. Eu nunca vi esses caras, apenas pela TV, quando foram presos. Se ficasse frente a frente com eles, queria saber só o motivo de terem matado minha filha, pois ela deu abrigo e comida", afirma Delma, que mudou de cidade depois da morte de Ana Paula para morar com parentes enquanto se recupera.
O crime
De acordo com as polícias Federal e Civil do Espírito Santo, o crime foi cometido em 30 de janeiro por Thiago Philipe Souza Bragança e Wanderson Júnior Dalbem Silva. Eles teriam asfixiado e matado a mineira Ana Paula e depois enrolado o corpo dela em um edredom. Segundo as polícias, a dupla levou o cadáver no porta-malas do carro da vítima e seguiu até Desert Hot Spring. Lá, ela foi deixada em uma lixeira.
Thiago e Wanderson ainda seguiram no carro da vítima até Oklahoma City, em Oklahoma, onde abandonaram o veículo. Em seguida, viajaram até o Texas, cruzando a fronteira de ônibus até a Cidade do México. Eles chegaram ao Brasil, em 7 de fevereiro, no Rio de Janeiro. De lá, partiram para o Espírito Santo.
Em 11 de fevereiro, Thiago pediu dinheiro a parentes e revelou que matou Ana Paula nos Estados Unidos. Os familiares informaram o crime à Polícia Militar, que repassou os dados à Polícia Federal. Em contato com autoridades norte-americanas, o assassinato foi confirmado.
Ambos estão presos desde 22 de fevereiro. Eles estavam em Cariacica, região metropolitana de Vitória. O caso é apurado pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa, da Polícia Civil capixaba, e pela Polícia Federal, que atuará no compartilhamento das provas colhidas pelas autoridades norte-americanas.
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